Apresentação:
Para analisarmos a importância da educação continuada, contribuindo para o vínculo se tornar uma estratégia de saúde, no trabalho das agentes comunitárias de saúde(ACS), é necessário percorremos um caminho guiado a luz de Paulo Freire, onde seja possível compreender de qual educação estamos nos referindo e os efeitos que ela é capaz de movimentar em nossa sociedade, sobretudo, na profissão das ACS.
Antes de chegarmos em Paulo Freire, precisamos contextualizar o local que este trabalho ocupa e de qual contexto estamos nos referindo, perpassando assim, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), instituído através da Constituição Federal de 1988 e da lei Nº 8.080 de 19 de Setembro de 1990, que modificou todo o contexto da saúde pública brasileira. Com o SUS, a saúde brasileira começou a se modificar, sendo hoje, um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. Suas complexidades variam desde um atendimento com tecnologias leves, como uma avaliação da pressão arterial ou até mesmo atendimentos com tecnologias duras, como, um transplante de órgãos. Mas mais do que isso, o SUS, em suas disposições gerais, entende a saúde como um direito fundamental de todo ser humano e o Estado deve prover as condições necessárias para esse feito.
Contudo, é dever do Estado garantir os serviços de saúde para seus usuários, para que assim os princípios do SUS, como, a universalidade, a integralidade e a equidade possam ser colocados em prática, contribuindo para a diminuição de situações desumanas, devido a falta de assistência em saúde.
O SUS se organiza por níveis de complexidade, sendo eles, a atenção primária, a atenção secundária e a atenção terciária. Neste trabalho evidenciaremos a atenção primária, por ser o setor de atuação das ACSs, dentro das Unidades Básicas de Saúde e nas Estratégias de Saúde da Família e Comunidade (ESF), compondo as equipes obrigatórias, um médico generalista ou especialista em saúde da família, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, técnico ou auxiliar de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde, podendo haver variações quantitativas no número de profissionais.
A atenção primária à saúde, é a porta de entrada e, muitas vezes, o primeiro contato que a população possui com o Sistema Único de Saúde, ofertando um cuidado à saúde de forma integral trabalhando com a prevenção, a promoção da saúde, o controle de doenças crônicas, cuidados paliativos e a reabilitação. É um setor do SUS que se encontra mais próximo da realidade vivenciada no cotidiano dos usuários do SUS, tendo em vista, que as unidades básicas de saúde (UBS) se encontram dentro dos territórios e comunidades, perpassando o cuidado pelos vieses socioculturais, ambientais e econômicos.
As Agentes Comunitárias de Saúde, cumprem um papel importantíssimo dentro das estratégias de saúde da família (ESF) e na saúde pública brasileira, tendo em vista que participam de campanhas vacinais, conseguem em muitos casos que exista um diálogo entre a população e as estratégias de saúde da família, participam de campanhas sobre a importância do aleitamento materno, realizam rodas de conversas, fazem visitas domiciliares na casa das populações adscritas do território, entre diversas outras atividades. Além do mais, por morarem no mesmo território em que trabalham, estão inseridas nas demandas territoriais e podem enxergar com mais proximidade os determinantes sociais que as populações estão inseridas.
Mas para que exista um diálogo e uma proximidade entre as ACS e a população adscrita, onde a população participe das campanhas realizadas pela unidade de saúde, confie nas intervenções e até mesmo que leve para a unidade de saúde as inquietações presentes no território, o trabalho das ACS perpassa por um elemento fundamental, que é o: vínculo. Pois o vínculo é capaz de solidificar a relação, de trazer confiança para que as pessoas acreditem nas ações da ESF e sobretudo para que a ESF também reconheça e incorpore os saberes populares dos territórios.
Apesar da Política Nacional de Atenção Básica (2017), ter tido atualizações que corroboram para um desmonte silencioso da profissão das ACS, a política muito menciona a importância do vínculo no trabalho dos profissionais de saúde da atenção básica. Mas na literatura existem pesquisas que mostram uma banalização acerca do termo “vínculo” em saúde coletiva, fazendo com o que o vínculo não seja visto como uma estratégia, mas como algo pessoal e sem tanta importância.
Para tanto, a forma que temos de ter uma proximidade com as ACS, é através da educação continuada em saúde, respaldada pela Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS). Para que assim, possa ser trabalhado o vínculo como uma estratégia de saúde de grande potência no trabalho das ACS, que inclusive pode contribuir diretamente para a emancipação, autonomia e conscientização das ACS sobre a dimensão da importância do trabalho que realizam e que também contribuem para o elo entre a ESF e os usuários do SUS, corroborando de forma positiva para a saúde pública brasileira
Este trabalho tem como objetivo geral, a análise sobre como a formação continuada em saúde pode contribuir com as Agentes Comunitárias de Saúde para a tomada de consciência a respeito da importância do vínculo para o trabalho que realizam junto aos usuários.
Desenvolvimento do trabalho:
Trata-se de um trabalho de conclusão do curso de licenciatura em Psicologia do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (UNIFASE) PETRÓPOLIS (RJ). O método utilizado neste trabalho, foi a pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo e exploratório. O levantamento da bibliografia foi realizado através das plataformas Scielo e da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), utilizando os descritores “Agentes Comunitários de Saúde”, “Vínculo”, “PNAB”, entre outros descritores que foram necessários para a complementação do trabalho, além da complementação realizada por livros, revistas e artigos.
Resultados:
O trabalho ainda não foi concluído, mas até o momento percebe-se que a educação continuada em saúde, é uma ferramenta importantíssima que pode conscientizar as ACS acerca da importância do vínculo no trabalho que exercem com os usuários do SUS, pois a educação é uma estratégia que emancipa e liberta o sujeito. Sendo ela uma ferramenta política e libertária, capaz de trazer consciência ao sujeito de uma realidade antes não pensada, o que implica diretamente em sua forma de ver e viver no mundo.
Considerações finais:
O vínculo precisa ser visto e pensado através da educação continuada em saúde, como uma estratégia, sobretudo, no trabalho das ACS. Pois educar as ACS para a importância do vínculo, pode ser uma grande ferramenta de mudança e de apropriação sobre o trabalho em que realizam, levando a uma conscientização e emancipação.
Se faz necessário pontuar, que para além de pensarmos a educação continuada trabalhando a importância do vínculo entre ACS e usuários, dentro de toda a ESF o vínculo é primordial em todas as relações existentes, entre as próprias equipes de saúde e entre os profissionais da ESF e os usuários. Pois o vínculo é o pilar que cria o elo entre a ciência e o saber popular, entre a população e a Estratégia de Saúde da Família.