PLANIFICAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE: A CONSTRUÇÃO DA COLCHA DE RETALHOS.

  • Author
  • Elenir Terezinha Rizzetti Anversa
  • Co-authors
  • Jaquieli Ghrun Franco , Jackeline da Rocha Vasques , Marta Oliveira Barreto. , Sandra Denise de Moura Sperotto, , Maria Cristina Fernandes Ferreira , Pedro Augusto Crespo da Silva , Marcélli Osório Dall'Astra , José Pereira de Souza
  • Abstract
  •  

    Apresentação: Cada vez mais, o mundo do trabalho demanda um cuidado eficaz com serviços de acesso facilitado, contínuo e abrangente, impulsionando novas formas de organização do trabalho em saúde. Nos serviços de saúde, é essencial o ato de colaboração nas práticas e nos locais de atuação. A colaboração parte da condição que as pessoas desejam trabalhar em conjunto, a partir de finalidades comuns compartilhadas, sem perder seus próprios interesses, autonomia e a interdependência. A construção de práticas colaborativas, perpassa, mesmo com a divisão do trabalho, existe uma relação de dependência entre os profissionais, baseadas na confiança com o outro.

     O processo de colaboração, convida a voluntariedade dos profissionais, engajamento e corresponsabilidade e negociação. A equipe que atua de forma colaborativa consegue desfechos mais positivos, modifica processos e transforma a abordagem individual em uma abordagem coletiva para atender as reais necessidades do usuário de forma singular, particularizada e com qualidade no cuidado, e ao mesmo, tempo propícia a satisfação dos profissionais de saúde.

    A prática colaborativa com o trabalho em equipe pode contribuir para melhorar o acesso universal e a qualidade da atenção à saúde. Na rotina diária das equipes, a operacionalização do trabalho interprofissional, se constitui como um desafio e tem sido conceituado como aquele que envolve diferentes profissionais, que juntos partilham o senso de pertencimento à equipe e trabalham juntos de maneira integrada e interdependente para atender às necessidades de saúde de um território. Além disso, há muitas tecnologias para melhoria do cuidado pelos profissionais de saúde no cotidiano. A metodologia da problematização (MP), é um processo de aprendizagem e disparadora na identificação de problemas, por meio da observação da realidade, pelo conjunto de profissionais que aspiram transformar a realidade, na busca de melhores mediações na melhoria do cuidado.

    A planificação da Atenção à Saúde (PSA), proposta pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), é uma metodologia para a organização de serviços de saúde e integração das Redes de Atenção à Saúde (RAS) no apoio para secretarias estaduais e municipais, sendo desenvolvida a partir construção social da APS. É  uma proposta prática que aborda a reorganizar o trabalho das equipes APS e das unidades de saúde, utilizando metodologias que desenvolvem habilidades e competências, através da educação permanente em saúde, com o Modelo de atenção às Condições Crônicas (MACC), para o gerenciamento e implantação de micro e macroprocessos de trabalho.

    Objetivo: Relatar a construção de uma colcha de retalhos realizada durante as oficinas da Planificação da Atenção à Saúde em uma Região de Saúde no Sul do Brasil.

    Desenvolvimento: realizado um estudo descritivo, tipo relato de experiência, utilizando a metodologia da problematização e práticas colaborativas na construção de uma colcha de retalhos. Durante as oficinas da Planificação da Atenção à Saúde, as facilitadoras no final de todas as oficinas presenciais, solicitavam avaliações de forma oral e/ou escrita, que descrevessem e/ou pronunciassem uma palavra que chamou a atenção e/ ou um conceito novo desconhecido, uma palavra que deu sentido à sua prática, sentimento desencadeado, desafios, etc. Também, no decorrer das oficinas, as facilitadoras observavam as palavras e os termos, mais pronunciados pelos participantes durante os trabalhos grupais, do alinhamento conceitual e os relatos dos desafios encontrados.  Ao final de cada oficina, as palavras eram anotadas em um caderno e transcritas em retalhos de tecidos, coloridos com canetas coloridas e costuradas aleatoriamente.  A construção da colcha, foi revelada aos participantes na VII ou VIII oficina, dependendo do município, quando as facilitadoras levaram a colcha já costurada com as palavras até então realizadas. Coube a cada um dos participantes dar continuidade em escolher a palavra mais significativa para eles no momento, do processo da planificação no seu território. A escolha da construção da colcha de retalhos, deu-se por nunca estar inacabada e correlacionando-a com o aprendizado, a beleza e a singularidade, está justamente na construção coletiva, na colaboração, na valorização do saber de cada um dos atores, de forma que cada um expressasse o seu sentimento em relação ao seu vivido no transcurso das oficinas. O poema de Cora Coralina, Colcha de Retalhos foi recitada aos presentes no final da oficina.

    Resultados: Várias palavras foram escritas nos retalhos: esperança, sonhadora, criativa, resiliência, justa, atenciosa, mudança, sentido, insistente, liberdade, estressada, responsável, determinada, acesso, longitudinalidade, acolhimento, PTS,  barreiras de acesso, única, solidário, motivado, metáfora da casa, destemida, produtiva, SUS, RAS, Integralidade, cuidado, condição crônica, condição aguda, território, estratificação de risco,  cadastro, Rede Bem Cuidar, população, linha de cuidado, construção social da APS,  repetitiva, trabalho em equipe, muito conteúdo,   possibilidades, evolução, Modelo de atenção  Condições Crônicas, gestão do cuidado,  autocuidado apoiado,  plano de intervenção, transformação,  processos que agregam valor  ao usuário, fortalecimento dos processos, tecnologias leves, escuta qualificada, planejamento, organização. etc.  Ao ser revelada e exposta a colcha de retalhos aos participantes das oficinas nos municípios, evidenciou-se vários os sentimentos, emoções.

     Para finalizar a oficina e a construção da colcha de retalhos, foi proferido o poema de Cora Coralina; Colcha de retalhos: “Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou. Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior….Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade…que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa. E penso que é assim mesmo que a vida se faz de pedaços de outras gentes que vão se tomando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados…haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma. Portanto, obrigada a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias. E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de ´nós’.”

     Com as palavras finais, a problematização foi realizada com a abordagem dialógica correlacionado a teoria com a realidade, com o vivido na prática no território. A metodologia proporcionou momentos de muitas trocas e aprendizagens e sensibilizou as equipes da importância do trabalho em equipe e trabalho colaborativo e também despontou o aprendizado.

    Considerações finais: a construção da colcha de retalhos aumentou da responsabilização no trabalho em equipe, a parceria, a motivação a integração, respeito. Possibilitou os profissionais perceberem que são os construtores do seu processo de trabalho. A metodologia utilizada evidenciou que mesmo com conceitos e alinhamentos, às vezes, um tanto denso, é possível a troca de aprendizagens com leveza e pertencimento.

     

     

  • Keywords
  • Educação Permanente em saúde, Redes de Atenção à Saúde, Atenção Primária à saúde
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
Back