Apresentação: O envelhecimento é um fenômeno mundial, mas heterogêneo na extensa área territorial do Brasil. Conhecer as peculiaridades dos contextos da população idosa torna-se desafiador para pesquisadores que estudam comunidades ribeirinhas amazônicas, pois exige um desprendimento incomum de si para a compreensão do lugar de pertença de outros.
Objetivo: realizar o treinamento teórico-empírico do olhar por meio de visitas técnicas exploratórias em duas comunidades ribeirinhas do Norte do Brasil, com foco na população idosa.
Desenvolvimento do trabalho: Estudo exploratório-descritivo, do tipo relato de experiência. As visitas foram de janeiro a março de 2024 nas comunidades ribeirinhas de Combú e Cotijuba, em Belém do Pará, para que houvesse aproximação do campo da pesquisa a ser realizada sobre representações sociais que envolvem o fenômeno da velhice, da saúde e do cuidado de idosos. Com a autorização da Secretaria de Saúde, profissionais e usuários, a pesquisadora acompanhou os Agentes Comunitários de Saúde nas visitas domiciliares aos idosos e observou a realidade sociocultural do grupo. Na ilha do Combú o acesso às residências ocorreu por barcos a motor (“rabetas”), enquanto em Cotijuba os locais mais distantes da Unidade de Saúde foram acessados por carro cedido pela Secretaria de Saúde.
Resultados: Olhar e ouvir cumprem importantes funções na pesquisa qualitativa, segundo expõe em sua obra o antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira. Nesse sentido, fazer incursões prévias no campo para explorá-lo tem em vista a sensibilização tanto teórica quanto empírica do pesquisador para apreensão das realidades da população. As condições de acesso às comunidades ribeirinhas demandam motivação do pesquisador para realizar investimentos de tempo e dinheiro com estudos direcionados a este grupo social. As visitas ocorreram no domicílio de 15 idosos e a maioria apresentou boa capacidade funcional apesar das limitações físicas provenientes de comorbidades como artrite e neuropatias. Os moradores da ilha do Combú vivem seu processo de envelhecimento próximo aos familiares que constroem nova família, entretanto continuam vivendo as margens do rio, enquanto Cotijuba é conhecida como “cemitério dos velhos”, pois há um grande número de idosos provenientes de outros locais de habitação, mas que também se situavam à beira do rio. As práticas tradicionais das comunidades voltam-se para o uso de plantas medicinais, confecção de artesanatos como a rasa e paneiro, colheita do açaí e de cacau, atividade de pesca e roçado. A principal fonte de renda de ambas as ilhas ocorre por meio do ecoturismo. A distância da área geográfica para chegar aos serviços de saúde é difícil, pois requer recursos financeiros e uma navegação que depende do nível de água do rio (cheia ou seca).
Considerações Finais: As visitas técnicas ampliaram o conhecimento sobre as questões socioculturais da comunidade idosa ribeirinha e apresentou um campo potencial para a aplicação de pesquisas direcionadas a construção do saber sobre o fenômeno do envelhecimento a partir da realidade vivida por um grupo social específico, além de reflexões sobre como aplicar um método de pesquisa nas condições territoriais das ilhas e a oportunidade para contribuição de estratégias no combate a estigmas e discriminações na velhice.