Apresentação: O CAPS III é uma das quatro unidades de apoio psicossocial estabelecidas em Manaus - Amazonas, localizado na Av. Maneca Marques. Possui administração municipal e se insere na Rede de Apoio Psicossocial (RAPS) como uma unidade de Atenção Primária à Saúde Especializada (APS). O presente trabalho consiste em um relato de experiência desenvolvido por discentes do curso de medicina a partir de visita técnica ao Centro de Apoio Psicossocial III Benjamim Matias Fernandes, como parte das atividades da disciplina de Saúde Coletiva. Visitas e práticas equivalentes a essas são fundamentais para a formação médica, visto que, proporcionam uma compreensão objetiva e material das dinâmicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos desafios enfrentados pela gestão para execução dos serviços de saúde. Esse relato, objetiva descrever a experiência da visita, examinar as percepções durante esta e refletir sobre a gestão do CAPS. Relatos da experiência: Durante a visita, os discentes conheceram a estrutura do CAPS e tiveram a oportunidade de conversar com uma assistente social e dois psicólogos acerca do funcionamento e da gestão da unidade. Esta, por sua vez, destaca-se pela abordagem colaborativa e descentralizada, uma vez que, a tomada de decisões não é concentrada na figura do gestor. Esse modelo é evidenciado nas reuniões realizadas semanalmente às sextas-feiras, onde se discute acerca da gestão e sobre casos de pacientes, visando uma abordagem multidisciplinar aos serviços ofertados pelo CAPS, além de cumprir com o Projeto Terapêutico Singular (PTS). A visita técnica ocorreu em 15/05/2024 e consistiu em análise da área e estrutura do local, demanda e funcionamento. Foi dividida em dois momentos: roda de conversa e a seguir, reconhecimento interno do CAPS. No primeiro momento, foi possível conversar com dois psicólogos e com uma assistente social acerca da gestão, infraestrutura do local e demais dúvidas sobre o CAPS, no intuito de compreender a situação atual da unidade. No segundo momento, foi possível observar na prática a estrutura física e o funcionamento do CAPS III, visualizando-se as estratégias traçadas pela equipe de acordo com a infraestrutura, com vista a aproveitar de modo funcional e adaptado o espaço. Durante a roda de conversa com os profissionais responsáveis pela administração do CAPS III foram feitas perguntas sobre funcionamento, os projetos terapêuticos, modo de recepção e condução dos atendimentos aos pacientes vinculados e os de demanda espontânea. Foi relatado que o encaminhamento de pacientes em quadro de urgência e/ou de emergência são realizados para o Centro de Saúde Mental do Amazonas - CESMAM -, bem como seus distritos de atendimento: zonas sul, leste, oeste e parte norte de Manaus. Abordou-se a respeito da execução de consultas de acolhimento, sobre o perfil de paciente do CAPS (transtornos graves e persistentes) e o modo de condução terapêutico realizado por diferentes especialistas que compõem a equipe multidisciplinar, abordagem que reverbera o princípio de integralidade do SUS. Quanto ao acolhimento noturno, foi ressaltado tratar-se de um serviço dedicado aos pacientes já cadastrados no CAPS, sob crise psiquiátrica, com necessidade de suporte terapêutico; cujo intuito seria assegurar assistência contínua e integral, ainda que fora do horário convencional de funcionamento. A comunicação entre os CAPS e os CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) foi levantada e teve destaque, a relação que visa ampliar o suporte aos pacientes na obtenção de benefícios sociais, apoio psicossocial ou encaminhamentos para serviços especializados, fortalecendo assim; a abordagem interdisciplinar e holística no cuidado em saúde mental, promovendo uma rede de suporte abrangente. Resultados: Durante a roda de conversa, por meio de perguntas voltadas para a gestão e execução de planos terapêuticos coletivos e individuais, foi possível conhecer os entraves e as qualidades no funcionamento dessa estrutura de apoio psicossocial. Além disso, as perguntas realizadas evidenciaram os déficits de funcionamento do CAPS III, especialmente; quanto à sobrecarga no serviço já que este, contempla pacientes de quatro zonas da cidade de Manaus, e em consequência, esgota precocemente medicamentos importantes nas terapêuticas psiquiátricas, como HaloperidolG e RisperidonaG. Dentre as qualidades percebidas neste centro de atenção, citam-se: a estrutura física ampla e capacitada para atendimentos e realização de planos terapêuticos (individuais e coletivos); as atividades diversas que ocorrem de segunda à quinta, incluindo: piscina, horta, jogos, encontros terapêuticos, psicoeducação, música e outras que oferecem melhorias na qualidade de vida dos pacientes do CAPS. Na conversa com os gestores do centro foi debatido sobre as metas do plano municipal a serem cumpridas no ano de 2024/2025; das quais, somente algumas estão sendo cumpridas: a criação de três CAPS até o ano de 2025 e articulação com a Escola de Saúde Pública (ESAP), que propicia treinamentos em abordagem psiquiátrica para médicos da APS. A meta de divulgação nas mídias sociais, sobre saúde mental no CAPS em questão, ainda carecia desenvolvimento. Após a conversa, foi realizada visita pelos setores do CAPS, onde se pôde perceber que a estrutura externa necessita de melhorias, incluindo: pintura externa do CAPS a qual atrapalha a identificação do local e falta de estacionamento. Percebeu-se amplo espaço de atendimentos, sala de espera ventilada, recepção com ambiente agradável, dormitórios em bom estado (se necessário, acolhimento noturno) e áreas utilizadas para atividades coletivas bem preservadas e com boa utilização pelos pacientes adscritos. Considerações finais: A APS é estruturada sobre diferentes círculos do saber, não só tecnicista; mas humanista, social e sobretudo, burocrático. Ainda que as ciências médicas sejam importantíssimas, não seria completa sem um ordenamento que organizasse o fluxo de atendimento e, mais ainda, que prezasse pela interdisciplinaridade. Portanto, a visita ao CAPS III, possibilitou aos estudantes de medicina conhecerem parte da realidade do Sistema Único de Saúde; despertou o interesse sobre o funcionamento do sistema; estimulou a proatividade e liderança - saber enfrentar desafios do cotidiano, incluindo situações comuns como falta de medicações; além de possibilitar vivenciar atividades extraordinárias no decorrer das práticas médicas. Em suma, mostrou ao aluno algumas adversidades da profissão e soluções possíveis. Por fim, se observou o sucesso progressivo da APS; apesar dos entraves burocráticos ainda existentes, a Atenção Primária deu um salto na universalidade com a descentralização da gestão, constituindo uma rede que se expande continuamente.
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