O presente trabalho constitui uma revisão bibliográfica de publicações entre os anos de 2014 até 2022, cuja temática aborda o suicídio em idosos brasileiros. O objetivo geral consiste em realizar uma revisão bibliográfica acerca do suicídio em idosos e a rede de saúde pública existente no Brasil e, os objetivos específicos, são descrever os fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos e descrever as políticas públicas existentes para idosos.
Dessa maneira, o estudo é abordado principalmente com enfoque no suicídio em idosos, políticas públicas brasileiras e fatores de risco para o suicídio na população longeva. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, pode-se considerar pessoas idosas a partir de 60 anos de idade e, decerto, nessa faixa etária, os desafios e atravessamentos vividos são diversos, sendo um desses a questão do suicídio, o qual é definido como uma emergência de saúde mental e caracterizado como um ato cuja intenção é voltada para a morte. Além disso, a literatura aponta para dois fatores extremamente associados a essa temática: as políticas públicas brasileiras e os fatores de risco existentes.
Este estudo consiste em uma revisão bibliográfica, a qual foi realizada na plataforma digital Scielo. Os descritores de busca utilizados foram “suicídio” e “idosos”, o que resultou em 54 artigos encontrados. Após essa busca inicial, foram adicionados os filtros de “Português” e anos de publicação entre 2014 e 2022 e, assim, foram encontradas 31 publicações. A partir disso, todos os textos tiveram seus títulos e resumos lidos e, nesse processo, 9 foram excluídos por estarem na língua inglesa, 1 tratavam de outro público etário, 4 não apresentavam relação com a temática definida, 2 apresentavam recortes específicos não abordados no presente trabalho (adoecimento físico e de gênero) e, por fim, 1 artigo não foi encontrado pela plataforma. Dessa forma, ao fim das exclusões, 14 artigos foram lidos de forma integral.
Após a leitura integral dos artigos, duas temáticas fora amplamente percebidas: a ineficiência de políticas públicas no que tange ao suicídio de idosos e os diversos fatores de risco que fomentam a tentativa de suicídio nessa população.
Considerando que o processo de envelhecimento ocorre naturalmente de forma biológica nos indivíduos, existe a necessidade de olhar para o idoso de maneira ampla, levando em conta a sociedade, cultura e sua história de vida. A literatura consultada aponta para o fato de que, apesar dos idosos estarem vivendo mais, principalmente pelos benefícios do constante desenvolvimento da indústria farmacêutica, menos qualidade de vida eles possuem, e isso pode ser compreendido a partir da maneira capitalista de viver e pelas diversas formas de opressão. A despeito do capitalismo, é possível perceber que quanto mais produtiva é a pessoa, maior é o valor atribuído a ela. Já com relação às formas de opressão, verificou-se que os valores sociais influenciam diretamente na percepção que o idoso tem de si.
Com base nos achados citados, identificou-se que a população idosa está sujeita a se deparar com diversos fatores estressores, o que aumenta a probabilidade de sofrimento e pode desencadear comportamentos com o objetivo de cessar tal sofrimento, tomando a decisão de adiantar o fim da vida. Nesse sentido, estudos mostram que a taxa de suicídio tem aumentado mundialmente e, no contexto brasileiro, pode-se afirmar que isso não se deve somente pelas maiores ocorrências do evento em si, mas também pela maior efetividade dos documentos de notificação.
A despeito do capitalismo, é possível perceber que quanto mais produtiva é a pessoa, maior é o valor atribuído a ela, ou seja, a sociedade capitalista parte do princípio de que há um declínio físico e cognitivo na pessoa idosa, difundindo a ideia de que essa população é menos produtiva, gera menos lucros e mais gastos, isso contribui para a crença de que essas pessoas já estão chegando ao fim de suas vidas e até mesmo sendo naturalizada a ausência de sofrimento pela perda destes por seus familiares, visto que por conta de supostos agravantes de saúde e uma redução de afazeres estes indivíduos não são mais úteis, logo devem e espera-se que sejam descartados.
A atenção e o cuidado à pessoa idosa deve estar presente na rede familiar e na rede de atenção à saúde, vista a larga ocorrência da violência autoprovocada nessa população. Como é de praxe, os serviços de saúde são referência no atendimento a pessoas em situação de risco, assim cabe a eles acolher as demandas de maneira integrada, dando atenção para complexidade de cada caso. Em consonância, o saber profissional também é fundamental para a mobilização e suporte da família que acompanha esse idoso.
Porém, a literatura mostra que o atendimento realizado a pessoas idosas com ideação suicida está aquém do esperado. Essa situação pode ser explicada pela abordagem biomédica assumir lugar de protagonismo, sequenciando em elevadas prescrições medicamentosas e em diagnósticos entregues sem o cuidado com as reverberações que poderão ocasionar na vida do idoso e da família. Os riscos de tal abordagem incluem deixar o paciente sem local de fala o que pode ocasionar na construção de um plano de tratamento que possivelmente não vá ser seguido, haja vista que não está de acordo com os aspectos singulares do idoso, deixando-o mais suscetível a cometer o suicídio.
Ademais, tudo isso corrobora para uma deficitária formação de elo com o serviço de saúde. Os vínculos feitos pelos idosos aparecem como fator protetivo para os mesmos, visto que possibilitam mudanças de paradigmas. Dessa forma, o vínculo formado entre eles e os profissionais favorece a adesão ao tratamento, encaminhamentos necessários, maior abertura para fala e confiança para recorrerem em momentos circunstanciais. No entanto, apesar da importância dos serviços de saúde, o vínculo familiar e com a comunidade também assumem caráter fundamental para melhora nos casos de depressão, sentimentos de solidão, tristeza e desvalorização da vida, sentimentos que podem ser preditivas de ideações suicidas, tentativas de suicídio e o próprio suicídio.
Os dados apresentados nesta pesquisa buscam representar o cenário que envolve a temática do suicidio entre a população idosa no Brasil. Desta forma, são apontados contextos que aumentam a vulnerabilidade desses indivíduos, como a solidão, a perda do papel social, adoecimento físico e mental, entre outros. Além disso, também é abordada a temática de como são desenvolvidos e executados os serviços públicos voltados para a saúde dessa população.
No campo da saúde pública os serviços são desenvolvidos a partir de uma perspectiva biomédica, onde o paciente não é ativo no seu próprio processo e não tem suas singularidades consideradas, o que reflete em um tratamento com falhas e muitas vezes não adequado e eficaz. Portanto, é evidente a necessidade de uma mudança na forma como essas políticas são conduzidas e também a criação de novas, voltadas para a atenção e assistência para toda população idosa, mas com enfoque para as situações de vulnerabilidades enfrentadas no Brasil.