Apresentação: Apesar dos avanços que possibilitaram uma melhor inserção da mulher no mercado de trabalho, a discriminação de gênero persiste nesse meio. Uma estrutura social machista - que desencoraja os homens a procurar apoio mental, a sobrecarga da dupla jornada feminina, a maior presença das mulheres em profissões historicamente masculinas, a manutenção de estereótipos de gênero, bem como o assédio e as disparidades salariais - que no país chegam a 25,2% - podem desempenhar fatores cruciais no processo de adoecimento mental feminino no ambiente de trabalho. Objetivos: Analisar a existência de disparidades nas notificações de transtornos mentais relacionados ao trabalho no país, de acordo com o sexo entre os anos de 2013 a 2023. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo secundário, descritivo e retrospectivo em que os dados foram obtidos a partir do banco de informações do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, onde foram selecionadas as “notificações de transtornos mentais relacionados ao trabalho” segundo o sexo, diagnóstico específico e região de residência, para o período de 2013 a 2023. Resultados: No Brasil, do total de 19.644 notificações de transtornos mentais relacionados ao trabalho (TMRT) registradas no período, o sexo feminino representa a maior parcela dos casos (65.7%). Também, durante o período, observa-se um aumento no número total de notificações tanto para o sexo feminino quanto para o masculino. No entanto, o incremento foi maior para as mulheres. Houve um crescimento percentual de aproximadamente 482% no número de casos femininos, passando de 443 notificações em 2013 para 2.579 em 2023. Em contrapartida, entre os homens, o aumento percentual foi de cerca de 253%, passando de 280 notificações em 2013 para 988 em 2023. Entre as causas registradas para os TMRT para o sexo feminino, 76.7% estão relacionadas a transtornos neuróticos, relacionados ao estresse, somatoformes, transtornos do humor e à Síndrome de Burnout. Em uma análise regional das notificações por sexo, as cinco regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Sul) apresentam prevalência do sexo feminino nas notificações. Em comparação, a região Nordeste possui a menor dessas prevalências, com 58.8% das notificações do sexo feminino. Já as duas regiões com maior prevalência são a região Centro-Oeste - com 79.7% das notificações, e a região Sul, com 75% do total de notificações provenientes do sexo feminino. Considerações finais: Os dados dos últimos 10 anos convergem ao demonstrar a maior distribuição de casos e de crescimento percentual de TMRT para o sexo feminino. Os resultados também sugerem a necessidade de investigações de disparidades regionais, para que se implementem políticas públicas que considerem essas divergências no país. Emerge o papel do Sistema Único de Saúde em revelar visibilidade a essas diferenças de saúde mental sensíveis ao gênero, com políticas de saúde ocupacional para as mulheres e que promovam e integrem os serviços de saúde mental com outros serviços de saúde. Ademais, urge a necessidade de apoio a pesquisas que monitorem indicadores de saúde mental entre as mulheres do mercado de trabalho para identificar áreas de intervenção prioritária.