Apresentação: Trata-se de um relato de experiência sobre o processo de construção de um Caderno que aborda a temática educação e saúde no Sistema Único de Saúde, no município de Betim/Minas Gerais, processo que ocorreu entre os anos de 2021 e 2023. Esse Caderno destina-se a ser um documento contextualizado a partir do município, onde estão reunidas reflexões conceituais nesse campo da educação e saúde, destinado principalmente aos profissionais dos serviços de saúde do município, cujo propósito é orientar as ações de educação em saúde e na saúde nos territórios e nas suas práticas cotidianas. Dessa forma, ele vem sendo escrito a várias mãos e reflete momentos de um trabalho coletivo que tem o início da sua sistematização no curso de extensão “Desenvolvimento de Referências Técnicas em Gestão da Educação Permanente em Saúde” ofertado pelo Laboratório de Planejamento e Gestão em Saúde/LAPLANGE do curso de Gestão de Serviços de Saúde da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais em 2021, do qual participaram profissionais da Diretoria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde (DGTES) do SUS Betim. A proposta de formação para os profissionais Referências Técnicas proporcionou aproximação baseada nos pressupostos da integração ensino-serviço entre todos envolvidos. Por integração ensino-serviço partilhamos o entendimento do “trabalho coletivo pactuado e integrado de estudantes e professores dos cursos de formação da área da saúde com trabalhadores que compõem as equipes dos serviços, incluindo-se os gestores, visando à qualidade de atenção à saúde individual e coletiva, à qualidade da formação profissional e ao desenvolvimento/satisfação dos trabalhadores dos serviços”. Desenvolvimento do trabalho: Essa interação e vivência constituiu-se em um espaço de trocas, reflexão e construção do conhecimento a respeito da Educação Permanente em Saúde (EPS), enquanto estratégia para o desenvolvimento dos trabalhadores da saúde e proposição de mudanças pretendidas no modelo assistencial. Dessa forma, no primeiro semestre de 2022 a DGTES participou como um campo de estágio curricular para os alunos do Internato em Gestão do curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC - Minas) - Campus Betim apresentando uma proposta para o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à gestão da Educação na Saúde, através da vivência no cotidiano do trabalho da DGTES/EPS. A partir das discussões entre universidade e DGTES sobre o objetivo dessa vivência e as possibilidades desse campo de aprendizado, foi construído um plano de trabalho de estágio a ser executado durante o semestre. Todo o processo foi baseado no emprego de metodologias ativas, visando a autonomia dos alunos e com objetivo de conhecer os serviços de saúde da gestão municipal, a EPS, seus pressupostos, diretrizes e metodologias. Os discentes junto com preceptor e equipe realizaram um levantamento sobre os diferentes temas e conceitos envolvidos, concomitante a um levantamento de necessidades de educação dos trabalhadores de uma unidade básica de saúde (UBS) do município. No segundo semestre de 2022, com a segunda turma do internato, a partir do levantamento realizado pela turma anterior, aprofundamos as discussões conceituais e escrita de textos para comporem o Caderno, bem como desenvolvemos um segundo levantamento sobre formação no cotidiano do SUS no contexto da pandemia de Covid-19. No primeiro semestre de 2023, recebendo a terceira turma do internato, continuamos a problematização conceitual e aprofundamos as discussões sobre as metodologias utilizadas para a implementação da EPS no cotidiano dos serviços. Aprendizados: A partir do desenvolvimento das propostas para cada grupo do internato verificamos que, entre os trabalhadores do SUS Betim participantes no contexto deste internato, não estão claros os conceitos de educação continuada (EC) e educação permanente em saúde (EPS). Através do estudo e problematização dos conceitos, avançamos para a distinção de metodologias aplicáveis aos campos da educação em saúde/educação na saúde, onde também observamos uma incompreensão conceitual pelos trabalhadores e gestores dos serviços. Verificamos também que a gestão precisa estar atenta às realidades de cada território e refletir sobre o impacto de suas ações e/ou diretrizes sobre o dia a dia do trabalho das equipes. Importante destacar como os discentes relataram seu aprendizado durante todo o processo, desde quando iniciaram as atividades e se mostraram descrentes sobre o que seria essa gestão (gestão da EPS), num momento da formação em que estavam mais interessados no desenvolvimento de ações assistenciais. Ao término das atividades propostas para cada grupo ficou evidenciado a percepção da importância, complexidade e desafios da gestão, e dos impactos das ações da gestão em área “meio”. Esse aprendizado trouxe reflexões importantes para a sua formação que foram partilhadas por eles na avaliação final de todas as atividades. Resultados: Essa vivência proporcionou aos envolvidos uma concepção mais assertiva das necessidades educativas dos profissionais, que acolheram a proposta de forma positiva, além da aquisição de conhecimentos do território ao qual o estágio se realizava frente às demandas de educação que foi o objeto dessa ação. O estágio foi realizado com foco na problematização e discussão a partir da aproximação e interlocução dos referenciais dos campos da educação e da saúde, no entendimento da suas singularidades e particularidades onde, a partir da realização de reuniões, discussões, filmes e documentários, leituras de textos científicos e de normas do Ministério da Saúde sobre a temática e da vivência de uma situação problema/atividade prática, buscou-se um aprofundamento e distinção entre os conceitos de educação em saúde e educação na saúde enquanto campos de produções teóricas e dos conceitos de educação continuada, educação permanente em saúde e educação popular em saúde. As informações coletadas no ano de 2023 servirão de subsídios para a gestão da EPS e contribuirão para o conhecimento da realidade referente à formação dos profissionais do SUS Betim nos pós pandemia de COVID-19. Considerações Finais: Durante todo o percurso dessa construção os discentes estiveram imersos no cotidiano da gestão da formação e desenvolvimento de ações educativas do SUS, acompanhando e fazendo parte da construção deste campo de prática. Vivenciaram as alegrias das pequenas conquistas e realizações e também as frustrações, a que estamos todos sujeitos nesta construção VIVA que é o SUS. A partir das experiências vividas demos um passo na direção da disseminação da capacidade de aprender e de ensinar inerente ao SUS, da problematização das nossas práticas e ações, do desenvolvimento da escuta qualificada e do reconhecimento da importância da participação e integração dos diferentes atores e saberes neste processo, que é o da produção de um cuidado humanizado.