Introdução: A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICs) no Sistema Único de Saúde (SUS), assim como a de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, foram implementadas no Brasil em 2006.
A Faculdade de Enfermagem (FE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) oferece uma matriz curricular de 10 semestres, composta por componentes curriculares, disciplinas e estágios obrigatórios, além de duas disciplinas optativas, sendo uma “Compartilhando saberes sobre as plantas medicinais”, a qual se propõe a ampliar a visão dos acadêmicos e pós-graduandos da percepção do processo saúde e doença, incluindo no cuidado à saúde às plantas medicinais a partir de discussões fundamentadas na política nacional, resgate do saber popular, experiências de estados e municípios brasileiros, e embasamento em pesquisas científicas acerca dos efeitos das plantas medicinais no cuidado à saúde. Diante disso, é relevante que o enfermeiro, além do conhecimento dos princípios ativos das plantas medicinais, reconheça o saber popular a partir do contexto sociocultural, integrando essas nas práticas do cuidado à saúde realizadas.
Perante o exposto, o objetivo deste resumo é realizar um relato de experiência sobre a oferta da disciplina optativa “Compartilhando saberes sobre plantas medicinais”.
Metodologia: A disciplina optativa "Compartilhando Saberes sobre Plantas Medicinais", com 2 créditos, da Faculdade de Enfermagem (FE), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) foi oferecida aos alunos de graduação da UFPel através do banco universal, e para pós-graduação, com a terceira e quarta autoras deste resumo como professoras responsáveis.
A disciplina é semestral, sendo ofertada uma vez ao ano, tendo sua primeira oferta em 2023-1 no período de 13 de junho a 1 de agosto, totalizando oito encontros realizados todas as terças-feiras das 14h às 17h. Durante esses encontros, os alunos participaram de palestras, discussões e oficinas práticas, proporcionando um maior engajamento com o tema abordado. Todos os materiais necessários, incluindo o plano de ensino e o cronograma, foram disponibilizados virtualmente na plataforma educacional do estudante, conhecida como e-aula-UFPel.
Resultados: Participaram dessa primeira oferta da disciplina oito estudantes da graduação, todos da faculdade de enfermagem, provenientes de diferentes semestres. O cronograma da disciplina foi elaborado visando abordar temas interdisciplinares relacionados à utilização das Plantas Medicinais. Para alcançar esse objetivo, foram convidados colaboradores externos de diversas instituições e profissões. A primeira semana marcou o início das atividades com a apresentação da proposta da disciplina e processo avaliativo. Além disso, foram realizados debates sobre a história e concepção de saúde e/ou doença, explorando a interface com a importância da cultura. Foi apresentado um panorama sucinto do uso das plantas medicinais ao longo dos tempos, visando evidenciar a relevância de sua utilização para embasar discussões acerca das políticas públicas relacionadas a elas. Diversos materiais foram disponibilizados no e-aula-ufpel, incluindo resoluções, portarias e a Política e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos de 2016, garantindo materiais confiáveis aos alunos. Ademais foram abordados diversos temas, como uma oficina de preparo de sal temperado. Os participantes discutiram sobre o consumo excessivo de sal na preparação de alimentos e seus impactos na saúde. Foram apresentadas as plantas medicinais que poderiam ser incorporadas à receita de sal temperado, como açafrão (Curcuma longa L.), alecrim (Rosmarinus officinalis L.), alho (Allium sativum L.), cebolinha (Allium schoenoprasum L.) e salsa (Petroselinum crispum (Mill.) Mansf.) e em seguida o sal temperado foi preparado e cada um pode levar uma porção para utilizar no domicílio. Ademais, foram abordados os cuidados necessários no cultivo, colheita, secagem e armazenamento das plantas medicinais, essa discussão foi guiada por um agrônomo. Também foram discutidos os conceitos e as formas de preparo das plantas medicinais, com destaque para os métodos de decocção, infusão, tinturas, xarope, pomada a frio e óleo para cicatrização de feridas. Além disso, um farmacêutico apresentou a Farmacognosia, enfatizando os princípios ativos das plantas medicinais e sua interação com o corpo humano. Os alunos também puderam preparar sabonetes medicinais. Outro tema abordado foi sobre o uso de plantas medicinais no tratamento de feridas, com conteúdo teórico preparo de tintura, pomada a frio e óleo de girassol enriquecido com plantas medicinais. Na parte teórica, foram apresentadas várias espécies de plantas medicinais úteis no tratamento de feridas, junto com seus princípios ativos. Algumas dessas espécies incluíram calêndula (Calendula officinalis L.), camomila (Matricaria chamomilla L.), girassol (Helianthus annuus L.), mil-em-ramas (Achillea millefolium L.) e transagem (Plantago major L.). Foi oportunizada outra oficina sobre o uso de plantas medicinais no tratamento de sintomas respiratórios, seguido pela preparação de xarope. Durante essa etapa, foram mencionadas algumas plantas, tais como abacaxi (Ananas comosus (L.) Merr.), guaco (Mikania glomerata Spreng.) hortelã (Mentha x piperita L.) marcela (Achyrocline satureioides DC.) e malva (Malva parviflora L.). Durante as oficinas, os alunos participavam da organização dos materiais necessários, incluindo as plantas medicinais escolhidas, preparo, acondicionamento e identificação dos fitoterápicos caseiros. Como avaliação final da disciplina, os acadêmicos produziram um resumo sobre uma planta medicinal, contendo informações como nome popular, nome científico, imagem/foto da planta, indicações de uso popular, formas de uso, comprovações científicas e contraindicações. Essas informações também foram apresentadas oralmente. Foram elaborados cinco trabalhos sobre as plantas medicinais: alho (Allium sativum L.), marcela (Achyrocline satureioides DC.), guaco (Mikania glomerata Spreng.), camomila (Matricaria chamomilla L.) e cravo-da-índia (Syzygium aromaticum). Destaca-se a participação ativa de todos os estudantes nas atividades e debates propostos, evidenciando o interesse nos diversos tópicos abordados ao longo da disciplina. Essa colaboração ativa contribuiu significativamente para o enriquecimento das discussões e para a troca de conhecimentos entre os participantes.
Conclusão: A disciplina alcançou seu objetivo de desenvolver conteúdos relevantes sobre as plantas medicinais e seu papel no cuidado à saúde por meio das discussões e oficinas vivenciadas pelos estudantes. Uma sugestão significativa feita pelos alunos ao término foi a ampliação da carga horária para a próxima oferta da disciplina. Eles expressaram a necessidade de mais tempo para discutir os temas propostos, demonstrando assim seu genuíno interesse pelo assunto e a importância da discussão desse tema em seu ambiente de formação. Ressalta-se a importância de os profissionais de saúde dialogarem com os usuários acerca das plantas utilizadas, bem como valorizar este saber, sendo uma área na qual a enfermeira pode utilizar-se na realização do cuidado à saúde.