Apresentação: Desde o século XIX com a descoberta da tuberculose, práticas
estigmatizantes foram fortalecidas nas sociedades. Nas barbearias, bares e restaurantes os materiais usados pelos doentes eram separados e, nas pensões, talheres e louças deviam ser fervidas antes de serem reutilizadas. Entretanto, informações difundidas de forma reiterada nas relações de cuidado podem contribuir para a dinâmica de (des)construção de ideias equivocadas sobre a tuberculose e a pessoa com tuberculose, uma vez que os encontros dialógicos permitem a formação de vínculos de confiança e reconstrução dos sentidos, saberes e pensamentos.
Objetivo: Identificar as repercussões de saberes de senso comum sobre a tuberculose pulmonar e o cuidado a usuários no âmbito da Atenção Primária à saúde.
Desenvolvimento do trabalho: O estudo foi do tipo descritivo, qualitativo, baseado na Teoria das Representações Sociais em sua abordagem processual, que explora a construção de saberes de senso comum e suas influencias nas ações. Realizou-se em Estratégias Saúde da Família (ESF) do município de Belém do Pará. Participaram 30 usuários acima de 18 anos, com dois meses de tratamento para tuberculose pulmonar, cadastrados nas ESF. A coleta de dados ocorreu entre os meses de março e junho de 2022 por meio de entrevista semiestruturada. Os dados do perfil psicossocial e demográfico foram organizados em planilha Excel para tratamento estatístico e o produto das entrevistas foi submetido ao software ALCESTE (Análise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) que pela Classificação Hierárquica Descendente (CHD), Classificação Hierárquica Ascendente(CHA), rede de associação de palavras e unidades de contexto elementares, auxiliou na análise dos resultados.
Resultados: As relações interpessoais estabelecidas entre os profissionais e usuários durante o processo do cuidado influenciam nas atitudes dos sujeitos frente às orientações recebidas acerca da tuberculose. A confiança desenvolvida favorece na continuidade do tratamento, porém a presença dos léxicos “separar coisas” e “separar talheres” pronunciados pelos usuários como informações fornecidas dos profissionais de saúde, contribuem para a autoexclusão da pessoa com tuberculose da sua rede socioafetiva, inclusive da família. O enfermeiro é o principal responsável por orientar os cuidados sobre o tratamento e a transmissão da tuberculose, entretanto os saberes de senso comum cristalizados sobre a tuberculose reverberam na segregação do doente.
Considerações Finais: As orientações sobre os cuidados aos usuários repercutem no protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos, todavia é importante que tal saber esteja fundamentado em saberes científicos, pois a circulação de informações equivocadas aumenta a chance de atitudes estigmatizantes na sociedade. A Educação Permanente promove a valorização do profissional e consequentemente qualifica a educação em saúde às pessoas com tuberculose, familiares e comunidades, portanto, tais práticas devem ser estimuladas.