Vivências como pesquisadores no desenvolvimento de pesquisa envolvendo populações ribeirinhas da Amazônia: Um relato de experiência

  • Author
  • Eduarda Mel da Silva Frota
  • Co-authors
  • Ana Lúcia Pinheiro Cardoso , Lívia de Aguiar Valentim , Franciane de Paula Fernandes , Sheyla Mara Silva de Oliveira
  • Abstract
  • Introdução: O desenvolvimento da pesquisa cientifica em campo requer dedicação e esforço, devido as circunstâncias que ocorrem ao longo do processo de pesquisa. O projeto desenvolvido na região do baixo amazonas, nas comunidades ribeirinhas do município de Santarém Pará, acerca da exposição ao mercúrio (Hg) na população, estabelece uma rotina de desenvolvimento da pesquisa em campo programada conforme o número de comunidades nas quais serão realizadas a aplicação de questionários e coleta de material biológico. Os pesquisadores na ocasião, munidos da capacitação necessária e de todos os aparatos de proteção individual (EPI) específicos. Para tanto, são utilizados o uniforme, luvas, avental impermeável, máscara, botas e óculos de segurança, bem como a necessidade de manter o EPI em perfeita higiene e estado de conservação. A rotina de trabalho se dá pela equipe multiprofissional, com o apoio de acadêmicos de diversas áreas da saúde, o objetivo é atender a comunidade de forma breve e oferecer melhor suporte durante seus atendimentos. Objetivo: Relatar a vivência de Acadêmica em Farmácia e de Mestranda em Enfermagem no desenvolvimento de um projeto envolvendo a população ribeirinha. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência acerca do desenvolvimento do projeto de pesquisa desenvolvido pela Universidade Federal do Oeste do Pará( Ufopa). Participam do projeto, enfermeiros, Biólogos, Biomédicos, Farmacêuticos, Sanitaristas, Fisioterapeutas, Nutricionista, Bacharel em Saúde da (UFOPA) e da Universidade do Estado do Pará (UEPA), com autorização da Secretaria Municipal de Saúde do município. Inicialmente faz-se o levantamento do quantitativo da população que poderão participar do projeto nas comunidades, a fim de identificar e conhecer o quantitativo do público e qual o local para realização da visita, posteriormente dialogar com o responsável técnico e sua equipe de saúde incluindo os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), para explicar o projeto e seus objetivos de pesquisa. Na sequência, solicitamos da equipe a divulgação do projeto e o do dia da ação em saúde prevista à comunidade, e lançamos o convite para participarem conosco. No dia da ação, posterior ao processo de educação em saúde e à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), realizam-se a coleta de dados através da aplicação de questionário, e de sangue e cabelo, para exames bioquímicos e de análise da exposição mercurial. Resultados e discussão: Ao chegar na comunidade realizamos a educação em saúde aos comunitários, apresentamos o projeto e elucidamos os riscos da exposição mercurial, bem como as formas de exposição e medidas de prevenção viáveis dentro da realidade daquele morador. No período de desenvolvimento das coletas na comunidade foram identificados alguns fatores que podem interferir na prevenção a exposição ao mercúrio, os principal dentre eles são a alimentação, atividades laborais, uso de amálgama em restaurações odontológicas e a carência de informações relacionadas aos riscos que o mercúrio (Hg) pode causar à saúde da população, principalmente às gestantes e ao feto, pois a exposição ao químico põe em risco a saúde do feto, devido ao mercúrio (Hg) ultrapassar a placenta e atravessar a barreira hematoencefálica do bebe, e causar vários danos à saúde destes. A exposição ao Mercúrio (Hg) metálico, pode causar sérios danos neurológicos, como a insônia, irritabilidade, apatia e dificuldades cognitivas, já a exposição ao metilmercúrio (MeHg) - sua forma orgânica - pode provocar complicações materno-fetais, por causa de seu composto químico, considerado teratogênico, a qual também pode ser detectado no leite materno e em placenta de gestantes expostas. Quando se aborda tal temática junto à comunidade observa-se que a população questiona quanto a alimentar-se com peixes contaminados:” o que fazer? como podem prevenir-se?”. Esses questionamentos são esclarecidos durante a apresentação do projeto, as quais sempre se enfatiza que o pescado é um alimento rico em nutrientes importante para a saúde, e ao invés de excluí-lo de seu cardápio, sugere-se apenas fazer o rodízio de alimentos, como consumir frango, ovos, carne e outros, bem como incluir em sua dieta alimento ricos em selênio e vitamina C, devido facilitarem o processo de eliminação do mercúrio (Hg) do organismo. Ademais, mesmo a equipe explicando todos os objetivos da pesquisa, ainda encontramos resistência na população em participar do estudo, sendo as justificativas inúmeras. Mas infere-se que boa parte da população que consome o peixe possui um quantitativo de mercúrio no sangue, que é considerado uma análise de curto prazo, e no cabelo, que faz referência aos últimos 3 meses de exposição do paciente. Para obter uma melhor percepção dos agravos da exposição ao mercúrio é importante fazer uma análise através de exames bioquímicos pois, segundo estudos o Hg pode causar alterações na pressão arterial, renais, e entre outras patologias comuns na sociedade, portanto, se o paciente apenas tratar a patologia apontada, como a diabetes e a hipertensão, de acordo com o estabelecido pela sociedade brasileira de cardiologia (SBC) e não analisar paralelamente a possibilidade de associação a uma exposição mercurial por meio de exames, este apenas prolongará o diagnóstico de exposição ao mercúrio (Hg) pois suas manifestações clínicas pode ser concomitantes à de outras patologias. Haja visto que, o exame de exposição ao Mercúrio (Hg) ainda não é disponibilizado na rede pública de saúde o Sistema Único de Saúde (SUS), baseado na contextualização de como o Mercúrio (Hg) se propaga no ambiente, principalmente na região amazônica, na qual acontecem, crescentemente, atividades garimpeiras para a exploração de ouro, onde é utilizado o mercúrio para a separação do ouro de suas impurezas, também devido ao desmatamento que ocorre na região e a grandes quantidades de chuvas que carreiam o Hg até o leito dos rios e contamina os plânctons, consequentemente peixes que se alimentam destes e os carnívoros ao ingerirem outros peixes.  Nesta perspectiva, o sistema de saúde deveria oferecer à população os exames bioquímicos e de análise da exposição mercurial, principalmente através da análise no cabelo, que vai proporcionar um cenário crônico da exposição no indivíduo, bem como proporcionar capacitação aos profissionais de saúde para identificarem possíveis manifestações da exposição e quais medidas devem ser consideradas para tratamento e prevenção dos expostos ao Hg. Conclusão: A exposição ao mercúrio na região Oeste do Pará, pode ser amenizada com políticas públicas voltadas à conscientização da população acerca da exposição ao Hg, bem como o compartilhamento de informações sobre os prejuízos causados à saúde e quais as medidas de prevenção e formas de facilitar a eliminação. Haja visto que, ainda não há, comprovadamente, um procedimento terapêutico específico para aqueles que estiverem expostos ao mercúrio, como por exemplo, os moradores atingidos pelo incidente com o mercúrio em Minamata, no Japão, deixando várias pessoas com sérias sequelas e anomalias oriundas da intoxicação por mercúrio, bem como os que vieram a óbito.

  • Keywords
  • Coleta de dados, Mercúrio, População ribeirinha, Pesquisa
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
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