Introdução: A síndrome pós-COVID-19 (SPC) é considerada um conjunto de sinais e sintomas que surgem durante ou após uma infecção aguda, persistindo por mais de 12 semanas após o início da infecção por SARS-CoV-2. O indivíduo pode apresentar alguns sintomas prolongados mais expressivos, como dispneia, tosse e fraqueza muscular, entre outros, e o impacto da doença no processo neuromuscular pode contribuir para um distúrbio da deglutição. Cerca de um terço dos indivíduos internados por COVID-19 apresentaram sinais de disfagia orofaríngea segundo a literatura. Dentre os fatores de risco para alterações da deglutição destacam-se a idade, as condições neurológicas e respiratórias crônicas, a existência de intubação orotraqueal, traqueostomia e/ou ventilação invasiva, associadas à internação prolongada, assim como a presença de comprometimento cognitivo e fraqueza muscular. Foram observadas alterações sensoriais em indivíduos pós COVID-19, e em 50% dos indivíduos adultos foi relatada alteração no olfato após sete semanas do início da infecção. Objetivo: Investigar a associação entre o risco de disfagia e a gravidade da síndrome pós-COVID. Métodos: Pesquisa foi aprovada pelo Comite? de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da universidade de origem, sob número de Parecer 4.527.287 e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, antes de iniciar a coleta dos dados. Trata-se de um estudo transversal, observacional e descritivo, desenvolvido no período de agosto a dezembro de 2021, conduzido no Ambulatório de Reabilitação Pós-COVID-19 de um Hospital Universitário. A amostra incluiu 39 indivíduos adultos, que estiveram internados na UTI COVID-19 do referido hospital e encaminhados ao Ambulatório de Reabilitação pós-COVID-19, no período do estudo, respeitando os seguintes critérios de inclusão: indivíduos acima de 18 anos, internados por COVID-19, em uma das unidades de internação do hospital da instituição, encaminhados ao ambulatório de reabilitação pós-COVID-19. Todos foram avaliados a partir de, no mínimo, 30 dias após o período de internação. Foram excluídos os sujeitos com coexistência de alteração neurológica; doença pulmonar não decorrente ao COVID-19; e dor orofacial severa, incluindo neuropatia trigêmeo prévia a COVID-19. Para avaliação das queixas relacionadas à deglutição e às limitações que as mesmas causam na vida social e emocional dos pacientes, foi utilizado o questionário EAT-10, adaptado para versão brasileira. O questionário é composto por 10 questões que fornecem informações sobre funcionalidade, impacto emocional e sintomas físicos que um problema de deglutição pode acarretar na vida de um indivíduo. O instrumento possui uma escala autoadministrada utilizada para avaliar as queixas de deglutição, independentemente da sua origem. O tempo do próprio paciente para responder é de cerca de dois minutos e a pontuação maior ou igual a três indica risco de disfagia e, consequentemente, a necessidade de uma avaliação clínica detalhada da função. Os indivíduos foram divididos em dois grupos conforme a gravidade da SPC, o Grupo Crítico, que necessitou de ventilação mecânica invasiva por mais de 24 horas, e o Grupo Grave que necessitou somente de oxigênio suplementar (cânula nasal de alto fluxo, máscara de Venturi e/ou cânula nasal. Para a análise estatística, os resultados obtidos foram digitalizados em banco de dados do programa Excel e analisados através programa Statistical Package For The Social Sciences (SPSS), versão 17.0, para Windows. A avaliação da normalidade dos dados foi realizada pelo teste de Shapiro-Wilk, e a partir desta, foi utilizado Teste Qui-quadrado para comparação entre os grupos. Foram utilizadas como variáveis o questionário EAT10 e a gravidade da síndrome pós-COVID. O nível de significância adotado foi valores iguais ou menores que 0,05 (p?0,05). Resultados e discussão: Foram incluídos 39 adultos com média geral de idade de 51,7±14,6 anos. A amostra foi estratificada em dois grupos de acordo com a gravidade da doença, sendo o grupo Grave, constituído por 25 (64,1%) indivíduos, com 11 do sexo masculino e 14 do sexo feminino. Já o grupo Crítico contou com 14 (35,8%) indivíduos, sendo sete do sexo masculino e sete do sexo feminino. Os pacientes do presente estudo eram em sua maioria do sexo feminino (53,8%), discordando dos achados de outras pesquisas recentes relacionadas ao perfil epidemiológico e clínico de pacientes com COVID-19, nos quais o sexo predominante foi o masculino e a média de idade superior a encontrada no estudo em questão. Ambos os grupos necessitaram de tempo prolongado de internação, o grupo grave com no mínimo três e máximo 25 dias, em contrapartida no grupo crítico o tempo de internação chegou até 60 dias. Além disso, a ventilação mecânica invasiva (VMI) foi necessária em 39,5% da amostra geral, podendo ser um fator de risco para disfagia. A necessidade de recorrer à VMI durante o tratamento na UTI, gera uma série de sequelas que afetam os órgãos fonoarticulatórios impactando a deglutição. Segundo a literatura, longos períodos de internação levam ao acometimento do sistema muscular em pacientes internados nas UTIs, predispondo a síndrome de terapia intensiva, levando ao surgimento da fraqueza muscular adquirida, com repercussões na musculatura do aparelho estomatognático. Nesse sentido, os pacientes de ambos os grupos apresentam fatores de risco para alteração na deglutição. Dos 39 indivíduos incluídos no estudo, dez (25,6%) apresentaram risco de disfagia, sendo um (9,1%) do sexo masculino e seis (42,9%) do feminino no grupo Grave e um (14,3%) do sexo masculino e dois (28,5%) do feminino no grupo Crítico. Foi observada diferença estatística (p=0,04) entre os sexos, sendo que as mulheres apresentaram maior risco de disfagia (38,1%) no grupo Crítico. Conclusão: O presente estudo demonstrou que independente da gravidade da COVID-19 pacientes, graves e críticos, apresentam risco para disfagia.