Apresentação: As urgências odontológicas requerem atenção imediata e são prioritárias na Atenção Primária à Saúde (APS), e envolvem casos agudos ou agravamentos de condições crônicas. Com a pandemia de COVID-19, os atendimentos eletivos foram suspensos, devido ao alto risco de contaminação das equipes de saúde bucal, mas as urgências odontológicas continuaram sendo atendidas globalmente, e a decisão sobre a urgência de um procedimento foi baseada no julgamento clínico individual. Este trabalho visa avaliar o volume de atendimentos de urgências odontológicas na APS do Espírito Santo durante a pandemia de COVID-19.
Desenvolvimento do trabalho: Foi realizado estudo analítico, transversal, com cirurgiões-dentistas das equipes de APS do SUS no Espírito Santo. A população do estudo foi baseada nos dados do CNES de fevereiro de 2020, totalizando 999 profissionais. Os dados foram coletados via questionário eletrônico, entre 22 de maio e 27 de julho de 2020. A amostra foi calculada para 375 profissionais com um acréscimo de 10% para compensar perdas, considerou critérios de inclusão e exclusão específicos. A análise descritiva utilizou o teste qui-quadrado para investigar associações, com significância de 5%, através do IBM SPSS 20.0. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFES sob o Parecer Consubstanciado Nº4.035.957.
Resultados: Foram entrevistados 403 profissionais sendo o sexo feminino predominante (75,9%), com idade dos participantes variando entre 23 a 67 anos. Embora fosse esperado um aumento do atendimento de urgências odontológicas em virtude da suspensão de procedimentos eletivos, houve redução da média de atendimento diário dessas demandas (3,0 atendimentos/dia) quando comparado a média do período anterior a pandemia (5,2 atendimentos/dia). Esse fato pode ser decorrente da preocupação da população em geral de, ao buscar atendimento, contaminar-se com COVID-19. Expressivo percentual de profissionais (88,8%) fez uso apenas de prescrição medicamentosa como analgésico, antibiótico ou anti-inflamatório no atendimento. Os atendimentos mais prevalentes foram: pulpite irreversível (70%), seguido de abcessos dentários ou periodontais (67,3%). Cabe ressaltar que esses eventos demandam atenção clínica para alívio da dor, o que pode explicar a procura por atendimento mesmo em cenário pandêmico. Deve-se atentar ao fato de que a demora na realização dos procedimentos de urgência pode agravar lesões e doenças bucais, levando a tratamentos mais traumáticos, custosos ou mutiladores.
Considerações finais: Houve redução do número de atendimentos odontológicos de urgência durante a pandemia. Esta redução pode levar ao diagnóstico e tratamento tardios com agravos e demandas por tratamento mais complexos ou mutiladores. Também sinaliza a necessidade de uma maior preparo e organização dos serviços para enfrentamento de futuras epidemias. Profissionais capacitados para resolutividade nos atendimentos, comunicação clara com a população sobre os atendimentos disponibilizados e garantia de equipamentos e ambientes seguros para atuação na odontologia.