Frequentemente nos deparamos no cotidiano das relações de trabalho em saúde com a reprodução de processos gerenciais vinculados à escola administrativa tradicional, com a ênfase colocada na burocracia, em regras e procedimentos previamente estabelecidos, em que os sujeitos envolvidos comumente se percebem alijados de sua potência criativa e de construção coletiva da autonomia. Em justaposição, aqui evocamos o debate acerca da ludicidade como possibilidade disparadora de um outro modo possível de conduzir os processos de ensino-aprendizagem que tenham em vista a formação da força de trabalho no Sistema Único de Saúde. Estas reflexões emergiram no percurso do gerenciamento da recente implementação de equipes interdisciplinares de apoio matricial na atenção primária no município de São Leopoldo, RS.
Tomamos de empréstimo a noção de ludicidade como um princípio formativo, em que a experiência oportuniza uma sensação de liberdade aos sujeitos, permitindo a entrega plena na vivência. No contexto de produção de saúde dentro dos pressupostos da clínica ampliada, a composição de um corpo técnico que crie as condições necessárias para efetivar a função de apoio requer o uso de tecnologias leves que considerem a participação ampla de todos os atores nos processos decisórios. Nesse sentido, acreditamos que a construção de uma abordagem organizativa que se realiza pelo efeito paidéia, na interação com a cultura, onde as pessoas desenvolvem suas possibilidades de intervenção sobre um campo estruturado, deve perpassar pela criação de uma ambiência acolhedora, colaborativa e, necessariamente, lúdica, que seja indutora de autonomia e torne possível, pela via do sensível, a implicação dos trabalhadores nas problemáticas e desafios colocados nos diversos territórios de existência por onde circulam as políticas de saúde.
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