Apresentação: A ocorrência de quedas na população idosa é um dos principais problemas de saúde pública que demandam cuidados formais e informais. Trata-se de um fenômeno multideterminado e sensível ao rastreio e prevenção na Atenção Primária à Saúde (APS). Embora, muitos municípios e unidades de saúde ofereçam serviços preventivos, tais ações tem se demonstrado desafiadoras às equipes e gestores. O objetivo deste trabalho é descrever e discutir os principais desafios encontrados para a implementação do Circuito Multissensorial de Prevenção de Quedas em uma região do Distrito Federal.
Desenvolvimento do trabalho: O Circuito Multissensorial de Prevenção de Quedas do Distrito Federal é um programa desenvolvido pela secretaria de saúde com o objetivo de promover o envelhecimento ativo, melhorar a capacidade funcional e prevenir quedas, por meio de atividades multicomponentes, que estimulam a participação ativa e a interação social. As atividades são realizadas durante dois meses, duas vezes por semana, com duração de 90 minutos. O circuito é composto por 10 estações e deve atender à, no máximo, 20 idosos simultaneamente. As avaliações pré e pós-intervenção compreendem o Índice de Vulnerabilidade Clínica-Funcional (IVCF-20); teste de força de membros superiores; teste de levantar-se e se sentar (30 segundos) e Miniexame Estado Mental (MEEM). Para a realização das estações de exercícios foram disponibilizados materiais como degraus, bambolês, argolas, halteres, caneleiras, cama elástica, colchonetes, cones, discos de equilíbrio, bola suíça, entre outros. Gestores locais e profissionais da E-multi foram treinados com o intuito de serem responsáveis e multiplicadores do circuito em suas unidades. As ações de treinamento, avaliação, intervenção e reavaliação dos usuários idosos são realizadas em parceria com professores, estudantes extensionistas e estagiários da Universidade de Brasília. Em 2023, o circuito multissensorial foi realizado em quatro Unidades Básicas de Saúde na região de Ceilândia, em Brasília-DF. A atividade foi realizada durante três meses, em grupos com aproximadamente 10 idosos, mediante a integração ensino-serviço.
Resultados: Gestores locais, profissionais, estudantes e professores vivenciaram e avaliaram criticamente o processo de implementação do circuito nas UBS e identificaram, após reuniões de equipe, os seguintes desafios comuns: 1) Aplicação de critérios objetivos para classificação do risco de quedas e do nível funcional; 2) Diversidade do grau de funcionalidade dos usuários (elegibilidade); 3) Conservação e reposição dos materiais não previstas; 4) Treinamentos insuficientes e insegurança das equipes; 5) Profissionais com carga horária e rotina de trabalho incompatível com a participação na ação; 6) Dificuldade de implementar as ações (avaliação e intervenção) baseada em evidências científicas; 7) Dificuldade de sistematizar e analisar as informações coletadas; 8) Ausência de diálogo e participação social no processo de construção, elaboração e implementação do programa.
Considerações finais: Em geral, o programa proposto é positivo e tende a mobilizar as equipes e a comunidade para o cuidado à população idosa, em especial, para a prevenção de quedas. Entretanto, para que a implementação seja efetivada e as ações possam alcançar os objetivos pretendidos com uso adequado dos recursos é fundamental que sejam adotadas estratégias para superar os desafios identificados.