As concepções da Extensão Popular abarcam uma prática social profundamente comprometida com a emancipação das comunidades, e a promoção da justiça social e política, na perspectiva das populações em situação de vulnerabilidade e exclusão. Dentro dessa perspectiva, o projeto de Extensão "Práticas de Educação Popular integradas à pesquisa e à construção de territórios saudáveis e sustentáveis", em parceria com o Grupo de Pesquisa em Extensão Popular (EXTELAR) e o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão em Economia Solidária e Educação Popular (NUPLAR), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), tem se dedicado ao desenvolvimento de iniciativas que fomentem a construção de espaços de escuta, acolhida e diálogo, dentro do escopo da Educação Popular (EP). Com o propósito de fortalecer o apoio ao desenvolvimento de territórios saudáveis e promotores do bem viver, busca-se envolver e engajar variados atores e protagonistas locais em processos formativos na perspectiva da EP, potencializando seu envolvimento ativo e propositivo na atenção e no cuidado em saúde, além de promover os valores de sustentabilidade, liberdade e empoderamento das comunidades locais. Nesse contexto, este trabalho visa descrever a experiência de uma das atividades desenvolvidas pelo projeto, qual seja a promoção dos cursos de “Movimentos Populares e Práticas Sociais na construção da emancipação humana: conhecimentos, ideias e práticas”, organizados pelo EXTELAR, de forma remota, em três edições - 2020, 2022 e 2023, respectivamente - com o intuito de socializar o saber a partir de experiências, conhecimentos e práticas das iniciativas de base popular e comunitária, e possibilitar um maior reconhecimento de seus processos e concepções, à luz da EP, mediante a mobilização de trabalhos colaborativos, centrados no diálogo e direcionados para a emancipação nos territórios. Os cursos têm como propósito aprofundar a riqueza pedagógica e os saberes inerentes aos movimentos sociais e as práticas populares, não apenas estimulando, mas também fomentando transformações nos contextos em que os participantes estão engajados, estimulando, assim, a aplicação edificante do conhecimento e a ampliação do protagonismo dos envolvidos em suas comunidades, incentivando a colaboração e a atuação ativa nos seus respectivos territórios através da EP. O curso foi metodologicamente estruturado em dez encontros, realizados em periodicidade semanal para garantir uma imersão gradual e profunda nos temas abordados. A organização de cada aula se estruturou em quatro momentos distintos, cuidadosamente planejados para oferecer uma experiência enriquecedora aos participantes. Inicialmente, era proporcionado um espaço de acolhimento, no qual os participantes eram recebidos com músicas populares e convidados a compartilhar e interagir com os demais participantes. Essa etapa visava a imersão dos participantes, bem como a construção de um ambiente de confiança, essencial para a construção compartilhada do conhecimento. Em seguida, promovia-se uma vivência artístico-cultural, com propósito reflexivo, coordenada por um dos participantes em sistema de revezamento, garantindo a diversidade de expressões e perspectivas. Por meio de músicas, poemas, danças e encenações, os participantes eram convidados a explorar e expressar suas próprias interpretações e reflexões críticas sobre os tópicos abordados no curso. Esse espaço não apenas incentivava a criatividade e a expressão, mas também permitia o protagonismo dos sujeitos, promovendo uma participação ativa e engajada no processo de aprendizado. Ao provocar pensamentos profundos e reflexões críticas, essas vivências contribuíram significativamente para a compreensão e assimilação dos conteúdos apresentados durante o curso. Após, um convidado, integrante de movimentos sociais populares ou protagonista de alguma prática comunitária, com atuação em EP, realizava uma contribuição discursiva, elucidando conhecimentos provenientes de sua vivência e experiência teórico-prática dentro dos movimentos. Esta contribuição abordava temas como sua identificação pessoal, seu contexto de fala, a perspectiva histórica do movimento, os desafios percebidos, as lutas travadas e as projeções para o futuro diante da conjuntura vivenciada. Este momento tinha uma duração aproximada de 30 minutos. Posteriormente, era concedido tempo para discussões entre os cursistas, incentivando a partilha de suas inquietações, percepções, dúvidas e aprendizados sobre o tema abordado. Essa prática tinha como objetivo fomentar um debate horizontal e facilitar a construção colaborativa do conhecimento. O primeiro curso foi concebido no segundo semestre de 2020, realizado de setembro a dezembro; o segundo, de abril a julho de 2022, e o terceiro foi de abril a junho de 2023. Os cursos contaram com a participação de atores de diversos movimentos e práticas, tais quais: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST); Movimento LGBTQIAP+, especialmente o Movimento do Espírito Lilás (MEL); Movimento Indígena; Movimento Negro; Movimento de Capoeira; Movimento de Marisqueiras; Movimento comunitário de fitoterapia; Grito dos Excluídos; Levante Popular da Juventude; Memorial das Ligas Camponesas da Paraíba; Articulação do Semi-Árido Brasileiro e o Polo da Borborema-PB. Embora, o enfoque do curso seja a discussão acerca das vivências nos movimentos e práticas sociais, seu conteúdo também contemplou a realização de aulas teóricas, com a apresentação de conceitos e explanações específicas da EP, e a mediação e promoção de debate a partir disso, de forma que, cursistas eram incentivados a leitura de materiais relacionados ao tema. Dentre as temáticas abordadas, evidenciam-se: EP, a construção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis, bem como, a memória e a história de alguns protagonistas e educadores populares paraibanos. Em todas as edições, foi registrado um total de 899 participantes inscritos, predominantemente originários das regiões Nordeste e Sudeste do país. Ao longo do desenvolvimento das edições, contamos com representantes dos 26 Estados brasileiros e do Distrito Federal, além da presença de participantes de outras nações. Devido a variedade de movimentos, experiências regionais e nacionais, assim como diferentes formações acadêmicas e populares, o curso proporcionou uma formação plural e crítica tanto para os organizadores quanto para os participantes, promovendo debates sobre conhecimentos científicos e experiências práticas dos movimentos sociais. O curso possibilitou o fomento de discussões sobre conhecimentos científicos e práticas vivenciadas pelos movimentos sociais, configurando-se como um ambiente para o intercâmbio de saberes. Especial destaque foi dado aos relatos de experiência e aos desafios enfrentados pelos movimentos em suas atividades diárias, visando à promoção da cidadania ativa e à humanização em suas áreas de atuação. Para os discentes extensionistas, é um ambiente que oportuniza o desenvolvimento apurado de formação crítico-social, visto que sua organização oportuniza o desenvolvimento de habilidades de mediação e a aplicação dos princípios como escuta ativa e humanização. O curso tem se mostrado uma estratégia potente de formação, destacando os saberes, práticas e processos educativos dos movimentos sociais populares como elementos fundamentais para o ensino e aprendizado em Educação Popular. Essa abordagem subsidia a construção de práticas educativas emancipadoras, especialmente aquelas voltadas para o desenvolvimento de comunidades saudáveis e sustentáveis.