APRESENTAÇÃO
A aprendizagem colaborativa é uma forma de construir o conhecimento socialmente, na interação entre as pessoas, e não com a figura do professor como detentor do saber, que transfere o conhecimento aos demais. É nesta lógica que o Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem, por meio do subgrupo “Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão Práticas de Cuidado nos Cenários da Saúde (PraCCeS)”, vinculado a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e registrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil há mais de 15 anos, vem se organizando. Acredita-se que, por vezes, o rigor da pesquisa e a necessidade de aprofundamento teórico-científico que a ela exige, pode assustar e afastar os estudantes, em especial aqueles nos semestres iniciais, que estão em familiarização com o mundo científico, caso a inclusão nesse meio não ocorra de forma colaborativa e que faça sentido a eles. Algumas das características da aprendizagem colaborativa apontadas pela literatura são: aprendizagem ativa, colaboração e cooperação, mediação do professor, desenvolvimento de habilidades e competências socioemocionais, responsabilidade, autoconhecimento, valorização do diálogo, sentimento de pertencimento e diversidade. Entende-se que a organização pautada na aprendizagem colaborativa adotada no PraCCeS pode favorecer essa inserção e sobretudo a permanência no núcleo, bem como o desenvolvimento dos estudantes, seja qual for seu nível de formação. Assim, o presente estudo tem por objetivo relatar a experiência de organização de um núcleo de pesquisa, ensino e extensão baseado na aprendizagem colaborativa.
DESENVOLVIMENTO
Estudo descritivo, do tipo relato de experiência de membros do núcleo, sendo alguns vinculados há mais de nove anos, inseridos desde o ensino médio, graduação, mestrado e doutorado. Atualmente, o núcleo desenvolve pesquisas, ações de extensão e ensino sobre as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), com ênfase em hipertensão arterial (HA) e diabetes mellitus (DM), e nas doenças transmissíveis com ênfase na tuberculose (TB) e Infecções Sexualmente Transmissíveis. O PraCCeS, desde sua criação, foi liderado inicialmente pela professora Maria de Lourdes Denardin-Budó e, após sua aposentadoria, passou a ser liderado pela professora Maria Denise Schimith, antes vice-líder do grupo. A professora Laís Mara Caetano da Silva Corcini juntou-se ao grupo ao ingressar como docente na UFSM, em dezembro de 2016, e hoje conta com liderança compartilhada pelas respectivas professoras.
Desde sua criação, o PraCCeS teve por base a valorização dos saberes de todos os envolvidos, estimando o protagonismo e a inclusão na sua condução e organização. Atualmente, o grupo conta com acadêmicos de enfermagem dos mais diversos semestres, mestrandas, doutorandas, enfermeiras que atuam em diferentes serviços da rede, e profissionais da terapia ocupacional, fisioterapia e psicologia.
RESULTADOS
As metodologias ativas fazem parte da formação em diversas instituições de ensino, mudando a forma de se pensar e fazer a educação. Uma destas metodologias é a aprendizagem colaborativa, em que os membros do grupo saem de um papel passivo para serem protagonistas da organização e condução das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na realidade do presente relato, isso se torna possível, iniciando pela elaboração do cronograma do núcleo. Assim, a cada início de semestre é realizada uma reunião de apresentação e organização do cronograma dos encontros, que ocorrem de forma quinzenal. Os temas e propostas são definidos coletivamente, de acordo com as necessidades das pesquisas em andamento, sejam elas trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses ou relatórios de estágio pós-doutoral, ou ainda, por demandas assistenciais e educacionais identificadas. Definidos os temas e datas, os membros se organizam voluntariamente para assumir as atividades, conduzidas em sua maioria por estudantes e coordenada pelas professoras líderes do PraCCeS.
Entende-se que o conhecimento deve ser construído socialmente, sem a ideia de uma hierarquia de saberes entre estudantes de graduação e pós-graduação, e o processo ocorre por meio da interação entre todos do grupo, com abordagem respeitosa a partir da expertise de cada um. Nessa lógica, as professoras atuam na criação de um ambiente adequado, mediando e conduzindo para que todos se sintam acolhidos e capazes de desenvolver suas habilidades e as compartilhem com os demais membros, conforme exemplos de metodologias de aprendizagem colaborativa que serão relatados a seguir.
Ao longo da história do núcleo, ações vinculadas ao ambulatório do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) foram desenvolvidas, com a presença de bolsistas de extensão da graduação e mestrandas, atuando conjuntamente com as enfermeiras do serviço nas orientações e avaliação dos pés de pessoas com diabetes, supervisionadas pelas professoras. Ainda, projetos em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria, como a articulação com a Política de HIV/aids, IST e Hepatites Virais em treinamentos, eventos e pesquisas, contando com bolsistas da graduação, atuando colaborativamente com profissionais da rede, pós-graduandos e professores.
Outra atividade relevante no que tange o uso de jogos para a aprendizagem foi a gincana do dia mundial da saúde, uma ação de extensão, vinculada ao Centro de Ciências da Saúde (CCS) desenvolvida com café da manhã saudável, aferição da pressão arterial e uma gincana da saúde, na qual graduandos, pós-graduandos e professoras atuaram em conjunto. A gincana ocorreu sob a forma de uma amarelinha da saúde, na qual foram realizadas perguntas sobre hábitos de vida com respostas de “sim” e “não”. A depender das respostas as pessoas ganhavam anos de vida (avançavam na amarelinha), ou permaneciam onde estavam. O intuito foi promover a reflexão sobre os hábitos de vida entre os participantes externos ao grupo e, ainda, promover a aprendizagem e colaboração entre os membros do grupo que elaboraram as questões e conduziram a atividade.
No que tange ao ensino, duas edições de um curso acerca das DCNT foram desenvolvidas, com falas associadas entre professoras e graduandas, profissionais do serviço e pós-graduandas, fortalecendo o ensino e a aprendizagem colaborativa em todos os momentos. Nos encontros do curso foram utilizadas metodologias como a discussão de casos clínicos em grupo, sala de aula-invertida, rodas de conversa e dinâmicas, oportunidade na qual foi necessário o estudo prévio em duplas ou grupos para a condução do curso.
Ainda, outro exemplo é o compartilhamento das pesquisas antes da apresentação às bancas, isso desde os Trabalhos de Conclusão de Curso da Graduação, até as dissertações e teses, momentos nos quais todos possuem a oportunidade de contribuir para o aprimoramento da pesquisa e, ainda, há o compartilhamento do conhecimento em primeira mão com os membros do núcleo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que a organização e condução colaborativa das atividades do núcleo PraCCeS pode favorecer um ambiente de inclusão e valorização dos saberes, fortalecendo o sentimento de pertencimento ao grupo de pesquisa e o desenvolvimento pessoal e profissional de seus participantes. Além do mais, possibilita o envolvimento e o comprometimento de todos os integrantes, fazendo com que desde o início da formação profissional os estudantes desenvolvam habilidades de organização, criticidade e trabalho colaborativo.