A sociedade faz uso de plantas medicinais desde os tempos primitivos, e continua com essa prática até os dias atuais. Por ser um método de fácil acesso e de baixo desprendimento econômico, o uso dessa terapêutica se consolidou, principalmente, nas camadas sociais com menor poder aquisitivo, e também por se tratar de um método cultural ela ganha maior força, relacionado ao seu uso e prática rotineiramente.
Atualmente, a utilização das plantas medicinais no Brasil vem se destacando como recurso terapêutico mais utilizado. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) – 80% da população dos países em desenvolvimento utilizam esse recurso terapêutico como terapia. Isso ocorre, porque este, em determinadas localidades é o único recurso de tratamento, como também é um recurso de baixo custo, e como os países em desenvolvimento, na sua grande maioria, tem uma grande deficiência na saúde, seja por falta de recurso sócio–econômicos da população, como também a falta de organização e compromisso dos governantes para com o Sistema Público de Saúde, há essa grande procura através desse tipo de terapêutica, que também ganha força pela cultura popular.
As terapêuticas com plantas medicinais acontecem prioritariamente na Estratégia de Saúde da Família - ESF, que possuem dentre suas características, interação entre saberes, parcerias nos cuidados com a saúde, ações de promoção e prevenção, entre outras. As relações entre elas proporcionam o fortalecimento da ESF facilitando a implementação de terapêuticas complementares, principalmente pela inserção das equipes nas comunidades, por meio de práticas de aproximação da população, como a visita domiciliar e as atividades de educação em saúde, facilitadoras da troca entre os saberes, promovendo o fortalecimento do vínculo dos usuários e da comunidade com as equipes, a participação popular, a autonomia dos usuários e o cuidado integral em saúde.
Para ampliar o alcance da utilização das plantas medicinais dentro do contexto de Atenção Primária à Saúde, pode ser utilizada como estratégia a Educação popular em Saúde (EPS) que é capaz de contribuir com metodologias, tecnologias e saberes para a constituição de novos sentidos e práticas no âmbito do SUS, não apenas no que diz respeito à educação em saúde, mas que, sobretudo, envolve o delineamento de princípios éticos orientadores de novas posturas no cuidado, na gestão, na formação e na participação social. Na EPS é preciso superar a postura de que o saber profissional é superior ao saber popular, e também reconhecer que os saberes da população são elaborados a partir das suas vivencias, que são vividas de uma forma diferente daquela vivida pelo profissional; os saberes da população constituem uma teoria imediata, que estão ancorados na cultura.
2 OBJETIVOS
Objetivo geral:
- Analisar o potencial e incorporação das terapias com plantas medicinais na ESF, buscando relacionar com práticas biomédicas, e com a ressignificação da produção desse cuidado, usando como estratégia a educação popular em saúde.
Objetivos específicos:
- Analisar as legislações vigentes sobre terapias com plantas medicinais;
- Identificar profissionais da ESF que produzem ações de cuidado à saúde com o uso de plantas medicinais como recurso terapêutico;
- Descrever e analisar a prescrição de uso de plantas medicinais, a partir das práticas de Educação Popular em Saúde por equipes de Atenção Primária à Saúde;
-Compreender como ocorre a incorporação das terapias com plantas medicinais na ESF;
- Identificar quais práticas biomédicas são associadas ao uso de plantas medicinais e como se dá a relação;
- Acompanhar usuários de saúde que tem cuidado à saúde centrada no uso de plantas medicinais;
- Conhecer a percepção sobre a terapêutica com uso de plantas medicinais dos usuários de saúde das Estratégias em Saúde da Família.
3 ELEMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 Delineamento do estudo
Trata-se de um estudo de natureza qualitativa. Na abordagem qualitativa, podem englobar dois momentos distintos: a pesquisa, ou coleta de dados, e a análise e interpretação, quando se procura desvendar o significado dos dados. Quanto aos objetos se trata de pesquisa descritiva, e como procedimentos técnicos classifica-se como Levantamento e também documental, com observação e registro de documentos que demonstrem a condução das ações de prescrição.
O estudo será realizado em um município do sudoeste baiano, onde inicialmente serão identificadas as Unidades de Saúde que possuem equipes classificadas como Estratégia de Saúde da Família, e posteriormente, a seleção das unidades se dará após a realização de um mapeamento, onde haverá critérios de escolha a serem definidos, tais como, localização geográfica e diversidade sociocultural, sendo utilizada amostragem não probabilística intencional. Os sujeitos que contemplarão esse estudo serão profissionais de saúde que atuam em ESF e os pacientes que utilizam plantas medicinais como recurso terapêutico. Será selecionada uma amostra significativa de todo o universo.
Serão elaborados roteiros para as entrevistas semi-estruturadas e grupos focais. Os roteiros para as entrevistas e para condução dos grupos focais têm o propósito de orientar e guiar os relatos dos entrevistados e, desta forma, permitir que o recorte temático da pesquisa seja contemplado, à luz das representações dos sujeitos que compõem o cenário da pesquisa. As entrevistas serão realizadas por meio de visitas às unidades de saúde com médicos, enfermeiros, odontólogos e farmacêuticos, e os grupos focais através de reuniões com agentes comunitários de saúde e pacientes. Serão também observados os registros de documentos como prontuários e receituários. Para as entrevistas e grupos poderão ser utilizados recursos da Plataforma Meet, caso necessário, serão gravadas e transcritas na íntegra. Todas as informações derivadas serão processadas a partir da elaboração de uma planilha em Excel.
A fase de análise de dados tem como finalidade estabelecer sua compreensão, respondendo as questões formuladas e assim ampliar o conhecimento acerca do tema investigado. Os dados coletados nas entrevistas e grupos focais serão analisados por meio da leitura flutuante das respostas e sistematização das ideias, exploração do material para codificação das questões conforme as categorias operacionais que serão pré-estabelecidas e interpretação dos excertos. Os documentos serão analisados na íntegra e posteriormente tabulados através de identificação de padrões, como por exemplo, a repetição de observações, situações e palavras, e posteriormente com o agrupamento de respostas em categorias. Todos os dados serão analisados com o auxílio de software de análise de dados (Iramuteq).
4 RESULTADOS ESPERADOS
A utilização das plantas medicinais que aplicada pelos profissionais da ESF serviria não somente como recurso terapêutico para os clientes, como também, prática integrativa e complementar para os profissionais de saúde, além de ser uma opção de prevenção e tratamento acessível e de baixo custo econômico, e somando a isso, a utilização da educação popular em saúde, como uma importante ferramenta no fortalecimento e ressignificação do valor da tradição, com vistas a fortalecer e resgatar ações intersetoriais, transversais e integrais, sobretudo com uma abordagem holística, favorecendo a ampliação do cuidado através de conhecimento técnico, mas também, com troca de saberes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A equipe de profissionais da Estratégia de Saúde da Família trabalha muito próximo aos pacientes no seu dia-a-dia, ela conhece as suas vontades e as práticas cotidianas dos mesmos. Por isso, são profissionais que devem estar conscientes das necessidades dos pacientes relacionado às plantas medicinais, e qualificados e atualizados quanto a essa prática no que diz respeito a recurso terapêutico, principalmente, porque a população utiliza as plantas medicinais não apenas por ser um método curativo, mas também, por ser um método cultural.