Apresentação: O Amazonas é o maior Estado brasileiro em extensão territorial, com grande parte ocupado pela Floresta Amazônica e pelos rios. A atuação de profissionais de saúde em municípios do interior deste Estado implica dificuldades e desafios. Acidentes por animais peçonhentos e intoxicações são casos de emergência e necessitam de intervenções imediatas, evitando complicações. O trabalho objetiva relatar os desafios dos profissionais de saúde que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Hospitais quanto ao atendimento a pacientes intoxicados e vítimas de acidentes por animais peçonhentos em três municípios do interior do Estado do Amazonas.
Desenvolvimento: Estudo descritivo, exploratório e transversal por meio de entrevistas semiestruturadas com profissionais médicos e de enfermagem que atuam em unidades de saúde de dois municípios da região do Rio Negro e um da região do Baixo Amazonas. Os profissionais foram indagados sobre atendimento de intoxicações, incluindo casos de acidentes com animais peçonhentos, considerando a conduta, evolução do caso e dificuldades vivenciadas. As entrevistas eram gravadas e os áudios avaliados pela equipe de pesquisadores. A pesquisa faz parte do projeto intitulado “Acesso a medicamentos na Amazônia: influência do fator amazônico sobre a assistência farmacêutica” financiado pela Inciativa Amazônia +10.
Resultado: Os profissionais relataram com maior frequência casos de acidentes ofídicos e uso abusivo de álcool e drogas. A região Amazônica tem incidência de acidentes ofídicos cerca de 5 vezes maior que o valor nacional, associado a isto, os soros antiofídicos são administrados apenas em ambiente hospitalar, localizados geralmente no perímetro urbano dos municípios, contrastando com os ambientes pobres e rurais onde acontecem a maioria dos acidentes. A principal dificuldade relatada pelos profissionais é a gravidade da situação dos pacientes ao chegar no serviço de saúde, consequência do longo percurso e meios de transportes lentos e precários, muitas vezes a pé, canoas e motos. Além disso, os entrevistados destacam que os medicamentos para tratamento de suporte em casos de intoxicações e antídotos ficam armazenados nas unidades hospitalares no perímetro urbano. As equipes e unidades de saúde nas áreas rurais não possuem estes medicamentos, criando mais um obstáculo para o acesso. Em relação ao uso abusivo de álcool e drogas, os profissionais destacaram como dificuldades o início precoce de uso da maioria dos jovens - na adolescência e algumas vezes acompanhados dos pais também usuários; a deficiência de tratamento específico nos municípios e a vulnerabilidade social em que se encontram os pacientes, o que dificulta o início e continuidade das intervenções.
Considerações finais: As dificuldades relatadas pelos profissionais atuantes no interior do Estado do Amazonas são previsíveis a partir das características da região, no que diz respeito à grande extensão territorial, baixa densidade demográfica, e dificuldade de acesso a meios de transporte. É importante destacar a necessidade de avaliação específica da região Amazônica e buscar alternativas adaptadas que promovam equidade na saúde da população, em especial às que vivem em áreas remotas.