Este trabalho trata-se de um relato de experiência do projeto de extensão intitulado PalhaSUS do Pampa: a palhaçaria como dispositivo de produção de saúde e formação na comunidade, da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), sobre as atividades realizadas durante o mês de maio de 2024. O objetivo é relatar as vivências com as crianças em abrigos provisórios na cidade de Uruguaiana. O município é banhado pelo rio Uruguai, que anualmente enfrenta períodos de cheia onde vivem as populações ribeirinhas. Nesses períodos, elas são realocadas para abrigos nos ginásios das escolas municipais da cidade ou centros esportivos. Tal trabalho pretende demonstrar que a palhaçaria consegue trazer benefícios para a saúde física e mental das pessoas, especialmente das crianças.
O grupo, criado em 2023, é composto por discentes, docentes e outros colaboradores, tanto externos quanto internos da comunidade acadêmica. Na atividade, foram realizadas brincadeiras para o entretenimento das crianças. Entre elas, destacam-se brincadeiras lúdicas como “batata quente”, cabo de guerra, dança das cadeiras, oficinas de pintura e construção de aviõezinhos de papel. Para incentivar a participação das crianças, foram oferecidos doces como premiações simbólicas, garantindo que, ao final das atividades, todos recebessem a mesma recompensa. As ações foram realizadas em dois dias diferentes, contemplando dois abrigos da cidade, o primeiro deles contava com 38 crianças, enquanto o segundo abrigava 27 crianças, incluindo desde recém-nascidos até adolescentes.
Observamos que, ao realizar ações em um ambiente de vulnerabilidade, as reações são diversas. Notamos a carência de atenção e afeto em algumas crianças, enquanto outras se demonstraram mais retraídas. Percebendo essas peculiaridades, tentamos atender suas necessidades ao realizar as atividades. Muitas dessas crianças não estão frequentando a escola, ficando todo o tempo dentro do abrigo junto com suas famílias, interagindo apenas com as outras crianças presentes no mesmo recinto, fazendo com que os seus cotidianos se tornem monótonos. Ao realizar a atividade, notamos a felicidade em seus rostos enquanto as brincadeiras aconteciam ou quando recebiam os doces - algo que pode parecer comum para a maioria das pessoas, mas para elas, pareceu fazer toda a diferença. Por fim, observamos diferenças entre os abrigos visitados: no primeiro as crianças estavam mais agitadas, enquanto no segundo, estavam mais calmas; mas havia algo em comum entre elas: todas precisavam ser ouvidas e abraçadas.
A importância da palhaçaria em momentos de vulnerabilidade vai além de fazer rir. Trata-se de ouvir e observar, de entender as necessidades de cada criança. A pessoa palhaça, por trás do nariz vermelho, oferece um sorriso mesmo em momentos de dificuldade, proporcionando conforto e alegria; a gratificação de ver os sorrisos e a alegria das crianças torna cada esforço extremamente recompensador e afirma que há beleza na vida. As crianças são um dos potentes afetos que movem mundos, principalmente o nosso da palhaçaria.