Apresentação: Os serviços de urgência integram a rede de atenção à saúde como porta de entrada para situações que exigem atendimento imediato. No entanto, tem se tornando fonte regular de cuidado, contrariando modelos de atenção com foco na longitudinalidade, tendo a Atenção Primária à Saúde como serviço de primeiro contato preferencial. Nesse contexto, o estudo tem como objetivo descrever o perfil de utilização dos usuários atendidos em um serviço de urgência e emergência em uma capital brasileira. Desenvolvimento do trabalho: Estudo transversal realizado em um Pronto Atendimento (PA) em Vitória, Espírito Santo. A amostra foi obtida por amostragem sistemática totalizando 1117 indivíduos. Os dados foram coletados durante 30 dias consecutivos, por meio de entrevista estruturada, contendo questões sociodemográficas, itinerário terapêutico, características do motivo que resultou na busca atual ao PA, gravidade do problema atual, dentre outros. Utilizou-se o software Stata 17.0. Resultados: A amostra é composta predominantemente por mulheres (62,4%; IC95% 59,5 - 65,1), autodeclarados pardos (55%; IC95% 52,1 - 57,8), com idades entre 18 e 39 anos, (57,8%; IC95% 54,9 - 60,6), de fundamental e média escolaridade (49,5%; IC95% 46,6 - 52,4), que possuem acesso a Unidade Básica de Saúde (UBS) (72,2%; IC95% 69,6 - 74,7), porém, sem equipe de referência (27,3%; IC95% 24,8 - 29,9). A maioria dos participantes buscaram diretamente o PA (71,7%; IC95% 69,0 - 74,2) e 43,8% (IC95% 40,9 - 46,6) já haviam utilizado o serviço uma ou mais vezes no último ano. Dentre os que haviam procurado algum atendimento prévio, 32,4% (IC95% 27,5 - 37,7) não conseguiram. Destes, 53,2% (IC95% 47,8 - 58,5%) haviam buscado a UBS. A maior utilização ocorreu de segunda-feira a sexta-feira (75%; IC95% 72,4 - 77,4), das 7hs às 17hs (64,4%; IC95% 61,6 - 67,1). Em relação aos motivos de procura do PA, as razões mais citadas foram a crença de que o serviço é mais resolutivo (28,7%; IC95% 23,5 - 34), não conseguiu marcar consulta na UBS (12,2%; IC 95% 8,8-16,8) e devido ao horário de funcionamento das unidades básicas (11,1%; IC95% 7,8-15,5). Os sintomas que motivaram a busca por atendimento foram cefaleia (11,5% - IC95% 10,1;12,8), febre (6,13%; IC95% 5,1-7,1 ) e náusea (5,41%; IC95% 4.4 - 6,3). Considerações finais: Constata-se que a maioria dos participantes tem uma percepção de que os Serviços de Emergência são mais eficientes, dessa forma, percorrem um caminho não linear que não reflete o que é esperado pelo perfil de sua necessidade de saúde. Foi observado também o uso do PA como segunda fonte de cuidados devido aos fracassos prévios ao procurarem outro nível, levando potencialmente ao uso inapropriado dos serviços de urgência e superlotação dos serviços de emergência. A utilização inadequada do PA contribui para um sistema de saúde disfuncional e caótico, sendo portanto, fundamental identificar os elementos que contribuem para essa realidade.