PROGRAMA MULTICAMPI SAÚDE DA CRIANÇA: Perspectiva de estagiários em Serviço Social no acolhimento de crianças com TDAH e TEA em Belém do Pará

  • Author
  • Carlos Matheus Matos Santos dos Santos
  • Co-authors
  • Cristina Maria Areda-Oshai , Alice Estefani Nascimento dos Santos , Leticia Vitoria dos Santos Miranda
  • Abstract
  • APRESENTAÇÃO O Programa Multicampi Saúde da Criança, sob a coordenação geral da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará, desde seu início em março de 2019 já proporcionou a imersão de aproximadamente 768 estudantes de 10 cursos da área da Saúde, em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégias Saúde da Família (ESF) situadas em Belém/Pará e em alguns outros municípios. Dentre os objetivos do Multicampi destacamos integrar ensino, serviço e gestão visando à qualificação da formação e trabalho profissional no âmbito do SUS, assim como integrar estudantes, tutores e preceptores em processos de trabalho estimulando a intervenção sob a perspectiva inter e multiprofissional. Embora a ênfase seja a saúde da criança, o olhar ampliado acabou alcança as famílias e comunidade onde vivem as crianças. Este trabalho apresenta percepções e aprendizados adquiridos por estagiários do curso de serviço social, relacionados ao trabalho de assistentes sociais na saúde, particularizando o acolhimento de crianças vivendo com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e/ou Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), e de seus responsáveis. O trabalho foi elaborado a partir da observação participante viabilizada por imersão em uma unidade de saúde em torno de 20 dias; em complementaridade foram realizados levantamento bibliográfico e documental. Serão destacados dois (02) acolhimentos, dentre os vários que nos chamaram a atenção. DESENVOLVIMENTO O conceito ampliado de saúde e princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS), como igualdade e universalidade, integralidade, entre outros, propiciaram o reconhecimento de assistentes sociais, como trabalhadores da saúde. Na condição de estudantes, pudemos observar variedade de demandas e compreender quais se aplicavam ao serviço social. Assim, a escuta ativa dos responsáveis por crianças vivendo com TEA e/ou TDAH nos remeteu à dimensão social das vidas e realidades dos sujeitos envolvidos. O primeiro acolhimento envolveu uma gestante, negra, genitora de uma (01) criança com três (03) anos de idade incompletos. Ao final do acolhimento com a assistente social, a usuária destacou o seu interesse pelo acesso ao atendimento especializado voltado às crianças com TEA, pois embora a sua filha já estivesse inserida em um centro de referência especializado, a conclusão do diagnóstico dependia de exames complementares, ainda não viabilizados.  Relatou que a criança apresenta atraso na fala, estando em acompanhamento por fonoaudióloga; têm algumas dificuldades de interação social, sendo mais acessível com a mãe, que não trabalha no mercado formal e com quem passa a maior parte do tempo. Pela escuta ativa apreendemos que outras pessoas da família também vivem com TEA e/ou TDAH, inclusive o genitor da criança. Pelo diálogo verificou-se também que a família, à época, ainda não tinha acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), devido à inconclusão do diagnóstico. Chamou atenção o uso da tela pela criança, que se mostrou alheia aos contatos e tentativas de interação feitas por nós. Indagada sobre o tempo e frequência com que a criança utilizava a tela, a genitora informou que essa foi a única alternativa encontrada para distrair a criança e deixa-la calma (sic). O segundo acolhimento envolve uma criança com três (03) anos incompletos e seus genitores, todos negros. O primeiro contato com a família ocorreu durante uma visita domiciliar, onde foram compartilhadas informações sobre a rotina da criança e suas necessidades de saúde. Observou-se rotina intensa de cuidados com a criança, tendo sido verbalizado pelos genitores o desconforto que sentem com comentários externos acerca do diagnóstico positivo para TDAH. Foi mencionado que esse desconforto os mantém reclusos em casa. O segundo contato ocorreu na UBS, quando foi proporcionado à criança, que é acompanhada pela Unidade, uma atenção multiprofissional. Essa atenção oportunizou a participação de estudantes dos cursos de serviço social, odontologia, terapia ocupacional, fisioterapia e nutrição, que contribuíram com a realização de avaliação odontológica, nutricional, dentre outras, cabendo ao serviço social a escuta especializada da genitora no que compete à essa área profissional. RESULTADO A integralidade é um termo polissêmico, cujos significados extrapolam a atenção combinada entre os níveis de complexidade, como inicialmente atribuído ao termo. Na perspectiva do serviço social o atendimento integral também compreende a escuta ativa voltada aos determinantes sociais que, nem sempre, são visíveis e considerados em consultórios e salas de atendimento. Como mencionado na primeira situação, compartilhada no item anterior, embora tenha sido verbalizado pela genitora que o uso de tela seria para acalmar a criança, entende-se como recurso alternativo à falta de acesso a espaços adequados para a realização de atividades lúdicas e terapêuticas. A iniciativa da genitora remete ainda à necessidade de distração da criança, para que seja possível realizar atividades necessárias à reprodução social, inclusive atividades econômicas informais. Na segunda situação apresentada observou-se o quanto o cuidado diário de crianças que necessitam atenção especial é desafiador, exigindo por vezes dedicação em tempo integral dos genitores ou responsáveis. A visita domiciliar proporcionou a observação do ambiente domiciliar permitindo uma melhor compreensão sobre a dinâmica familiar. Chama atenção o estigma gerado em torno de pessoas que vivem com transtornos neurológicos e, por outro lado, o quanto os seus cuidadores ainda carecem de acolhimento para o cuidado de si. O atendimento multiprofissional apontou para uma atenção integral à criança, reafirmando a grandeza e importância do SUS. Nessa atenção, coube à assistente social a escuta ativa para identificar demandas sociais e realizar as orientações e encaminhamentos necessários. Foram realizados encaminhamentos internos para a profissional de psicologia, considerando observações e narrativas dos genitores; e externos para o centro especializado no qual uma das crianças é acompanhada, verificando possíveis pendências relacionadas à realização de exames complementares. No contexto da visita domiciliar, a assistente social, orientou os genitores sobre medidas de segurança a serem adotadas no domicílio para reduzir riscos de acidentes com a criança. Assim, o enfrentamento aos determinantes sociais em saúde exige ações interprofissionais, que subsidiem o desenvolvimento de uma consciência sanitária, capaz de reposicionar sujeitos para o reconhecimento de direitos e deveres; e ações intersetoriais que promovam transformações nos territórios e nos espaços institucionais visando à resolutividade das situações apresentadas com a celeridade necessária. CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência oferecida pelo Multicampi foi de valor inestimável para nossa formação como estudantes do curso de serviço social, visando trabalhar na área da saúde. A imersão na UBS e o conhecimento sobre realidades, possibilidades e desafios do SUS foram um divisor de águas na nossa formação, nos preparando para futura atuação profissional. Durante a realização do estágio observou-se que as dificuldades enfrentadas no cotidiano de famílias com crianças que vivem com TEA e TDAH extrapolam a definição de um diagnóstico. Os genitores ou responsáveis, precisam enfrentar o preconceito intrafamiliar e social, prestar os cuidados especiais que as crianças necessitam, comparecer às unidades de saúde, conciliando tudo isso com as atividades garantidoras da reprodução social. O serviço social tem as políticas sociais como base de sustentação funcional-ocupacional e o dever ético para atuar, de forma intransigente, na defesa dos direitos sociais de seus usuários. Assim, espera-se a escuta ativa e postura competente para a intervenção qualificada que mobilize atuações multiprofissionais e intersetoriais, capazes de concretizar a atenção universal, equânime, intersetorial e integral. 

     

  • Keywords
  • Serviço Social; TEA; TDAH; SUS.
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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