O presente trabalho pretende trazer uma reflexão inicial acerca do termo “Ideologia de Gênero”. Termo esse cunhado, primeiramente, pelo Papa Bento XVI. O objetivo dessa pesquisa é instigar a reflexão sobre o termo e a relação dele com a comunidade LGBTQIAP+ (Lésbica, Gay, Bissexual, Pessoas Trans, Queer, Intersexual, Assexual, Pansexual, entre outros).
O avanço da sociedade e a disseminação das informações através da internet, tornou-a mais questionadora e menos passiva. Atualmente, é explícito perceber a pluralidade das pessoas que compõem a sociedade. Antigamente, as pessoas precisavam se encaixar em apenas dois gêneros (masculino e feminino) e uma sexualidade (heterossexualidade), como se houvessem caixinhas que aprisionassem as pessoas e quem estava fora dessa caixa, não era visto e nem considerado uma pessoa de bem. Isso fez com que a sociedade passasse a questionar os fatos e posicionamentos tanto de uma parcela da sociedade civil quanto das religiões cristãs, principalmente, da Igreja Católica.
A sociedade passou a ser menos passiva quanto aos argumentos do catolicismo e quanto aos comportamentos não aprovados por este. Para a igreja, a família tradicional e a heteronormatividade deveriam continuar como um paradigma a ser seguido pelas pessoas. No entanto, a população, que antes acreditava mais facilmente em tais argumentos, agora passou a questioná-los e criticá-los. O casamento tradicional ou família tradicional (pai, mãe e filho) não é mais o ideal de família e nem visto como a única forma de organização familiar. É necessário destacarmos que já existiam famílias com composições diferentes, porém eram vistas como uma família “errada” e que não condiziam com a visão Cristã Católica Apostólica Romana.
Nesse sentido, a Igreja Católica defende o casamento tradicional, pois utilizam do argumento de que essa é a constituição familiar aprovada por Deus, assim como, pautam suas falas na premissa bíblica que diz que Deus fez o homem e a mulher e que estes devem casar e procriar. Entretanto, é deixado de lado o fato de que os sentimentos e sexualidades humanas fogem a essa limitação imposta pela Igreja Católica.
Além disso, a Igreja afirma que, segundo a bíblia, a mulher é submissa ao homem. Esse pensamento favorece a perpetuação do patriarcado e a visão de que o corpo feminino é posse do homem, este então, usa do seu poder – poder este instituído pela construção social de que a mulher é a fêmea e o homem o humano – para tentar dominar o corpo e a mente femininos. Dessa maneira, o homem teria o poder de escolher pelas mulheres com quem estas casariam, quantos filhos teriam (sendo este a principal função da mulher, a procriação) e como se vestiriam, isto é, tornando-a um objeto a serviço do homem.
Isto posto, destacamos que a Igreja Católica afirma que o casamento tradicional (aceitável) é o casamento entre homem (macho) e mulher (fêmea), esses dois, obrigatoriamente, sendo heterossexuais para juntos formarem um lar cristão e procriarem muitos descendentes. Logo, todo ser que pensa diferente seria contra a família tradicional.
Dessa forma, essa população questionadora passou a se unir mais e a buscar espaço para que suas vozes ecoem na sociedade, buscando também respeito. Nesse sentido, a comunidade LGBT passou a mostrar que o amor é mais importante do que a sexualidade e a identidade de gênero. Todavia, o termo “ideologia de gênero” foi relacionado a essa comunidade – termo esse que foi utilizado pelo Papa Bento XVI, como dito anteriormente – de forma pejorativa. Então o termo “ideologia de gênero” surgiu com o foco de afirmar que a comunidade LGBT tenta alienar as crianças para que elas se afastem do ideal de família da religião cristã. Transformando a comunidade LGBT como um grupo de pessoas que está, o tempo todo, confrontando a igreja e a impedindo de disseminar o seu ideal de família. Entretanto, a comunidade busca o contrário, ela luta pelo direito de não ser demonizada por não ter que enxergar na família tradicional cristã um modelo de família. A comunidade acredita que a melhor família é onde se tem amor. Esse pensamento da igreja católica faz, também, com que as crianças que apresentam comportamentos diferentes do “ideal” sejam demonizadas e vistas como persuadidas pela comunidade LGBT e não como seres pensantes.
Para esta reflexão, foi feita uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados da Biblioteca Scielo e no Google Acadêmico com intuito de levantar literaturas publicadas em forma de artigos, com as palavras-chave: igreja católica e gênero; igreja católica e comunidade LGBT. Utilizando como critério de exclusão os artigos repetidos e os quais fugirem da temática da pesquisa.
Além disso, a reflexão aqui proposta se baseou em uma breve análise do Relatório “Homem e Mulher os Criou: para uma via de diálogo sobre a questão do gender na educação” publicado pelo Vaticano. Este relatório traz vários argumentos em defesa do gênero masculino e feminino como sendo os únicos existentes e afirma que o gender – a discussão atual sobre gênero – distancia a sociedade da ideia de homem e mulher como constituições naturais. A narrativa do relatório é pautada numa perspectiva educativa, ou seja, os argumentos contra a discussão sobre gênero seria uma forma de reeducar a sociedade que está se desviando do “destino” natural e biológico.
Nesse sentido, nos leva a crer que a comunidade LGBT deve permanecer à margem da sociedade, longe das crianças e dos cidadãos “de bem”, pois ela seria a grande culpada pela queda do “ideal” de família tradicional.
Podemos observar que com o auxílio de reflexões e críticas quanto ao termo criado pela igreja católica, as pessoas LGBT podem mostrar que a visão sobre a comunidade, além de distorcer a realidade, ainda coloca em risco a vida dessas pessoas, haja vista que são tidas como um mal social. Diante disso, essa grande evolução que a sociedade teve no final do século XX e início do século XXI, propiciou uma maior liberdade da sociedade – mesmo que com grandes obstáculos – a não aceitar passivamente as regras impostas pela Igreja Católica.
Essa pesquisa se propôs a uma reflexão acerca do termo “Ideologia de gênero”, que é associado à comunidade LGBTQIAP+ como uma prática de alienação da comunidade usada para afastar as crianças da heteronormatividade e do desejo de ter uma família tradicional. Entretanto, tal termo sequer foi criado pela comunidade, mas pela Igreja Católica, assim como, essa não é – e nunca foi – o objetivo da comunidade, que luta apenas por igualdade de direitos e por respeito à sua existência de modo geral.