Apresentação: Trata-se de um relato de experiência vivenciado por discentes de Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Mestrado e Doutorado em Promoção da Saúde (PPGPS) de uma instituição de ensino superior do Sul do Brasil, que desenvolveram estágio docência na disciplina de Fisioterapia em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O estágio docência é uma prática valiosa em todos os níveis de ensino, pois reconhece a educação como um ambiente de interação entre diversos saberes. Ao promover debates que enfatizam a importância do conhecimento abrangente, interdisciplinar e crítico, permite o aprimoramento das práticas educacionais e a introdução de novas metodologias, melhorando a qualidade do ensino. A Promoção da Saúde é uma área temática abrangente, que possibilita integração e atuação multiprofissional, direcionando os profissionais para um objetivo maior, que é produzir saúde e empoderar pessoas para que sejam capazes de transformar a sua realidade. Assim, em 1986 a Carta de Ottawa, além de orientar profissionais de saúde a assegurar recursos para o acesso à saúde e capacitar pessoas para criar ambientes favoráveis, estabelecia a educação como pré-requisito para o alcance da saúde plena. A interdisciplinaridade surgiu nos anos 1970 para integrar conhecimentos de diferentes áreas do saber, em contraponto à educação por meio de disciplinas, instituída com a criação das universidades modernas, no Século XIX. Novos paradigmas nos campos do conhecimento oferecem uma visão integradora do ser humano em suas diversas dimensões, abrangendo aspectos físicos, biológicos, psicológicos, culturais, sociais e históricos. Educadores enfrentam, cada vez mais, a necessidade de ampliar suas práticas para integrar diversas áreas de conhecimento e experienciar novas formas de organizar conteúdos e currículos. Assim, por meio da interdisciplinaridade e da multidisciplinaridade, as ações estratégicas de ensino, gestão e saúde contemplam os objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas para 2030 em diversos aspectos. Garantir aos pacientes qualidade e segurança assistencial com sustentabilidade é um requisito fundamental para viabilizar qualquer serviço de saúde. Isso implica na capacidade dos profissionais em administrar a demanda por atendimentos e os processos de cuidado, otimizando recursos e resultados, tanto clínicos quanto financeiros. Para que isso ocorra, é essencial adotar uma visão de saúde integrada, que também leve em consideração os custos envolvidos nos tratamentos. As equipes assistenciais, embora muitas vezes não se envolvam diretamente na gestão das instituições, desempenham um papel crucial em seus resultados financeiros. A escolha e utilização adequadas dos recursos, evitando desperdícios, contribuem para a redução e/ou a otimização de custos sem comprometer a qualidade dos atendimentos. Para que essa prática seja instituída nas organizações de saúde, é necessário que seja incentivada desde a formação dos profissionais. Abordagens multidisciplinares devem ser adotadas para permitir aos estudantes ampliar sua perspectiva, despertando-os para uma visão holística da saúde, além dos conhecimentos específicos de sua área de formação. Ressalta-se que, durante a prática do estágio docência, o estagiário conduz aulas sob supervisão docente, com o estudante como protagonista do processo ensino-aprendizagem. A vivência lhe permite adquirir familiaridade com o ambiente e os conteúdos disciplinares, além da oportunidade de aprimorar suas habilidades didáticas, contribuindo para um valioso intercâmbio de conhecimentos e experiências de aprendizado. Objetivo: Desenvolver o senso crítico analítico da responsabilidade dos discentes sobre o uso adequado dos recursos disponíveis (materiais, medicamentos, gases medicinais e estrutura física), conhecendo suas características, formas de utilização e custos, no intuito de demonstrar o impacto das ações no meio em que estão inseridos e na sustentabilidade global e no quanto tais ações contribuem com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Descrição: Dois mestrandos do PPGPS, sendo uma bacharel em Ciências Contábeis e um fisioterapeuta , cursaram o estágio docência, tendo optado por desenvolvê-lo na Disciplina de Fisioterapia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de turma de graduação em Fisioterapia, no período de agosto a dezembro de 2023. Dentre suas atribuições, ministraram aula prática de gestão de recursos de saúde em UTI de um hospital-escola. Em grupos, os estudantes visitaram leitos de pacientes internados na UTI e receberam orientações sobre indicação e custo de cada dispositivo presente no suporte de vida do doente crítico avaliado. o que possibilitou o aprendizado de manejo de casos clínicos reais. Cada grupo recebeu documento com um caso clínico fictício diferente do outro, no qual eram descritas informações sobre os dispositivos utilizados e uma tabela com os custos reais dos itens elencados. A evolução clínica, o tempo de internação, a quantidade de dispositivos utilizados e seus custos totais, a partir dos valores unitários descritos na tabela, bem como o desfecho do paciente, deveriam ser construídos coletivamente. Os grupos se reuniram extraclasse, descreveram detalhadamente seus casos clínicos e compuseram uma tabela contendo os custos totais envolvidos no período de internação em UTI de seus pacientes fictícios. Posteriormente todos os casos foram apresentados, em sala de aula, para a turma e para o docente, momento em que os estudantes expuseram suas dificuldades para compor os custos, devido à falta de familiaridade com o tema, mas também perceberam sua importância e os impactos da mensuração e utilização incorreta nos resultados financeiros sobre os processos de saúde. Não foram apontados, pelos mestrandos, os erros nos cálculos apresentados pelos estudantes, uma vez que a intenção era provocar reflexões sobre a necessidade do uso adequado e racional dos recursos. Resultados: A experiência relatada foi substancial para a formação dos indivíduos que a vivenciaram. Tanto para os estudantes, que relataram aprender muito sobre sustentabilidade institucional e identificação de custos antes desconhecidos; quanto para os mestrandos, que incrementaram a sua formação docente. Ademais, os estudantes puderam perceber o valor pago pelo sistema de saúde, por seus serviços, e analisar possibilidades de melhorias a serem implementadas. Com a realização da atividade, os mestrandos trabalharam a proposta de que, além de desenvolver as habilidades técnicas específicas da área de atuação, adquirir algum grau de conhecimento de aspectos financeiros das práticas em saúde é fundamental e precioso para a formação acadêmica, convertendo-se em um diferencial aos estudantes. Buscou-se, com a prática, contribuir com o objetivo de desenvolvimento sustentável Saúde e Bem-Estar das Nações Unidas, que apresenta, entre suas diversas metas: o propósito de disponibilizar acesso a serviços, medicamentos e vacinas de qualidade, eficazes e seguros, propiciando a cobertura universal de saúde com proteção do risco financeiro; o incremento do financiamento da saúde, a formação e retenção de profissionais da área nos países em desenvolvimento. Considerações finais: A experiência evidenciou que, a necessidade de integrar práticas pedagógicas que abordem conteúdos relacionados à sustentabilidade na formação de profissionais de saúde, alinhando-se aos objetivos de desenvolvimento sustentável, é essencial para formar profissionais de saúde conscientes e preparados para os desafios atuais. A abordagem multidisciplinar e o uso de casos clínicos reais permitiram desenvolver uma visão ampliada dos cuidados prestados pelo fisioterapeuta aos pacientes críticos, vinculada aos aspectos de custos e resultados, estimulando os estudantes a contribuir com a eficiência e a sustentabilidade dos sistemas de saúde.