Apresentação:
A adesão terapêutica é fundamental para qualquer tratamento, se refletindo na resolutividade deste. Abandono e/ou cumprimento incorreto de prescrições além do insucesso terapêutico, contribuem ao risco de agravamento de doenças e até para mortalidade. A baixa adesão medicamentosa especificamente inclui obstáculos em horários, doses e/ou tempo de tratamento, entre outros, interferindo no curso de grupos de doenças, como nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM) entre as mais prevalentes DCNTs têm seus sintomas controlados com sucesso pela farmacoterapia, contribuindo para qualidade de vida dos pacientes. Porém uso medicamentoso incorreto é um dos fatores de agravamento no seu quadro clínico. Na recorrência do descontrole de sintomas da HAS e DM as equipes de Atenção Básica podem incluir visitas domiciliares no acompanhamento dos pacientes, com diferentes profissionais atuando oportunamente nos fatores interferentes na adesão terapêutica. Com isso é importante conhecer como a Assistência Farmacêutica pode ser efetivamente implementada no cuidado domiciliar, incluindo o aprimoramento das suas intervenções, considerando cenário dos territórios de saúde de Muniz Freire, na região sul do Espírito Santo no último ano. Assim questionou-se aqui como o acompanhamento em visita domiciliar de pacientes crônicos pode contribuir para efetividade da assistência farmacêutica na adesão à Farmacoterapia.
Objetivos
Relatar a experiência de um serviço farmacêutico de visita domiciliar interprofissional no acompanhamento e assistência de pacientes portadores de doenças crônicas, visando melhorar a adesão ao tratamento.
Metodologia
Tratou-se de trabalho descritivo, do tipo relato de experiência, sobre acompanhamento e assistência farmacêutica em domicílio de pacientes adscritos em território de saúde do distrito de Assunção, município de Muniz Freire-ES, no período de julho a outubro de 2023. Realizou-se visitas domiciliares de cuidado por miniequipe composta de 4 (quatro) profissionais: Agente Comunitária de Saúde e Técnica de Enfermagem da Equipe de ESF de Assunção e Assistente Social e Farmacêutica da Equipe Multiprofissional Ampliada do ICEPi do município. O cuidado seguiu em geral: aferição da pressão arterial e medida de glicemia capilar pela técnica de enfermagem e agente comunitária avaliação de auto relato e observação das condições de vida, moradia e relações familiares pela assistente social. Finalizou-se com assistência farmacêutica, com as estratégias principais: verificação da validade com recolhimento de medicamentos vencidos, verificação da prescrição médica para manutenção/atualização contagem de medicamentos entre visitas para prevenir desuso, orientações gerais sobre importância da adesão ao tratamento e por fim confecção de caixa organizadora para os medicamentos, entregue aos pacientes na segunda visita do acompanhamento domiciliar. Foram escolhidos pacientes previamente para o acompanhamento domiciliar, sendo esse feito de modo complementar ao seu acompanhamento regular na UBS de Assunção. A definição dos pacientes deu-se a partir da avaliação pela equipe interdisciplinar da UBS com relação a recorrência de descontrole de pressão arterial e do nível de glicemia, além de dificuldades em diversos aspectos na adesão ao planejamento terapêutico singular, destacadamente na adesão ao tratamento farmacológico, como uso inadequado e/ou desuso de medicamentos.
Resultados
Foram escolhidos quatro pacientes com média de idade de 67 anos, três do sexo feminino e um masculino. Duas pacientes com quadro de hipertensão e diabetes a terceira era somente hipertensa, enquanto o paciente era somente diabético. No período do acompanhamento realizou-se três visitas domiciliares mensais para duas pacientes, enquanto a terceira recebeu uma visita e o homem recebeu duas visitas, totalizando nove visitas domiciliares. Após as visitas observou-se melhora da adesão geral ao tratamento correção de problemas como: uso de doses subterapêuticas uso de medicamentos não prescritos além de mudanças de atitudes como maior atenção para guarda e prevenção do uso de medicamentos vencidos e redução do uso de medicamentos com prescrições vencidas.
Conclusões
O acompanhamento de pacientes crônicos em visita domiciliar interprofissional permite a equipe interdisciplinar da Atenção Básica desenvolver o cuidado de modo integral e longitudinal, com foco na singularidade dos pacientes. Em relação à implementação da assistência farmacêutica esse acompanhamento ofereceu oportunidade para farmacêutica avaliar no domicílio em que condições se encontravam os medicamentos dos pacientes e como o administravam, para além do auto-relato deles no acompanhamento na UBS. Concomitantemente permitiu correção e resolutividade dos problemas identificados na baixa adesão medicamentosa de forma assistida e mais eficaz que as orientações a esses pacientes no acompanhamento regular na UBS, e também na Farmácia Básica. A experiência relatada evidenciou também necessidade de incluir o acesso de assistência farmacêutica em domicílio nos demais territórios de saúde no município com outros pacientes crônicos, sobretudo aqueles com perfil de alto risco. Ademais o acompanhamento pela farmacêutica nas visitas domiciliares representou uma extensão da sua assistência e atuação para além dos cenários tradicionalmente ocupados e identificados com essa categoria profissional.