Introdução: A saúde pode ser definida não apenas como a ausência de doença ou enfermidade, mais amplamente, seria uma condição de completo bem-estar psicológico, físico, e social. Seguindo este parâmetro, durante as experiências práticas em campo vivenciadas até a realização do presente relato, foram observados amplos aspectos da comunidade de Jamaraquá, localizada em Unidade de Conservação (Floresta Nacional do Tapajós), no interior da Amazônia, município de Belterra-Pará, no que tange a assistência à saúde, saindo de um viés reducionista que volta a atenção somente para a doença e negligencia o contexto geral da ocorrência daquela patologia. Dessa forma, foram traçadas associações entre a situação em saúde dos moradores desta comunidade e os Determinantes Sociais em Saúde (DSS), que seria o conjunto envolvendo situações econômicas, bem como fatores socioculturais que precedem as relações étnicas e raciais, fatores psicológicos e comportamentais, que vão interferir na incidência de problemas de saúde e ameaças ao bem-estar do indivíduo. A comunidade visitada encontra-se fora do perímetro urbano, o que a torna mais suscetível a negligências, como a falta de assistência à saúde adequada ou em suprir qualquer demanda social daquela comunidade. Por esse motivo, faz- se importante a atuação das Instituições de Ensino Superior em tais locais, a fim de contribuir e minimizar os problemas sociais e de saúde enfrentados pela população. Ademais, a publicação de estudos relatando as fragilidades e iniquidades sociais presentes em comunidades no interior da Amazônia pode contribuir com outros estudos acerca da temática, bem como chamar a atenção do poder público para melhorias na assistência social e na saúde destas populações. Objetivos: O presente relato tem como objetivo descrever uma perspectiva sobre determinantes sociais e saúde de uma comunidade remota através da vivência de Acadêmicos do Curso Bacharelado em Farmácia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, realizado a partir da vivência de discentes, por intermédio da disciplina de Interação na Base Real - prevista na ementa do curso de Bacharelado em Farmácia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA - na qual os acadêmicos foram até a comunidade realizar um estudo sobre determinantes sociais e saúde, através da observação, onde foi mapeado e investigado os parâmetros de qualidade de vida dos moradores da comunidade, no período de 2023. O desenvolvimento da atividade se deu em três etapas, sendo que primeiro foi realizada a etapa de análise situacional, com a observação da realidade e mapeamento dos principais parâmetros acerca da qualidade de vida dos moradores com as pautas: aspectos físicos, históricos, qualidade de vida e tipos de habitação, manifestações e usos de conhecimentos tradicionais e populares. Na segunda etapa foram efetuadas entrevistas semiestruturadas com temática baseada em determinantes sociais, com destaque àqueles relacionados ao estilo de vida. A terceira etapa está relacionada às atividades da metodologia do Diagnóstico Rápido/Rural Participativo (DRP), que vem ser uma ferramenta que permite o levantamento de informações e conhecimentos da realidade da comunidade a partir do ponto de vista de seus membros. Resultados e discussões: Após a observação da comunidade e relato dos participantes pôde-se inferir que os moradores de diferentes residências adotam como principais formas de lazer o futebol, praia, igarapé, festividades, igreja e tempo em família; nos hábitos alimentares, o principal componente alimentar identificado foi o pescado; no consumo de álcool e outras drogas, foi identificado uso de bebidas de forma recreativa e o consumo de cigarros, porém, não houve relatos sobre quadros de dependência nesta etapa. Entretanto, durante a etapa de realização do DRP, na ferramenta “Árvore de Problemas”, que consiste em analisar conjuntamente a relação causa-efeito de vários aspectos de um problema indicado pelos comunitários, foi possível identificar através de relatos o consumo de álcool e outras drogas como um problema agravante para conflitos interpessoais, violência e isolamento social. Ainda no contexto do estilo de vida, foi relatada a interrupção do Projeto Saúde e Alegria - uma iniciativa civil sem fins lucrativos, atuante na Amazônia que têm como objetivo promover e apoiar o desenvolvimento integrado e sustentável da comunidade. O Projeto promovia uma série de interações sociais e culturais, que proporcionavam espaços de lazer e recreação na comunidade, visando minimizar o distanciamento geográfico e social destas. Vale ressaltar ainda, que as formas de ordenamento das moradias nestes distritos, e o auto isolamento social dificultam a interação entre os comunitários. Outra problemática é ausências de políticas públicas no incentivo às práticas socioculturais que estimulem lazer e bem-estar. No que tange ao lazer e a saúde, observam-se muitas limitações atreladas a este contexto, pois a comunidade dispõe de poucas opções de lazer, o que dificulta a prática de atividade física, a interação social e consequentemente a melhora da saúde psicológica e social destes. As políticas públicas devem atuar de forma holística, visando abranger todo o território e realizar o levantamento das principais iniquidades vivenciadas por estes comunitários. Considerações Finais: A experiência vivenciada sugere que a limitação de atividades de promoção do bem-estar em uma população residente de comunidade remota pode refletir negativamente em aspectos da integridade e das relações sociais, consequentemente, na saúde desta população. É essencial fortalecer os laços entre os comunitários para minimizar os problemas associados aos maus hábitos de convivência. Além do mais, a promoção de práticas esportivas e de lazer em uma comunidade é uma abordagem eficaz para incentivar as pessoas a reduzirem o consumo de álcool e drogas. Ao oferecer alternativas saudáveis e divertidas, é possível criar um ambiente propício para a adoção de estilos de vida mais equilibrados e positivos. Para que essa abordagem seja efetiva, é fundamental que haja o envolvimento entre a comunidade interna e externa, desde a criação de políticas públicas por setores responsáveis, como ainda o incentivo à participação por líderes locais e municipais. Ao proporcionar alternativas saudáveis e divertidas, é possível criar um ambiente que estimule a adoção de comportamentos mais saudáveis, fortaleça os laços comunitários e promova a qualidade de vida de seus membros. Além disso, toda a experiência permitiu aos acadêmicos envolvidos uma proximidade com a realidade local de extrema importância profissional e pessoal, visto que a saúde está em todos os contextos da vida humana, não somente em sua biologia.