A Epidemia da Dengue na Atenção Primária à Saúde: Um relato de experiência

  • Author
  • Pâmella Pluta
  • Co-authors
  • Natalí Taísa Backes , André Ricardo Finger , Tauana Rabuske Dietrich , Tanandra Munique Hermanns , Lidiene Fortes Superti , Daniela Andrighetti , Moane Marchesan Krug
  • Abstract
  • A dengue, arbovirose transmitida pelo Aedes aegypti, pode ser assintomática ou causar sintomas sistêmicos como febre alta, mialgia, cefaléia, dor retroorbital, artralgia e náusea. Ressalta-se que, os extremos de idade, pessoas com comorbidades, gestantes, puérperas e lactantes possuem um risco aumentado para o agravamento da doença, caso não haja manejo adequado. As formas graves da dengue acarretam em hemorragias severas e comprometimento dos órgãos, e podem levar a óbito rapidamente se não forem tomadas as medidas necessárias.

    Neste ano observou-se um aumento expressivo dos casos em toda América do Sul, principalmente pelo seu clima tropical, propício para o desenvolvimento da dengue, além dos fatores do aquecimento global e poluição.  No Brasil, até março de 2024, foram notificados mais de 2 milhões de casos de dengue e 682 óbitos confirmados por conta da doença. Este quantitativo afetou todo o sistema de saúde, sobrecarregando os serviços e profissionais de saúde que atuam na ponta, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS). A APS caracteriza-se por ser a porta de entrada da população para o sistema de saúde, sendo, desta forma, um local estratégico, capaz de acolher as necessidades e proporcionar um acompanhamento integral e de qualidade aos indivíduos. Juntamente com outros serviços, como as Vigilâncias em Saúde, busca desenvolver ações de prevenção, manejo e controle das doenças como a dengue. Apesar dessas ações e do Brasil ser o país pioneiro em disponibilizar a vacinação contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo que não para todos os estados, observa-se uma superlotação dos serviços de saúde, tanto na APS, como também na área hospitalar, a sobrecarga dos profissionais e a diminuição da assistência para outras patologias importantes em resposta à epidemia atual. Sendo assim, o objetivo deste estudo é relatar o manejo e os possíveis impactos da dengue na APS do município de Santa Rosa, além de estratégias utilizadas para seu enfrentamento. Este relato de experiência foi aprovado pelo Núcleo de Educação e Pesquisa da Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa (FUMSSAR). O mesmo foi conduzido pelos Residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) em parceria com a FUMSSAR. O relato aborda sobre a situação da dengue vivenciada em todo Brasil, tendo como ênfase a experiência de Santa Rosa, uma cidade do estado do Rio Grande do Sul (RS), que liderou o número de casos no estado em 2024. Santa Rosa conta, segundo o Censo IBGE, com uma população de 76.963 pessoas, tendo no município 18 Unidades Básicas de Saúde (UBS), além de serviços secundários e terciários. Devido ao aumento exponencial dos casos de dengue, os serviços de saúde do município, dos quais a Residência Multiprofissional faz parte, precisaram se reorganizar para atender a epidemia desta doença e as demais demandas já existentes, onde a APS, coordena o cuidado, absorvendo a grande parte dos atendimentos. Inicialmente, observou-se alguns focos em determinadas áreas da cidade, principalmente áreas com riachos, com acúmulo de lixos e bairros mais vulneráveis. No entanto, em poucas semanas a dengue disseminou-se por toda cidade, gerando um aumento  de 5483 consultas na APS comparado ao ano de 2023, visto que os casos classificados como Grupos A e B devem ser manejados nas UBS e somente os casos considerados graves devem ser referenciados à urgência e emergência. Porém, esses por vezes permaneciam na APS devido a sobrecarga dos outros serviços. Neste momento, várias medidas foram tomadas para suprir as necessidades da dengue, uma delas que impactou diretamente no manejo da doença, foi a coleta de sangue para o hemograma na própria UBS, facilitando assim o acesso do paciente e o fluxo de atendimento. Esta amostra era coletada pela própria equipe de enfermagem da unidade e após o fim do turno era enviada ao laboratório, tendo o resultado em 4 horas. Outra estratégia adotada foi o auxílio de profissionais como dentista, nutricionista, farmacêutico, profissional de educação física e psicóloga nos atendimentos da dengue, por meio do preenchimento das notificações e dos cartões de acompanhamento, da verificação dos sinais vitais agilizando os atendimentos, acompanhados de um profissional enfermeiro ou médico, que estavam na linha de frente. Cabe ressaltar que ainda ocorriam os demais atendimentos, porém em baixa demanda. Somado a isto, atividades de conscientização também foram desenvolvidas pela equipe da APS nas escolas, enfatizando a importância de cuidados para eliminação dos mosquitos, sinais e sintomas da dengue e a importância da procura para atendimento no início dos sintomas. A  Sala de Espera também mostrou-se como um momento oportuno para realizar educação em saúde. Apesar de ser responsabilidade de toda equipe, pela grande demanda de atendimentos ficou sob responsabilidade dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias, que neste momento orientavam sobre a dengue e ofereciam soro de reidratação oral para a população que ali aguardava. Ainda, os agentes comunitários desenvolveram um papel importante na coleta de pneus devido à grande quantidade encontrada nas visitas domiciliares e, com o auxílio da comunidade, foi possível recolher e lotar um caminhão de pneus velhos de uma das áreas do município. Também realizavam visitas ao redor de seu domicílio para vistorias de pátios, fornecendo orientações sobre possíveis focos e como eliminá-los. De maneira bastante assertiva, as ações realizadas pela vigilância em saúde e FUMSSAR para manejo, controle e o monitoramento da dengue, como capacitação dos profissionais, realização de bloqueio vetorial (remoção mecânica e passagem de inseticida, borrifação intradomiciliar) e mapeamento digital dos casos, podem ser mencionadas como estratégias positivas neste quadro. O Exército Militar também contribuiu na limpeza dos riachos e de alguns domicílios, bem como na distribuição de repelentes para populações de risco, gestantes, idosos acima de 70 anos e profissionais da APS. Em meio à todas as estratégias acima mencionadas, em determinados momentos, as unidades de saúde trabalharam em horários diferenciados para atendimentos de dengue, como sábados, mas como a demanda era grande, por vezes não se tinha estrutura para tantos atendimentos, tendo que ser improvisado salas e suportes para soro. Para suprir esta necessidade, foi aberto um ambulatório a nível hospitalar para acompanhamento da dengue, onde os pacientes poderiam procurar atendimento aos finais de semana ou serem encaminhados para realizar hidratação venosa após o horário de funcionamento da unidade,  sendo aberto 24 horas. Cabe também refletir sobre o impacto no serviço de saúde, em especial a APS que, por vezes, teve que priorizar os atendimentos de dengue em detrimento das outras condições, como as doenças crônicas, prevenção à saúde, puericultura, pré-natal, entre outras atividades. Destaca-se também, a sobrecarga e exaustão dos profissionais que tiveram acréscimos de atividades de uma maneira repentina, além das suas funções já estabelecidas. Conclui-se assim que, apesar das dificuldades a APS de Santa Rosa desenvolveu diversas ações para lidar com o grande número de casos existentes, sendo protagonista e fundamental para o manejo adequado e de qualidade da dengue no município. Esta manteve-se de portas abertas para todas as demandas, mesmo superlotada e sobrecarregada, permaneceu com seus atendimentos e supriu grande parte dos casos de dengue.

  • Keywords
  • Dengue, Atenção Primária à Saúde, Gestão em Saúde
  • Subject Area
  • EIXO 3 – Gestão
Back