APRESENTAÇÃO: A ajuda mútua baseia-se no princípio de que a reunião em pares contribui para o fortalecimento de pessoas que partilham de uma mesma condição, e que juntos encontram meios para lidar com seus diferentes desafios pessoais. O dar e receber mútuo é considerado como uma ação terapêutica. O compartilhar de experiências, sentimentos e formas práticas no manejo de problemas ajuda as pessoas a melhorar e lidar melhor com a vida. O apoio mútuo vem sendo estimulado como estratégia de cuidado nos serviços de saúde. As diretrizes do Ministério da Saúde apontam para o desenvolvimento de ações de mobilização de recursos comunitários como modo de fortalecer os cuidados em saúde mental na atenção básica. Esses grupos podem representar um suporte às pessoas durante períodos de ajustamento a mudanças, no enfrentamento de crises ou ainda na manutenção ou adaptação a novas situações. Os grupos de autoajuda são considerados importantes fontes de apoio, pois reúnem pessoas com o mesmo objetivo, dificuldades, necessidades e podem colaborar com o apoio necessário às pessoas e suas famílias. Grupos de mútua ajuda representam alternativas viáveis e eficazes para diversas questões presentes na sociedade, em especial, situações de saúde mental. A partir disto, esse relato tem como objetivo apresentar experiências vivenciadas por acadêmicas de enfermagem em um grupo de auto mútua ajuda em saúde mental, grupo “(Com) Vivências” que objetivam proporcionar às pessoas momentos de diálogos e escuta ativa, métodos de autocuidado e momentos de descontração. DESENVOLVIMENTO: O presente trabalho é um estudo descritivo do tipo relato de experiência. As atividades foram realizadas por acadêmicas do curso de Enfermagem, da Universidade Federal do Pampa, no ano de 2023 entre os meses de abril e agosto e ocorreram durante a realização das curricularização da extensão propostas na disciplina de Gestão do Cuidado II. As atividades ocorreram semanalmente no espaço de um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), em parceria com uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) no município de Uruguaiana da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul e a Unipampa, os encontros duravam em média uma hora e meia. A divulgação do projeto ocorre por meio da plataforma digital Instagram e também com cartazes e panfletos distribuídos na ESF de referência e convites realizados pela equipe de Agentes Comunitários de Saúde durante as visitas domiciliares. O local onde as atividades são realizadas conta com área interna bem estruturada e externa bem arborizada que, dependendo do clima, pode ser utilizado, também são desenvolvidos encontros itinerantes como passeios, piqueniques e atividades no domicílio das participantes. Geralmente as atividades são apoiadas por uma acadêmica bolsista do projeto, docentes e discentes do curso de enfermagem e um agente comunitário de saúde da ESF. Foram vivenciadas pelas acadêmicas 15 encontros temáticos, os quais adotam também dinâmicas selecionadas e conduzidas de maneira colaborativa, configurando-se como um estímulo para as pessoas expressarem sua vivência no momento. O grupo contava com a presença de seis participantes, em média, geralmente são mulheres, com idade entre 32 e 70 anos, sem ocupação formal (donas de casa, aposentadas ou pensionistas).
RESULTADOS: Percebeu-se uma participação ativa das participantes, que contribuíram com ideias, opiniões e decisões no momento das reuniões, que eram organizadas de maneira que atendiam as necessidades e demandas de cada uma, não se restringindo ao interesse profissional. O direito ao exercício da fala, opinião, ponto de vista, bem como do silêncio era valorizado e respeitado. Por serem compostos e dirigidos pelos próprios membros com ajuda dos estudantes, os grupos apresentam uma dinâmica horizontalizada, em que um não deve se sentir superior ao outro, buscando juntos uma saída para problemas comuns, não havendo divisão entre aquele que presta ajuda e o que a recebe. Quando emergem aspectos que mobilizam membros do grupo, eles são incluídos no diálogo, mesmo se distintos da temática proposta inicialmente. Dentre as temáticas que foram abordadas nos encontros temos a prevenção de saúde, estratégias não medicamentosas de cuidado em saúde, uso crítico de fármacos, alimentação e estratégias de acolhimento às experiências sensoriais (vozes, visões e sensações). Também, discutiu-se sobre rede de apoio, aspectos da vida que nos fazem bem, como caminhos para enfrentar desafios e medos. As participantes compartilhavam seus depoimentos de vida e moveram-se afetivamente nas danças circulares, que favoreceu a conexão, o afeto e também serviu para melhorar o condicionamento físico, além de ter se mostrado uma ferramenta de descontração e alegria. Houve ainda um passeio, com jogos e mesa partilhada, no qual as integrantes do grupo puderam conhecer a Universidade, uma vivência referida pelas participantes como prazerosa e descontraída. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Essa experiência possibilitou verificar que as participantes encontram no grupo um momento onde podem estabelecer relações e amizades, acolhimento, cooperação e apoio mútuos, além de apoiar no enfrentamento da solidão, muitas vezes relatada por elas, que diziam esperar ansiosamente pelos encontros semanais, pois ali elas poderiam interagir. Notou-se que neste grupo foram formadas amizades e diferentes redes de apoio, em que elas se ajudam mutuamente a superar suas dificuldades, encontrando-se frequentemente fora do grupo. Também, notou-se que as atividades propostas ajudaram a promover uma melhora na autoestima e na autonomia possibilitando uma nova visão sobre suas condições de sociais e de saúde, contribuindo para melhora na qualidade de vida das participantes. Pode-se perceber que o trabalho de grupos na atenção primária em saúde parece representar uma alternativa assistencial em saúde mental, assim como parece um recurso terapêutico potente capaz de incidir nos mais diferentes contextos da vida das pessoas. Cabe destacar que estes espaços favoreceram o aprimoramento de todos os envolvidos, inclusive das estudantes, no aspecto profissional a partir de conhecimentos e experiências que foram obtidas e vivenciadas, mas também no âmbito social e político e pessoal. Compreendeu-se que por meio da valorização dos diversos saberes e da possibilidade de intervir criativamente no processo de saúde-doença de cada pessoa caminhamos em direção a ampliação da clínica. Ainda, que o compartilhar de experiências, sentimentos e formas práticas no manejo de desafios aumenta as chances de encontrar alternativas mais favoráveis e menos iatrogênicas de cuidar de si. Assim, promover grupos de saúde mental, em especial de auto-mútua-ajuda, parecem fortalecer o vínculo das participantes com a sua rede de apoio social, e a rede de atenção à saúde, possibilitando a fuga da clínica reducionista e medicalizante.