O presente trabalho se propõe a compartilhar os resultados obtidos em uma pesquisa de mestrado realizada entre os anos de 2022 e 2023 em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Fortaleza-CE. Tal investigação se constituiu como uma pesquisa-intervenção cartográfica, com proposições da análise institucional francesa. Vinculou-se a um projeto maior do Programa Pasárgada - Promoção de Arte, Saúde e Garantia de Direitos, ancorado ao Departamento de Psicologia e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Seu objetivo geral foi o de investigar as possibilidades do cuidado com arte na atenção psicossocial em tempos de crise da reforma psiquiátrica. Ela parte de incômodos com o cenário experienciado nos últimos anos de intensificação do neoliberalismo em território brasileiro, que tem como uma de suas expressões o fortalecimento da manicomialização na atenção pública à saúde mental, o que torna necessário refletir sobre os desafios, mas principalmente os horizontes possíveis do trabalho com arte nesse panorama. Seus objetivos específicos foram: a) discutir sobre a crise da reforma psiquiátrica e seus efeitos no trabalho em saúde mental, em especial no cuidado pela arte; b) cartografar práticas atuais de cuidado com arte em um CAPS da cidade de Fortaleza/CE; c) refletir sobre os efeitos do cuidado com arte na produção de saúde e de modos de existência neste contexto, a partir da perspectiva de usuários e profissionais do serviço. O estudo envolveu uma variedade de dispositivos em articulação, como entrevistas semiestruturadas, atividades de sala de espera, roda de conversa, momentos de restituição com os participantes e acompanhamento de atividades artísticas do serviço, com uso da observação participante e de diários de campo. O exercício analítico, amparado na análise de implicação e na interseccionalidade, consistiu em visibilizar as linhas de força que atravessam as práticas de cuidado com arte no serviço escolhido na cena contemporânea da atenção psicossocial fortalezense. A discussão estabeleceu diálogos entre a esquizoanálise, a análise institucional, os princípios da reforma psiquiátrica e contribuições de autores perfilados aos estudos decoloniais. Como resultados, a pesquisa evidenciou, junto aos participantes, forças de distintas naturezas que afetam o cuidar através da arte, como escassez de recursos materiais e financeiros, carência de iniciativas públicas voltadas para dispositivos artísticos, desinvestimento no coletivo e falta de conhecimento a respeito das potencialidades da arte para a produção de saúde. Por outro lado, destacou que a arte pode produzir e fortalecer elementos que gerem o cuidado psicossocial, rastreando pelo menos três de suas possibilidades no contexto proposto: a) como dispositivo que impulsiona a potência de agir dos trabalhadores da saúde mental; b) como estratégia potencializadora de encontros; c) como agenciadora de uma dimensão inventiva do trabalho em saúde mental. Conclui-se defendendo o investimento na produção de conhecimento e estratégias que fortaleçam o cuidado pela arte na esfera da atenção psicossocial, visando fortalecer modos de resistência e atualizar suas possibilidades diante dos desafios vivenciados na atualidade. Agradecimentos à CAPES pelo financiamento concecido para a realização da pesquisa.
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