Apresentação: Baseada nos conhecimentos e experiências individuais, a Educação Permanente em Saúde (EPS) está relacionada à aprendizagem por meio das práticas profissionais e pelos problemas enfrentados na realidade cotidiana. Em vista disso, tem-se que o processo de formação e de capacitação profissional depende de inovações nas técnicas e metodologias de ensino-aprendizagem, a fim de vincular o conteúdo teórico com a resolução prática de problemas. Dessa forma, as Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (TICS) foram introduzidas no âmbito da EPS como ferramenta facilitadora da dinâmica educação-trabalho, sendo capaz de produzir, armazenar e transmitir de forma segura as informações. Atualmente, o uso das TICS vem como componente crucial na busca pela otimização da assistência clínica e facilitador na tomada de decisões, monitoramento situacional e avaliação dos benefícios das ações de EPS. Assim, objetivou-se analisar como as tecnologias ativas, no contexto da educação permanente em saúde, influenciam no desenvolvimento profissional no âmbito da Atenção Primária de Saúde. Método: Realizou-se uma revisão integrativa de literatura utilizando as bases de dados LILACS, BDENF e PUBMED, acessadas por meio da plataforma Biblioteca Virtual de Saúde (BVS); utilizou-se os descritores Atenção Primária à Saúde AND Tecnologia AND Educação Permanente, selecionados a partir da plataforma Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), bem como foram aplicados os filtros de texto completo, publicados nos últimos 5 anos. Dos 25 artigos encontrados, após a leitura do título e resumo, foram excluídos 7 artigos por não terem relação com o tema, 1 artigo duplicado e 8 por se enquadrarem na categoria Monografia, Tese, Dissertação ou Guia de Prática Clínica. Sequencialmente, após a leitura na íntegra dos textos, 2 artigos foram excluídos por não apresentarem relação com a temática, totalizando 7 artigos utilizados para a construção do presente trabalho. Resultados: Embora o uso de tecnologias ativas apresente fragilidades e limitações, além dos poucos estudos que explorem a área, a produção de conteúdo educacionais digitais e sua difusão no meio da educação permanente no contexto da atenção primária à saúde contribui positivamente no combate às intercorrências cotidianas, sendo eficiente no processo de difusão de conhecimentos e construção de raciocínio clínico. Sob esse viés, as tecnologias têm o poder de aprimorar a educação e a comunicação em saúde pública, em uma estratégia político-pedagógica em que o ensino, a atenção à saúde, a gestão do sistema, a participação do controle social e as necessidades emanadas pelo processo de trabalho se relacionam dentro da Atenção Primária. Nesse contexto, em 2010 foi criado o sistema UNA-SUS, uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTEM/MS) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a fim de atender as necessidades de capacitação dos profissionais atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS), composto por uma rede colaborativa de 35 instituições de ensino superior, para ofertar diversos cursos à distância de forma gratuita. Outro benefício oriundo da utilização das TICS dentro da Unidades Básicas de Saúde (UBS) são as consultas de Telessaúde, criadas em 2007 pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de aumentar a resolutividade dentro da APS, de forma ampliar e potencializar as ações com o Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes. Evidenciou-se que menos de 50% das UBS possuem equipamentos de TICS disponíveis, sendo a falta de acesso a computadores e a rede de internet o maior limitador na utilização dos principais sistemas de educação permanente e gestão de recursos digitais. A falta de acesso a essas plataformas é um problema de nível nacional, cerca de 50% dos profissionais da Atenção Básica não têm acesso a essas plataformas, problema que se agrava nas regiões mais isoladas do país. Dessa forma, tal dificuldade é colocada como fator importante na não utilização de recursos tecnológicos no processo de educação permanente, bem como no uso de tecnologias no processo de assistência direta a saúde, dilema que revela a ligação entre as limitações tecnológicas e a fragilidade do sistema de Atenção Primária como um todo, o que interfere de forma negativa na organização dos serviços e na dinâmica da gestão, tendo em vista o papel crucial da APS como coordenadora do cuidado e organizadora das redes de atenção à saúde (RAS) como um todo. Destaca-se que a utilização de TICS na prática clínica, para além da sua contribuição no processo de ensino-aprendizagem, é um facilitador indispensável na resolução prática de demandas dentro das Unidades Básicas de Saúde, na regulação do fluxo de usuários aos atendimentos especializados, rede de referência e contrarreferência, prontuários eletrônicos, entre outros. Assim, a falta do conhecimento, bem como o acesso ineficiente às tecnologias resultam em iniquidades em saúde relacionadas, muitas vezes, à prestação de cuidados sem embasamento nas necessidades de saúde da comunidade em seu entorno, problema causado diretamente pela incapacidade de transformar dados do sistema em informações úteis, bem como no déficit de profissionais capacitados para interpretá-los. Outro ponto que se destaca é a peculiaridade da educação permanente que, diferentemente dos cursos de graduação, se propõe a aprimorar técnicas e ensinar novos métodos para profissionais já formados e com um trajetória profissional que influencia no seu processo de ensino e aprendizagem, o que demonstra que a utilização das tecnologias ativas representa uma opção inovadora que fundamenta a competência clínica do profissional frente a situações cotidianas e adversas, apoiando-se na experiência prática para melhor condução de situações futuras. Logo, a educação permanente visa a qualificação dos trabalhadores de saúde pública, de forma que essa transforma e organiza as práticas profissionais conforme as necessidades e fragilidades apresentadas pelo sistema. Conclusão: Compreende-se que a gestão do processo de cuidado na Atenção Primária mediada por tecnologias ainda ocorre de forma tênue, o que pode ser relacionado diretamente à ineficácia de políticas públicas que corroborem para a implantação e aprimoração das tecnologias no âmbito da educação continuada e da gestão de sistemas na APS, além das limitações práticas na sua implementação. Essa situação está, muitas vezes, vinculada a um processo de desconstrução do modelo padrão utilizado atualmente, sendo a utilização das tecnologias e o avanço dos sistemas de saúde enquanto atenção primária, diretamente condicionados à gestão dos recursos disponíveis, bem como ao planejamento adequado e adaptado a cada realidade do país, tendo em vista que ainda existem regiões que não são capazes de sustentar os atuais programas tecnológicos. É preciso pensar, para além das políticas de incentivo à utilização das TICs, o fomento a criação de um sistema capaz de atender as áreas mais carentes e fragilizadas do sistema.