Feminilidades, Masculinidades e Covid-19: Interferências na experiência de saúde-doença no contexto pandêmico.

  • Author
  • Heloísa Gabriela Hruba
  • Co-authors
  • Gustavo Zambenedetti , Alana Izadora Peppe
  • Abstract
  •  

    Aspectos referentes às condições desiguais de vida fizeram com que as pessoas apresentassem diferentes maneiras de vivenciar o processo saúde-doença no contexto da pandemia de covid-19. O gênero é um dos marcadores que atuam sobre a distinção dos corpos, modulando diferentes vetores nas experiências de saúde e adoecimento. O objetivo deste trabalho é analisar a interferência do marcador gênero na experiência de pessoas diagnosticadas com Covid-19. Foi efetuado um recorte analítico da pesquisa “Marcadores sociais da diferença nas experiências de pessoas diagnosticadas com covid-19”, tendo como perspectiva de análise a convergência da saúde coletiva, psicologia social da saúde e análise institucional, entendendo o gênero como uma instituição que se insinua sobre os modos de ser e estar no mundo, com efeitos nos processos de subjetivação. Foram selecionadas para análise transcrições de entrevistas realizadas com pessoas diagnosticadas com Covid-19 em diferentes momentos da pandemia. Os excertos selecionados constituem-se como analisadores das experiências de adoecimento por Covid-19 ou de vivência do contexto pandêmico, evidenciando dois aspectos significativos. O primeiro, relaciona-se aos efeitos da hierarquização de gênero, onde as mulheres são expostas à exploração das duplas ou triplas jornadas de trabalho com a sobreposição de funções (cuidados, trabalho externo, trabalho doméstico). Isso foi expresso na fala de uma participante, referindo que trabalhava fora e, ao chegar em casa, cuidava dos afazeres domésticos e cuidados com o filho. Já o segundo aspecto evidenciado diz respeito aos efeitos das masculinidades sobre o processo saúde-doença. Uma das participantes, ao comparar sua vivência da covid-19 com a do marido, relata a percepção de que para os homens tudo é mais difícil, assim como foi também na covid-19. Outro participante relata ter minimizado a covid-19, revendo sua experiência a partir do agravamento de seu quadro de saúde após o diagnóstico da doença. É preciso indicar que as práticas de saúde masculina cisheteronormativa, sustentado pelo discurso machista,  partem de uma rejeição do cuidado de si e do outro - sendo essa considerada uma prática feminina. Dessa forma, combinado com as práticas culturais relacionadas à masculinidade, como fumar e beber, envolver-se menos em medidas preventivas de saúde pública, como usar máscaras ou lavar as mãos e à demora na procura de cuidados de saúde, interferindo assim na percepção de saúde atravessado por questões de gênero. Além disso, cabe a discussão em relação a masculinidade e sobre a virilidade associada a esse gênero, que se produz a partir de um modelo cultural ideal que exerce sobre os homens, tendo como sensação a “invulnerabilidade masculina”. Conclui-se que as formas de vivenciar a masculinidade hegemônica podem vulnerabilizar os homens em relação ao autocuidado e cuidado do outro, assim como podem implicar em uma desigualdade na distribuição de tarefas, gerando sobrecarga sobre as mulheres. Aposta-se na possibilidade de produzir discussões que ampliem os repertórios sobre os modos de se constituir homens e mulheres, produtores de relações mais equânimes e protetoras de si e dos outros.

  • Keywords
  • Feminilidades, Masculinidades, Covid-19
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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