As mil e uma formas de discriminação racial: Experiências de pessoas pretas e pardas

  • Author
  • Eliany Nazaré Oliveira
  • Co-authors
  • SABRINA DA SILVA FRANÇA , EMÍLIA DO NASCIMENTO SILVA , GLEISSON FERREIRA LIMA , Tágila Farias Aragão Canuto , Pedro Lucas Alves , Maria Socorro Carneiro Linhares , Marcos Pires Campos , Patrícia Silva Pereira
  • Abstract
  • INTRODUÇÃO: A escravidão de pessoas pretas e pardas em terras brasileiras teve seu fim decretado oficialmente em 1888, porém, ainda hoje, principalmente os pretos sofrem constantemente com os efeitos do preconceito racial, fruto de um fenômeno denominado como racismo. O racismo deve ser reconhecido como o grande responsável pelo cenário de exclusão ao qual pretos e pardos ainda sofrem no país. Além disso, a discriminação racial configura-se como um dos maiores eventos estressores do cotidiano da população negra, esse contexto desencadeia sintomas psicológicos e gera sofrimento mental. A discriminação racial é um dos principais fatores que contribuem para a saúde mental negativa de indivíduos pertencentes a minorias étnicas. A exposição contínua a diferentes formas de discriminação, como racismo institucional, microagressões e preconceitos, pode levar a sentimentos de isolamento, baixa autoestima, ansiedade, depressão e estresse crônico. Este fenômeno também pode influenciar negativamente o acesso a serviços de saúde mental adequados, devido a barreiras socioeconômicas, linguísticas e culturais. Além disso, a internalização de estereótipos prejudiciais pode afetar a autoimagem e a autoestima dos indivíduos, levando a problemas de autoaceitação e autoconfiança. Portanto, a relação entre discriminação racial e saúde mental é complexa e multifacetada, evidenciando a importância de abordar questões de equidade e justiça social para promover o bem-estar psicológico de todas as pessoas, independentemente da sua origem étnica. Dessa forma, aponta-se a importância da realização deste estudo como um passo no enfrentamento do processo de discriminação racial, e justifica-se pela necessidade de maior produção científica acerca desses assuntos, com o objetivo de auxiliar a compreensão e intervenção do problema aqui apresentado. OBJETIVO: Analisar as experiências de discriminação racial sofridas por pessoas pretas e pardas. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo exploratório descritivo transversal com abordagem quantitativa e qualitativa. Recorte de pesquisa mais ampla intitulada: “Experiências de Discriminação Sofridas por Negros”, realizada de setembro a novembro de 2021, com amostra de 205 participantes com idade acima de 18 anos que se autodeclaram pretos ou pardos. A coleta de dados ocorreu durante a pandemia de COVID-19. O instrumento foi organizado e disponibilizado pelo Google Forms, e foi composto por 3 etapas:  1) informações sociodemográficas; 2) Escala de Experiências de Discriminação e 3) uma questão aberta sobre saúde mental: Como estas experiencias de discriminação racial podem afetar sua saúde mental? Em relação a Escala de Experiências de Discriminação, esta foi validada para a utilização no Brasil por Fattore et al. (2016).  A escala é dividida em 05 itens: resposta a tratamento injusto; discriminação; preocupação com questões globais e queixa apresentada. Os participantes, foram pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. Assim, considera-se “o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretos e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para este recorte, realizou-se análises sobre tratamento injusto, situações/locais e quantidade de experiências de discriminação vivenciadas pelos participantes, além disso, também foram analisados os relatos dos participantes diante o questionamento: “Como estas experiências podem afetar sua saúde mental?”, pergunta esta que estava inserida na terceira faceta do instrumento. A análise dos dados quantitativos foi feita através dos testes de Qui-quadrado e/ou de razão de verossimilhança, já os dados qualitativos foram analisados de acordo com a codificação de Flick (2009). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual Vale do Acaraú com o Parecer n° 4.831.239. RESULTADOS: Destacaram-se, como maioria, participantes do sexo feminino, 71,4% (n=145); com faixa etária entre 20 e 25 anos, 59% (n=118). Com relação ao tratamento injusto voltado à discriminação racial, 12,7% (n=26) dos participantes assinalaram aceitar o fato, enquanto 87,3% (n=178) tentam fazer alguma coisa. Em relação aos locais onde a discriminação racial aconteceu, e 41,8% (n=84) dos participantes já sofreram entre 4 ou mais experiências de discriminação racial na escola. Em estabelecimento público 43,0% (n= 86), restaurante 33,7% (n=67). Em relação aos aspectos qualitativos a partir dos relatos dos participantes, emergiram 4 categorias que explicam como a discriminação racial repercute na saúde mental, sendo estas: Impactos da autoestima, Sentimento de Inferioridade, Desenvolvimento de Traumas/Medos e Surgimento de Ansiedade e Depressão. Em síntese, as categorias apresentam que a discriminação racial aflora a baixa autoestima, causa distorção de imagem, os participantes relatam sentirem-se indignos, incapazes, impotentes e desvalorizados, além de potencializarem sensações como, de perseguição, pavor e receio de ser tratado injustamente, podendo também desencadear ansiedade e depressão. A discriminação racial tem um impacto significativo na saúde mental das pessoas que a sofrem. A exposição à discriminação pode causar estresse crônico, ansiedade, depressão, baixa autoestima e até mesmo transtorno de estresse pós-traumático. Além disso, pessoas que sofrem discriminação racial podem desenvolver sentimentos de isolamento, desesperança e desamparo. Este fenômeno também pode levar ao desenvolvimento de comportamentos prejudiciais à saúde, como o uso de substâncias químicas, alimentação inadequada e falta de atividade física. Isso pode aumentar o risco de desenvolvimento de doenças mentais e físicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. CONCLUSÃO: Evidenciou-se que os participantes constantemente sofrem com experiências de discriminação racial em diversos espaços e estas vivências negativas impactam significativamente na saúde mental, afetando as relações sociais das pessoas pretas e pardas. Ressalta-se a importância de se reconhecer e combater a discriminação racial em todas as suas formas, especialmente no ambiente escolar, onde os jovens estão em desenvolvimento. A pesquisa mostra claramente como a discriminação racial pode ter impactos devastadores na saúde mental dos indivíduos, afetando sua autoestima, gerando sentimentos de inferioridade, desenvolvendo traumas e medos, e até mesmo desencadeando quadros de ansiedade e depressão. É fundamental promover a educação e a conscientização sobre a diversidade e a igualdade racial, bem como implementar políticas e práticas que combatam ativamente a discriminação. Os resultados destacam a necessidade de se criar um ambiente escolar inclusivo e seguro, onde todos os alunos se sintam valorizados e respeitados, independentemente de sua origem étnico-racial. Além disso, é importante oferecer apoio psicológico e emocional adequado para aqueles que sofrem com os impactos da discriminação racial em sua saúde mental. A busca por equidade e justiça racial é fundamental para garantir a dignidade e o bem-estar de todos os indivíduos, promovendo uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Para lidar com esses desafios, é importante promover a conscientização sobre a saúde mental e a discriminação racial, buscar intervenções culturalmente sensíveis, criar políticas que abordem a desigualdade estrutural e garantir o acesso equitativo a serviços de saúde mental para todas as comunidades.

     

     

     

  • Keywords
  • Discriminação Racial, Racismo Cotidiano, Saúde Mental, População Negra
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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