Refletimos sobre os mitos que envolvem os corpos femininos pretos: “precisa de menos anestesia”, “é mais forte” e “mais resistente à dor”. Esses discursos são resultados da colonialidade, racismo, machismo e patriarcado, ou seja, construções sociais, desde o período da escravização no Brasil, que perdura até hoje, naturalizado pela sociedade brasileira. Em contrapartida, as mulheres brancas, são consideradas:“mais delicadas” , “frágeis” e que precisam ser “cuidadas e protegidas”, historicamente sempre receberam o atendimento mais humanizado. Nesse estudo, propomos problematizar as experiências vivenciadas pelas mães pretas durante o luto, acontecimentos de relações étnico-raciais e ancestrais, permitindo nos afetar por esses signos. Importante ressaltar que, para essas mulheres, a morte de seu filho, jovem negro, não é o fim. É certo que as mães negras carregam uma parcela maior de dor, principalmente quando se é solo, com a responsabilidade econômica, educacional, social e política, tendo em vista que ocorre inversão da ordem da vida. Nossa caminhada metodológica dialoga com o levantamento bibliográfico, em um processo de investigação no banco de dados da CAPES, no período de 2017 a 2022, considerando o período pré-pandêmico, pandêmico e pós-pandêmico da COVID 19, dialogando com autoras negras. Os descritores utilizados foram: saúde-cuidado, mães-negras e humanização na saúde. Encontramos 311.726 dissertações e teses. Considerando a área de saúde coletiva, nos deparamos com 372 teses de doutorado. Entretanto, nenhum trabalho continha no título “mães negras”. No que diz respeito às categorias “Humanização na Saúde”, identificamos 894.949 dissertações e teses, tendo 146 teses de doutorado encontradas. Destacamos a ausência de trabalhos que tenham “humanização” no título. Esses resultados nos provocam avançar nas pesquisas acadêmicas, no campo da saúde coletiva, que dialoguem com a saúde das mães negras enlutadas pelo extermínio de seus filhos jovens negros e a humanização na saúde. Será que temos vivido o epistemicídio? Quais seus efeitos? A desqualificação do conhecimento dos povos subjugados não seria resultado do racismo estrutural e estruturante? Há um processo persistente de produção da indigência cultural: pela negação ao acesso à saúde pública, sobretudo com equidade e qualidade, diferentes mecanismos de deslegitimação com as histórias e memórias da população negra, principalmente jovens e mulheres pretas. Considerações finais: Mediante as produções encontradas, compreendemos que as mães da juventude negra e periférica são as que estão mais sujeitas aos adoecimentos mentais que acontecem em decorrência dessa perda violenta. Assim, essa pesquisa aponta a ausência de acolhimentos e respostas a esses casos por parte do estado e do poder público, as mães por iniciativas próprias criam redes coletivas de cuidados e autocuidados, e mediante apoio encontram a força para viverem, lutarem por justiça, e pela diminuição da violência que assombram seus filhos. É imprescindível a reflexão acerca das políticas públicas humanizadas, envolvendo raças, gêneros, territórios e maternidades negras.