Apresentação: A afasia é um distúrbio de linguagem causado por lesão cerebral, cuja causa mais frequente é o acidente vascular encefálico. A afasia se torna crônica entre seis meses e um ano após a lesão e há diversos tipos de afasia. Na afasia não fluente, a compreensão está relativamente preservada, enquanto a linguagem expressiva oral está prejudicada. Devido ao estigma sofrido, as pessoas com afasia não fluente frequentemente temem cometer erros linguísticos em situações comunicativas, o que as predispõe a problemas de saúde mental e isolamento social. Há uma lacuna na literatura de terapias das afasias no que concerne a abordagens interdisciplinares e inovadoras que potencialmente abordem processos cognitivos de maneiras que: (1) incluam a natureza multimodal da comunicação, abrangendo todo o corpo; (2) evitem exigir exclusivamente os meios de expressão oral; (3) promovam mudanças emocionais benéficas abrangendo a percepção de si mesmo e das relações sociais. Este estudo teve por objetivo investigar a experiência de pessoas com afasia crônica não fluente encaminhadas por hospitais e secretaria de saúde de Porto Alegre e Alvorada, bem como de um grupo de convivência sediado na UFSM que participaram de um programa de palhaçoterapia. Além disso, o estudo também investigou a resposta das plateias que assistiram os espetáculos dos grupos.
Desenvolvimento do trabalho: Os participantes do presente estudo realizaram sessões de duas horas semanais de palhaçoterapia durante cinco meses, culminando com apresentações que foram assistidas por duzentas pessoas em teatros. As sessões foram lideradas por atores experientes em palhaçaria e realizadas em. espaços próprios para atividades teatrais. : Foi realizada observação sistemática dessas sessões, bem como a análise temática das falas que emergiram em grupos focais com os participantes e de respostas das plateias a um questionário.
Resultados: Observou-se que as modalidades comunicativas não verbais foram as mais usadas durante as sessões e os participantes parecem ter desenvolvido uma mudança positiva de perspectiva sobre a comunicação, destacando-se a importância da música, da dança e da poesia nas apresentações. Foi possível concluir que a palhaçoterapia promoveu experiências sociais favoráveis através da expressão não verbal e da atenção compartilhada, construindo um senso de participação ativa. Essas experiências foram percebidas como transformadoras e benéficas, além de explorar e reconfigurar percepções de si e dos outros.
Considerações finais: A palhaçoterapia oferece uma abordagem interdisciplinar e inovadora que inclui a natureza multimodal da comunicação, abrangendo todo o corpo; não exige que a comunicação se realize exclusivamente por meio da expressão oral; e promove mudanças emocionais benéficas abrangendo a percepção de si mesmo e das relações sociais, importantes inclusive no combate ao estigma social sofrido pelas pessoas que apresentam diversidade comunicativa.