Apresentação: Este trabalho é uma oportunidade extensora do Trabalho de Conclusão da Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Atenção Primária da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo intitulado como “Construindo a possibilidade de apoiar: o diálogo tem método e tempo” apresentado em 2023. Enquanto vivência-aprendizado cartográfico, o objetivo dessa experiência é anunciar o zumbizar como tecnologia de captar, coletivizar, processar, refletir e ativar como é mesmo o trabalho vivo em ato para se encontrar com a vida complexa dos usuários.
Desenvolvimento do trabalho: A chegada em um município da grande São Paulo em agosto de 2023 inaugura a vivência no estágio profissionalizante e constrói, ao longo do tempo no campo, a finalidade de desvendar os caminhos possíveis para produção do cuidado em uma divisão territorial da Atenção Básica enquanto Apoiadora em Saúde. Para a escolha pela divisão territorial, nasce a vazão à intenção da oralidade: os zumbidos do território. Em um provérbio nigeriano narrado por Chinua Achebe, ele nos conta o porquê o Mosquito vem zumbizar à Orelha: para informar sua permanente vida à quem lhe agourou a morte. Escutar como é mesmo que o território nos mostra estar vivo foi o exercício metodológico para a escolha do Território Central e rumo para sistematizar a cartografia a ser processada nos espaços semanais de Educação Permanente em Saúde ofertados pela Diretoria da Atenção Básica, encerrada em dezembro do mesmo ano.
Resultados: Alguns dos zumbidos que chegaram as minhas orelhas, orientando minha escolha ao Território Central, foram: a tensão entre os trabalhadores; as dificuldades das gerentes em mediar os conflitos internos nas suas unidades; os desafios em ter um processo de trabalho a partir das atribuições da Atenção Básica no SUS; uma grande parcela dos médicos contratados via Pessoa Jurídica; um volumoso encaminhamento para categorias profissionais inexistentes na rede e; o perfil dos trabalhadores administrativos nas Unidades de Saúde, indicados em sua totalidade por agentes públicos eleitos. Entretanto, para além do que chega com voz, há também a espera pelo zumbido que não vem: as pistas de como eram as vidas das pessoas no centro da cidade e a relação com os serviços de saúde. Buscar um território não institucional e não mencionado também foi um zumbido norteador para a escolha da divisão territorial, escutado seu zumbizar nos últimos 2 encontros com as gerentes, ao anunciarem perguntas que somente o encontro com a vida das pessoas responderia.
Considerações finais: O provérbio nigeriano me fez estar atenta a quem vem aos meus ouvidos e orelhas, a refletir sobre as palavras que chegam até mim e encaixar as interpretações no cotidiano vivido. Há sempre algo a ser lembrado, quer seja a memória da vida, quer seja como a vida tem sido. O trabalho vivo em ato instiga os modos para percepção de como é mesmo que ele se anuncia com vida ou é dado como morto. Inserir a escuta do zumbizar é, também, um manifesto sobre as tecnologias ancestrais no redirecionamento à altura da importância e manutenção do diálogo-oralidade.