RESUMO: Os transtornos psiquiátricos são os principais fatores responsáveis pelo aumento da morbimortalidade em nível global, principalmente devido à natureza crônica e incapacitante dessas patologias. Entretanto, através de uma perspectiva crítica, esta cronicidade sofre uma maior influência da institucionalização do que da natureza da doença em si, devido principalmente ao isolamento desses indivíduos da sociedade. O acesso a serviços de saúde, acesso ao apoio e aos cuidados sociais, e a participação dos usuários em práticas de educação em saúde são fundamentais na terapia dessa população. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são exemplos de dispositivos da rede de saúde criados para oferecer uma assistência especializada a pessoas com transtornos psiquiátricos moderados a grave, com o visando a redução de danos e a reinserção social. Esses centros contam com equipe multidisciplinar que inclui psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas e assistentes sociais, promovendo progresso no que diz respeito à autonomia, autoconfiança, criatividade, reinserção social e expressão da subjetividade. A atuação da equipe de nutrição nesses centros é centrada pela política de redução de danos psicossociais e nutricionais dos usuários mais vulneráveis da unidade através da promoção da alimentação saudável. No CAPS de estudo, uma importante estratégia no tratamento de portadores de transtornos mentais é a oficina culinária, onde estes indivíduos preparam produtos alimentícios para a venda e consumo na unidade, com norte para reabilitação psicossocial, alimentação saudável, autonomia estímulo habilidades culinárias e a comensalidade entre os usuários, seguindo as orientações propostas pelo Guia Alimentar para a População Brasileira. Objetivo: Relatar o papel da oficina culinária como geradora de cuidado, reinserção, reabilitação e renda no tratamento dos usuários do CAPS UERJ. Métodos: O presente estudo foi realizado no Centro de Atenção Psicossocial, localizado em um município do Rio de Janeiro. As práticas da oficina culinária foram realizadas no Laboratório de Nutrição, e participaram semanalmente das atividades em média de 15 usuários de ambos os sexos. Os dados foram coletados por meio de observações diretas das dinâmicas nas oficinas culinárias, e anotações das principais falas e dos avanços observados dos usuários participantes. Resultados: As oficinas culinárias contribuíram para a reinserção dos usuários no mercado de trabalho, através de atividades geradoras de renda e autonomia. Os participantes desenvolveram habilidades e troca de experiências culinárias, garantindo um ambiente onde todos são detentores de conhecimento. A equipe testemunhou usuários em situação de rua sendo capazes de preparar receitas básicas dentro de suas condições e diferentes relatos de usuários e familiares quanto a confiança para cozinhar dentro de casa e diversificar as preparações do dia a dia. Conclusões: Os usuários tiveram a oportunidade de exercitar a autonomia e independência psicossocial, incluindo o desenvolvimento de habilidades culinárias. Durante as práticas as receitas desenvolvidas foram utilizadas para promover uma fonte de renda própria, dentro do seu território físico e subjetivo, proporcionando maior qualidade de vida dentro de suas condições. As oficinas terapêuticas, assim, cumprem o seu papel de reabilitação psicossocial ao oferecerem espaços de inclusão e interação social dos usuários do CAPS.