Quando se fala em territórios, pode-se pensar e entendê-los com construções físicas e não físicas, mas principalmente constituído também por construções sociais que vão significar vantagens ou desvantagens locais, mas que podem ser aproveitadas em atividades diversas e por indivíduos diversos, onde cada atividade necessita de contextos organizacionais e institucionais específicos(ALBUQUERQUE & CASSIOLATO, 2002).
Nesse contexto, de território e territorialização a territorialização representa um instrumento importante de prática de saúde. Entendendo que muitas vezes, a saúde e suas ações dentro do SUS, se norteiam a partir de uma base territorial. E que com ela vêm a delimitação espacial já determinada previamente. Sendo estas ações práticas dentro da saúde, baseadas no processo de territorialização, dando voz aos territórios, às comunidades, às pessoas, e tendo na Estratégia de Saúde da Família, um caminho bem aberto para explorar esses caminhos(Monken e Barcellos, 2005).
Compreende-se portanto que uma organização e um caminho possível dentro do SUS, é o processo de compreensão dos território e a territorialização, como um projeto organizativo, mas também descentralizado, que atende a diversidade regional do país, possibilitando maior acesso às políticas de saúde, atendendo as necessidades locais e fomentando cada vez mais a participação social dentro do sistema de saúde (Santos. 2008).
Nesse processo de compreensão dos territórios, a utilização das plantas medicinais, surge como uma prática ancestral muito presente em vários locais no Brasil. Essa utilização é algo histórico, que atravessa gerações, estando presentes em comunidades tradicionais. Essa prática vem inspirada nos conhecimentos empíricos, levando em consideração as características locais e culturais de cada local (FRANCO.2000).
Para um maior incentivo dessa prática, já amplamente utilizada em território brasileiro, foi criada desde a VIII Conferência Nacional de Saúde (MS), foram criadas algumas propostas e estratégias. Sendo em 2006 criada a política nacional de plantas medicinais e a política nacional de práticas integrativas e complementares. Levando em conta e incluindo a fitoterapia como um meio de cuidado e acesso à saúde (DA SILVA G.J.M,2021).
Nesse sentido, objetivou-se investigar na literatura disponível, a relação entre a importância de se entender o território, por meio da territorialização, e como este instrumento pode ser um meio potente para o aprimoramento e fortalecimento da implantação da política de plantas medicinais no sistema de saúde.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma pesquisa de literatura a partir de textos científicos disponíveis de forma digital. Os textos científicos foram pesquisados nas bases de dados online Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), ScienceDirect, Scielo e Google Acadêmico, com recorte atemporal, no idioma português, de livre acesso, disponíveis na íntegra. A busca se deu através dos seguintes descritores: “territorialidade” “políticas de saúde” e “plantas medicinais”, utilizando a expressão AND. Foram excluídos materiais que se apresentaram em duplicata, que fugissem da temática proposta e que não estivessem disponíveis na íntegra.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para Saquet (2019), o território tem um viés multidimensional, vai abranger o aspecto material, mas também o aspecto não material. Nessa relação homem-território, se têm uma efetivação da relação de integração e de pertencimento, relação essa construída de forma histórica e geograficamente validada, em um contexto que envolve valores, crenças, e potencialidades que devem ser levadas em conta no processo de territorialização em saúde.
Nesse sentido, a territorialização em saúde, é uma importante ferramenta para que se planeje ações de saúde. Uma vez que tal instrumento possibilita que se conheça os mais variados aspectos do ambiente, como aspectos ambientais, sociais, demográficos, econômicos e, quais são os problemas de saúde de determinada população, ou de determinado lugar. Possibilitando que se desenvolva variadas intervenções, se crie vínculos que vão favorecer os vários tipos de cuidado e promoção de saúde. Favorecendo o fortalecimento do processo de regionalização da saúde, fazendo com que as políticas públicas de saúde acessem estes usuários da melhor forma (CARVALHO,2003).
A medicina popular vai utilizar as plantas medicinais, com uma função central de suas práticas de saúde, seu uso também ligado a sua fé e a um conhecimento que é passado de geração em geração. Já na medicina dita como oficial, o uso das plantas ocupam função periférica, tendo que dividir espaço com os medicamentos alopáticos e a descrença por parte da grande indústria farmacêutica (Saquet,2019).
A partir das atividades que advém do uso das plantas medicinais são práticas milenares, perpassam gerações e sempre foram utilizadas principalmente na prevenção e cura de doenças. (Barros,2006) Tais práticas, contribuem para o desenvolvimento comunitário promovendo a continuação e o fortalecimento dos conhecimentos das comunidades (Rodrigues, et al.2010).
Nas últimas décadas, foram registrados avanços importantes sobre a implantação e implementação de políticas públicas e programas que valorizassem as plantas medicinais e sua inserção no SUS, como um mais incentivo à promoção em saúde, dando opções terapêuticas, bem como promovendo um uso racional e um acesso seguro das plantas medicinais e dos fitoterápicos, e fortalecendo também a cadeia produtiva local e o uso sustentável da biodiversidade (Rodrigues et al, 2006).
Barros,2010, fala que apesar dos esforços que têm se visto e que têm sido empreendido pela atenção primária à saúde na realização da territorialização em saúde, sendo no modelo tradicional, ou nos novos modelos com mapas vivos ou falantes, ainda se têm uma lacuna, onde pode-se enxergar possibilidades se bem aproveitado.
Desse modo,entende-se o processo de territorialização como um instrumento potente, quando bem utilizado, para demonstração de ações de cuidado em saúde que partem da própria comunidade, como é o caso da utilização milenar das plantas medicinais, sendo ainda um meio para dar visibilidade às práticas das comunidades e inclusive fortalecer ainda mais o processo de implementação de políticas de saúde que são voltadas a tal temática e que já existem há mais de 15 anos dentro do SUS (BARROS,2010).
Acerca desse processo, no que diz respeito à saúde pública, e aos processos de promoção em saúde, vemos o território e a territorialização como um importante instrumento para crescimento e fortalecimento do acesso ao que entendemos por promoção de saúde. Foi possível também perceber na literatura que existe muita potência dentro dos processos de territorialização, sendo este um instrumento muito potente e bastante consolidado dentro do SUS.
Nesse sentido, este instrumentos pode ser entendido, para além do mapeamento técnico, visando o caráter de vigilância, mas têm potencial para muito mais. Uma vez que ele reflete as associações e organizações das comunidades, seus instrumentos sociais e de cuidado. Sendo importante também aprimorar este processo, no sentido social, dando espaço para que ele também mostre práticas ancestrais de cuidado em saúde.
Temos como exemplo para essas práticas, a utilização de plantas medicinais, que por vezes é o único meio que muitas comunidades utilizam como prática de cura. E por ser uma prática ancestral, a mesma se consolida em uma política pública de saúde que existe há mais de quinze anos, mas que ainda sofre um pouco com seu processo de implementação em algumas regiões.
Conclui-se que compreender o território, dentro do processo de territorialização em saúde, é um importante meio para que se fortaleçam também as práticas ancestrais e no caso das plantas medicinais, possa contribuir para o fortalecimento da sua ampliação, uma vez que a ampliação de tal política, irá agregar ainda mais no que diz respeito a uma saúde única, integral e regionalizada, dentro do sistema único de saúde.