Introdução: A Doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva que pode ser definida pela perda de neurônios na substância negra localizada no mesencéfalo. Seu diagnóstico é fundamentado principalmente em características motoras como tremores, bradicinesia e rigidez em roda dentada, além de outros sintomas não motores como: depressão, distúrbio comportamental do sono REM (Movimento rápido dos olhos), perda do olfato e declínio cognitivo. A epidemiologia da doença de Parkinson no Brasil está sendo amplamente estudada nos últimos anos, buscando compreender seus fatores de risco, distribuição geográfica e principalmente sua prevalência. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com o diagnóstico de Doença de Parkinson. Com o desenvolvimento da expectativa de vida no Brasil, estima-se que 200 mil pessoas vivam com a enfermidade. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), surge como uma proposta da Organização Mundial de Saúde, com o objetivo de ser uma ferramenta para classificação e identificação de fatores, que além da condição de saúde, interfiram na funcionalidade do paciente e na realização de atividades. Baseada em um modelo de saúde biopsicossocial, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, considera que não só a condição de saúde influencia diretamente o desempenho na realização de tarefas, mas também a interação entre os fatores de deficiência nas funções e estruturas corporais, limitação da atividade, restrição a participação e fatores contextuais, que irão englobar fatores pessoais e ambientais. Devido à alta incidência epidemiológica da Doença de Parkinson (DP), sendo considerado o distúrbio de movimento mais comum no mundo, o modelo de saúde biopsicossocial proposto pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, facilita a leitura do problema em um modelo mais ampliado, auxiliando o profissional a realizar a correlação das diversas variáveis que englobam as funções e estruturas corporais, atividade, participação, fatores ambientais e fatores pessoais, contemplando assim, as necessidades clínicas e pessoais desses pacientes, e favorecendo uma intervenção efetiva baseada em evidências. Objetivos: Descrever e caracterizar o perfil sociodemográfico e clínico dos pacientes com doença de parkinson atendidos em uma clínica escola de fisioterapia do Espírito Santo nos anos de 2022 e 2023 e identificar as disfunções mais prevalentes por meio de uma avaliação de modelo biopsicossocial, como proposto pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Método: Trata-se de um estudo descritivo transversal com abordagem quantitativa. Foram avaliados 25 prontuários de pacientes com Doença de Parkinson, atendidos em uma clínica escola de fisioterapia do Espírito Santo, de modo a investigar a prevalência das principais disfunções presentes na amostra. Foram incluídos pacientes adultos ou idosos com diagnóstico de Doença de Parkinson que foram avaliados utilizando a CIF como ferramenta de funcionalidade para identificar as deficiências de estrutura e função, limitação de atividade, restrição a participação e fatores contextuais (fatores ambientais e fatores pessoais). Foram excluídos prontuários cujo paciente possuía outras doenças neurodegenerativas diferentes da Doença de Parkinson ou outra doença neurológica associada, além de excluir prontuários incompletos e ilegíveis quanto às escalas de funcionalidade. Para a análise descritiva foi utilizado o programa Microsoft Excel ®. Para as variáveis quantitativas que apresentarem distribuição normal, foram utilizados média e desvio padrão, enquanto os dados com distribuição assimétrica foram representados por mediana e intervalo interquartil. Para avaliar a distribuição dos dados foi utilizado o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. As variáveis qualitativas foram representadas em frequência absoluta e relativa. O presente estudo foi desenvolvido conforme às normas vigentes expressas nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Resolução 466/12. Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética e aprovado pelo parecer de nº 5783735. Por se tratar de um estudo retrospectivo onde serão coletados dados de prontuário e não abordaremos o indivíduo diretamente, solicita-se a dispensa do uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Resultados: O perfil sociodemográfico da amostra populacional evidenciou maior prevalência do sexo masculino, sendo duas vezes mais afetada do que o sexo feminino. Este fato corrobora com a Diretriz da Pessoa com Doença de Parkinson, onde indica que a incidência é de aproximadamente 1,5 vezes maior em homens do que em mulheres. A amostra apresentou média de idade de 65,9 anos, sendo a maioria autodeclarada como indivíduos de etnia branca. Em relação ao perfil clínico, o período decorrido desde o diagnóstico da doença teve um predomínio do intervalo entre 5 e 8 anos. Entre as comorbidades não relacionadas a distúrbios neurológicos, 10 pacientes (40%) apresentavam hipertensão arterial, 4 (4%) apresentavam diabetes e transtornos mentais, enquanto 3 indivíduos (12%) apresentavam doenças endócrinas ou outras condições. Apenas 2 (8%) indivíduos eram ex-tabagistas ou etilistas, com alguma condição cardiopulmonar, doença ocular, câncer ou alteração no aparelho circulatório e sistema imunológico. Apenas 1 paciente (4%) possuía alguma condição ortopédica associada. No que se refere a prevalência das principais disfunções encontradas nos pacientes com a Doença de Parkinson, destacam-se a alteração de equilíbrio (17,70%), presença de tremores (17,70%), alteração da marcha (15,62%), presença de rigidez muscular (12,50%) e alteração na coordenação motora (11,45%). Em relação a limitação nas atividades encontradas nos pacientes analisados, a maioria dos pacientes apresentou limitação para o autocuidado (29,87%), deambular ou correr (22,07%) e para as tarefas domésticas (18,18%). Dentro da restrição na participação encontrada nos pacientes diagnosticados com doença de Parkinson, destacam-se a recreação e lazer (34,78%) e o trabalho remunerado (32,61%). Fica claro com o estudo, que conforme a doença de Parkinson progride, implica em um comprometimento maior da funcionalidade e da execução de atividades de vida diária.