O panorama que temos hoje no que se refere à política pública e ao entendimento - mais ou menos coletivo - do campo da Saúde Mental é fruto de um processo cujas raízes históricas e políticas podem ser encontradas em uma série de acontecimentos que, articulados e entrelaçados com a efervescência do período de redemocratização e principalmente com a Reforma Sanitária, fundaram a Reforma Psiquiátrica no Brasil. Reconhecendo o CAPS como lugar privilegiado de acesso aos serviços de saúde mental na rede saúde, propusemos um trabalho cujo objetivo era mapear a relação entre a oferta de serviço e as necessidades dos usuários a quem o serviço se destina. Neste percurso, utilizamos o referencial teórico-metodológico da cartografia, cujos pressupostos apontam para a reflexão do vivido a partir da afetação do sujeito-pesquisador por seu objeto-pesquisado, para produção de um mapa vivo do objeto e para análise das várias linhas que compõem o contorno deste mapa. Os resultados, a começar pela análise da dificuldade de acesso ao campo para realizar da pesquisa, passando pela observação das relações entre os atores desta cena e chegando, finalmente, à observação e escuta dos usuários, apontaram uma multiplicidade de fatores que, na constituição do serviço, podem constituir barreiras em vez de instituir cuidado em saúde: a insuficiência numérica do serviço diante da demanda; o arranjo escolhido pela gestão para a organização do serviço; o esvaziamento da proposta terapêutica do CAPS. Apesar, destas barreiras, no entanto, foi possível perceber que o encontro é o verdadeiro locus de produção de cuidado, pois neste espaço, a despeito dos entraves da macropolítica, é possível estabelecer vínculo, reconhecer e recolher os afetos que se organizam sob a forma de discurso e de demanda e organizar uma oferta, qualquer que seja ela, pensada e dirigida para aquela necessidade de saúde que se apresenta.