Apresentação: A COVID Longa é uma condição multissistêmica que apresenta sintomas graves e que se desenvolve em três meses a partir do início dos sintomas, persistindo por dois meses, não havendo a possibilidade de ser explicada por diagnósticos alternativos. Após o período mais latente da pandemia de COVID-19, surgiram casos com sequelas evidentes e complicações de longa duração. Inúmeros são os sintomas relatados, dentre os mais frequentes estão o cansaço, dor no peito, perda de olfato, perda do paladar, tosse, sinusite crônica, dor articular, dor muscular, perda de memória, dificuldade na concentração, ansiedade, depressão, dor de cabeça, perda de cabelo, entre outros. Estima-se que mais de 65 milhões de pessoas em todo o mundo conviveram com a COVID Longa desde o início da pandemia. Considerando que a COVID Longa constitui uma condição de natureza complexa, caracterizada por uma variedade de sintomas heterogêneos, torna-se imperativo conduzir pesquisas acerca de sua prevalência, características e fatores associados. Tal empreendimento visa aprofundar o entendimento acerca dessa nova condição e desenvolver estratégias eficazes para seu enfrentamento. Salienta-se a escassez de evidências científicas referentes aos efeitos secundários de longo prazo da COVID-19, principalmente em países menos desenvolvidos e entre indivíduos que não foram hospitalizados, que apresentaram manifestações leves ou assintomáticas durante a fase aguda da infecção por COVID-19. Destaca-se, portanto, a relevância de conduzir novos estudos nesse contexto tanto para os profissionais do tempo presente como também para os que estão por vir. Logo, o objetivo deste trabalho foi analisar a prevalência de COVID Longa e os sintomas relatados em pessoas que tiveram COVID-19 na região metropolitana de Vitória, no Estado do Espírito Santo. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo observacional transversal realizado com 142 indivíduos acima de 18 anos, residentes na região metropolitana de Vitória, composta por sete municípios, que testaram positivo para a COVID-19 entre fevereiro e julho de 2023, que estavam registrados no sistema e-SUS vigilância em saúde e que assinaram eletronicamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos da pesquisa os participantes que não forneceram informações completas, que desistiram da entrevista ou que tiveram qualquer alteração neurológica ou cognitiva grave impeditiva de responder o questionário. Para coleta de dados, realizou-se entrevistas por meio de ligações telefônicas entre os meses de agosto e dezembro de 2023, com uma equipe previamente treinada. Os indivíduos que concordaram em participar, assinaram eletronicamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aqueles que não aceitaram assinar de forma online preencheram o termo via WhatsApp. Foram realizadas três tentativas de contato telefônico, e caso não tivesse sucesso, uma mensagem eletrônica era enviada explicando a pesquisa, convidando para participar e solicitando o melhor horário para que pudesse ser contactado. Os números de contato foram fornecidos pela Secretaria de Saúde do Estado do Espírito, contendo o nome, telefones e data do teste PCR-RT positivo para COVID-19. A coleta foi conduzida oralmente por telefone e preenchida pelo pesquisador através de um formulário eletrônico composto por perguntas relacionadas ao perfil e COVID Longa. O tempo médio da entrevista foi de 20 minutos. A amostra foi caracterizada quanto ao perfil sociodemográfico, econômico, comportamental e de saúde. Os indivíduos que relataram aparecimento ou persistência de sintomas em até três meses após contaminação, que tenham durado pelo menos dois meses e que não puderam ser explicados por diagnóstico alternativo foram considerados com COVID Longa. Foram incluídos na análise os sintomas relatados por mais de 10% da amostra. Este estudo é parte de um projeto primário intitulado ‘‘COVID Longa: prevalência, características e fatores associados’’, aprovado com CAEE n° 67843023.3.0000.5065 e cumpriu todas as normas estabelecidas pelas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da resolução 466/12. Resultados: Ao todo, 974 participantes foram elegíveis para o estudo, destes 775 não atenderam a ligação ou se recusaram a participar, 20 já haviam falecido, 11 não responderam devido algum comprometimento de saúde, 25 não assinaram o TCLE e 1 paciente foi excluído devido a ausência de dados do desfecho, totalizando uma amostra final de 142 participantes. Quanto ao perfil sociodemográfico, a idade da amostra obteve média de 45 anos, com a maioria (83,1%) situada na faixa etária entre 18 e 59 anos. A maioria pertencia à etnia preta e parda (54,2%), do sexo feminino (59,2%), com ensino superior completo ou mais (56,3%), com filhos (65,5%) e companheiro (55,6%). Quanto a distribuição geográfica, foram incluídos 34 participantes do município de Vitória, 42 de Vila Velha, 31 da Serra e 22 de Cariacica. Em relação ao perfil econômico daqueles que testaram positivo para a COVID-19, 74,6% eram pertencentes à classe trabalhadora. A renda fixa foi confirmada por 84,5% dos participantes, com faixa de renda média mensal situada entre R$1.320,00 e R$2.640,00 para 22,5% da amostra e apenas 12% recebiam benefício do governo. Sobre o perfil comportamental, os resultados revelam que a minoria relatou o hábito de tabagismo, apenas 17,4%, enquanto o etilismo foi relatado por 43,3% da amostra. Ademais, uma parcela relevante indicou a prática de atividades físicas (63,6%) e de lazer (78,3%). Quanto ao perfil de saúde da amostra, cerca de 99,3% relataram esquema vacinal completo e 36,6% tinham doenças prévias ao último episódio de COVID-19. A hipertensão arterial sistêmica foi a mais prevalente, com frequência 19% na amostra, seguida por doenças respiratórias (6,3%) e Diabetes Mellitus (4,9%). As Intervenções cirúrgicas prévias, foram realizadas em 46,2% dos participantes, sendo as mais comuns as obstétricas (16,1%), seguidas pelas gastrointestinais (11,2%), uroginecológicas (7%) e cirurgias estéticas ou reparadoras e ortopédicas (6,3%). Quanto aos sintomas relacionados ao último quadro de infecção por COVID-19, os mais frequentes foram fadiga ou cansaço (41,9%), dor osteomioarticular (37,8%), sintomas de vias aéreas superiores (35,6%), dor de cabeça (30,1%) e febre (27,9%). Quanto ao desfecho principal, a COVID Longa estava presente em 59,9% da amostra. Os sintomas mais prevalentes estavam relacionados a alteração da memória (31,8%), sintomas respiratórios (31,8%), fadiga e cansaço (28,2%), dores osteomioarticulares (17,6%), cefaleia (15,3%), dispneia (14,1%), sensoriais (14,1%) e alopecia (12,9%). Considerações finais: Encontrou-se uma alta prevalência da COVID Longa (59,9%), com predominância dos sintomas relacionados à memória e ao sistema respiratório. Dessa maneira, os dados apresentados enfatizam a complexidade da COVID Longa, ressaltando a interação entre fatores pessoais, socioeconômicos, condições de saúde e o curso prolongado da doença. Essas informações são essenciais para orientar estratégias de saúde pública e intervenções específicas, visando a compreensão e o tratamento eficaz da COVID Longa em diferentes contextos sociais e econômicos. Novas pesquisas com um número amostral maior são necessárias para esclarecer os determinantes da COVID Longa e melhor representação da população estudada.