A Vigilância Popular em Saúde tem como princípio o protagonismo popular na produção da vida. Acontece desde cada organização territorial, emergindo da vida cotidiana, com práticas protagonizadas pelas pessoas que vivem e criam as possibilidades de sua existência cotidianamente. Essas ações são permeadas pela determinação social na produção da saúde. O objetivo deste trabalho é analisar ações comunitárias como práticas de Vigilância Popular em Saúde. Trata-se de um estudo de inspiração cartográfica, realizado no Rio Grande do Sul, no período de 2023 e 2024, aprovado pelo CEP com parecer CAEE 47591021.9.0000.8145. O processo cartográfico vem se dando junto aos movimentos populares de saúde, agroecológicos e de reforma agrária. Esses Movimentos trazem experiências de origem popular desde a leitura da realidade, que convergem pela produção de vida e, sobretudo, pelo protagonismo popular que atravessam as organizações desses movimentos. Há acompanhamento do ambiente e dos processos produtivos, como problematizações sobre o modo de vida e atividades de luta pela saúde, com foco no Bem Viver. Portanto, configuram-se em experiências de Vigilância Popular. Destaca-se o papel importante de resistência dos Movimentos ao seu modo de viver em comunhão com a natureza, numa perspectiva de não exploração caminhando num horizonte de integração e Bem Viver. O modo de se conduzir desses coletivos frente as situações vivenciadas, desde seus territórios e seus saberes locais, pode instigar e tensionar o modelo atual de Vigilância em Saúde a fim de que possa existir diálogos mais horizontalizados com os diferentes saberes. Dessa maneira, esses Movimentos instigam para a necessidade de compreensão de que somos natureza, de que nossos corpos são territórios e que também são indicadores de produção de vida ou de morte, assim como o ambiente e todos os seus seres. É fundamental essa compreensão para uma radicalização do nosso modo de condução de vidas, o qual está diretamente ligado ao modelo de desenvolvimento da sociedade. Propagar a potência criativa de vida, do encantamento, do Bem Viver, em coletividade e com solidariedade, desde a pluralidade e valorização de saberes e culturas é tarefa necessária para a continuidade de vida nessa terra. As práticas de Vigilância Popular em Saúde têm se constituído como um caminho interessante de articulação entre saúde/ambiente/cosmos, através dos compartilhamentos de saberes e das práticas da vida comum desde cada território, numa relação solidária entre vigiar e cuidar de todas as vidas.