Apresentação: As doenças cerebrovasculares constituem-se como um das maiores problemáticas de saúde pública da última década. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) se destaca pelos seus altos números de casos, caráter letal, incapacitante e oneroso aos sistemas de assistência de saúde. Em âmbito nacional, o AVC destaca-se como a mais expoente causa de morte no país, totalizando 87.518 óbitos até outubro do ano de 2022, o que equivale à média de 12 óbitos/hora e 307 vítimas fatais/dia, sobressaltando estatisticamente o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Não obstante, mundialmente as mortes por AVC ocupam a segunda maior causa fatal, representando cerca de 11% das mortes totais. A literatura destaca uma intersecção de fatores de risco que contribuem para a elevada incidência de doenças cerebrovasculares no Brasil. Estes incluem desde um processo de envelhecimento pouco saudável e um estilo de vida sedentário até a fragilização das medidas preventivas e as limitações nas condições de saúde mental. Somam-se a estes os determinantes de risco não modificáveis, como idade avançada, etnia negra e sexo masculino, juntamente com os fatores modificáveis, tais como hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes, tabagismo e abuso de álcool, os quais promovem o desenvolvimento do AVC. Ademais, estudos demonstram que o AVC não apenas resulta em taxas elevadas de mortalidade, mas também causa um significativo impacto na morbidade, devido às sequelas que frequentemente resultam em incapacidade física e dependência para a realização das Atividades de Vida Diária (AVD) por parte dos pacientes. Este impacto varia de acordo com a extensão da lesão neurológica e o tempo decorrido até a chegada à unidade de assistência, o que consequentemente influencia diretamente na qualidade de vida do paciente após o acidente. Neste contexto, a Enfermagem é uma importante aliada nesse processo, por ser uma categoria que realiza um acompanhamento e vivencia os desafios no cuidado aos pacientes após o AVC. Esses profissionais têm a responsabilidade de promover não apenas o bem-estar do paciente, mas também oferecer apoio às suas famílias. Surge, então, a necessidade de humanização neste processo, visando torná-lo terapêutico, abrangente e solidário, conforme preconizado pela Política Nacional de Humanização (PNH), instituída em 2004. Dessa maneira, a justificativa desse estudo se ancora na necessidade de construir um cuidado humanizado em saúde ao paciente vítima de AVC que compreenda as dimensões psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais do sujeito a fim de sistematizar o processo de Enfermagem que contemple toda a dinâmica e complexidade do processo saúde-doença de cada sujeito. Portanto, o presente artigo tem como objetivo analisar o que a literatura científica aborda acerca dos desafios na assistência humanizada de enfermagem ao paciente após acidente vascular cerebral. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, tendo as seguintes etapas de construção - identificação do tema e elaboração da pergunta norteadora, estabelecimento da estratégia de pesquisa, coleta de dados, avaliação dos dados primários, interpretação e apresentação dos resultados. O processo de revisão foi baseado no fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). A elaboração da pergunta norteadora foi fundamentada na estratégia PICO, no qual “P” se refere à pacientes após AVC, “I” à assistência de Enfermagem, “C” não foi objetivo deste estudo, “O” representa os desafios para o cuidado humanizado de Enfermagem. Dessa forma, a pergunta norteadora para a condução da presente revisão integrativa foi: “Quais os desafios para a assistência humanizada de Enfermagem aos pacientes vítimas de AVC?”. Para isso, na busca por artigos científicos utilizou-se a Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) com acesso às bases de dados eletrônicas Retrieval System Online and Analysis Literature (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências Médicas da Saúde (LICACS) e Base de dados em Enfermagem (BDENF/BRASIL). O período de buscas ocorreu em setembro até início de dezembro de 2022, utilizando-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Acidente Vascular Cerebral”, “Humanização da assistência” e “Assistência de Enfermagem”. Os critérios de inclusão adotados foram: artigos científicos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola, publicados em periódicos de acesso público, entre os anos de 2018 entre 2022, que oferecessem texto para leitura na íntegra, sendo excluídos os artigos duplicados. Na busca primária, foram identificados 287 estudos, sendo 83 na SciELO e 204 na BVS. Para a pré-seleção dos artigos, cada pesquisador/acadêmico realizou a leitura preliminar de títulos e resumos, excluindo-se 254 artigos levando em consideração a pergunta norteadora e atendimento aos critérios de inclusão. Após a leitura dos 33 estudos pré-selecionados, 4 artigos foram excluídos pois possuíam foco restrito aos cuidadores domiciliares, 10 artigos não se relacionavam com a assistência de enfermagem e 8 artigos não possuíam desfecho clínico de AVC. Diante disso, a amostra da presente revisão foi constituída por 11 artigos. Os artigos selecionados foram registrados individualmente, por ordem de data de publicação, em uma matriz de coleta de dados, com destaque para tipologia, objetivo, metodologia, resultados e conclusão. Nessa etapa, com objetivo de minimizar possível viés de análise dos artigos (erro de interpretação dos resultados e do delineamento), foi realizada a leitura dos estudos e preenchimento da tabela de forma independente, os quais foram posteriormente comparados e discutidos com todos os avaliadores. Resultados: A matriz reúne 11 artigos publicados entre 2017 a 2021, sendo prevalente o ano de publicação em 2020, totalizando quase 55% da amostra. Em relação ao idioma, com unanimidade toda a amostra dos artigos encontra-se em português. Com base nos artigos encontrados, as conclusões reforçam a essencialidade de uma assistência de enfermagem de qualidade na promoção da recuperação do cliente, a importância do apoio familiar na terapêutica do paciente e a relevância da resiliência e do engajamento da vítima de AVC no seu processo de cura. Há também que se destacar os objetivos da maioria dos estudos com foco em identificar os fatores de ordem biopsicossocial que interferem na relação saúde-doença do paciente. Na dimensão dos desafios da assistência, os artigos elencaram uma série de problemas vivenciados na práxis de enfermagem e dos demais profissionais da saúde, sejam na relação profissional-paciente, no enfrentamento das práticas biomédicas e meramente curativistas ou na falta de um cuidado intersetorial. Para além disso, os artigos delimitam a ineficiência da estrutura hospitalar, a falta de materiais e insumos, a pobreza tecnológica e a desvalorização dos trabalhadores da assistência à saúde que consequentemente burocratiza o cuidado humanizado e integral. Considerações finais: O estudo identifica as lacunas da assistência humanizada de enfermagem ao paciente após AVC que são multifatoriais e influenciam diretamente no estado de saúde do sujeito, sendo viável o fortalecimento das práticas humanizadas em saúde desde o acolhimento até o processo de reabilitação extra hospitalar do cliente. Desse modo, objetiva-se assegurar o direito de um cuidado integral, gratuito e de qualidade, como garantido pela PNH e pelos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS). Com ênfase na desconstrução do modelo biomédico é preciso resgatar o caráter preventivo das ações de saúde no combate ao AVC, disseminando as informações sobre os fatores de riscos, os sinais de alerta, a valiosidade dos hábitos de vida saudáveis e o envelhecimento saudável tendo em vista a diminuição da morbimortalidade provocada pelo AVC. Analisando ainda os achados deste estudo, destaca-se a necessidade de construção de outras evidências científicas que possam abordar essa temática, uma vez que a literatura ainda aponta uma escassez.