A pandemia de Covid-19 demandou uma mobilização mundial fazendo com que grande parte da população voltasse seus olhos para a saúde em todos os aspectos, desde cuidados sanitários até mudanças nas relações sociais e organizativas. No Brasil, o Sistema Único de Saúde - SUS foi convocado a dar respostas efetivas a esse grave problema de saúde pública, reposicionando-o frente à opinião pública quanto ao seu alcance (universalidade) e importância. Este trabalho teve como objetivo analisar a percepção de pessoas diagnosticadas com covid-19 sobre o acesso ao sistema de saúde e acompanhamento relacionado à covid-19. Trata-se de um recorte analítico de uma pesquisa mais ampla, vinculada ao projeto “Efeitos psicossociais da pandemia de covid-19 em municípios no interior do sul do Brasil” financiado através da chamada CNPq/MCTI/FNDCT nº 18/2021. A pesquisa é qualitativa, sob a perspectiva da Psicologia Social da Saúde na interface com a Saúde Coletiva e a Análise Institucional. Foram selecionadas as transcrições de entrevistas com 14 pessoas diagnosticadas com covid-19 em um município do sudeste paranaense, nos meses de abril e maio de 2021, momento em que houve um pico de infecções e óbitos no município, gerando a sobrecarga do sistema de saúde. Em relação aos participantes, 7 eram mulheres e 7 homens, 3 responderam ter plano de saúde e 11 responderam fazerem uso do SUS. Entre os participantes, 8 foram considerados casos leves-moderados, demandando acesso ao diagnóstico e monitoramento. Já outros 6 participantes passaram por um processo de agravamento, demandando ainda internações e, alguns, acompanhamento para quadros pós-covid. A maioria dos participantes relatou uma percepção positiva em relação às respostas do SUS à pandemia, tendo de exemplo a seguinte fala de uma participante da pesquisa: "(...)eu acredito no SUS, (...) a gente sabe que tem muita falha, mas se a gente for ver em comparação a outros países a gente vê que o SUS é um sistema que funciona", reconhecendo também que as condições apresentadas naquele contexto eram bastante adversas. Enquanto o acesso ao diagnóstico e internações foram mais presentes no SUS, nos cuidados pós-covid observou-se migração de alguns participantes para o sistema privado, evidenciando um ponto de fragilidade do sistema. Estes dados operam no sentido de compreender as experiências relatadas pelos(as) participantes a respeito da resposta do SUS no enfrentamento à pandemia, evidenciando a importância dos princípios de universalidade e equidade presentes no SUS, enfatizando a saúde como direito de todos(as). Essas produções de sentidos operam como resistências à postura negacionista e neoliberal que perpassava as ações do governo federal e difundia-se em outros níveis de gestão, assistência e de segmentos da população no período pandêmico. Por fim, aponta-se a pauta de revalorização do SUS, bem como a necessidade de seu fortalecimento não apenas financeiro, mas também simbólico, de modo a valorizar os profissionais atuantes e agentes da ética de um cuidado a despeito do critério monetário, atendendo às demandas do usuário brasileiro considerando as singularidades individuais, coletivas e contextuais, somando forças para a defesa de uma saúde pública democrática.