Introdução: A Organização Mundial da Saúde considera o mercúrio (Hg) como um contaminante químico, entre os dez de maior preocupação para saúde pública. O mercúrio pode ser encontrado na atmosfera devido a fontes naturais, como emissões vulcânicas, e fontes antropogênicas, como a garimpagem. As formas químicas mais comuns do mercúrio são: mercúrio elementar, mercúrio inorgânico e mercúrio orgânico ou metilmercúrio (MeHg), sendo este a forma química mais conhecida. A extensão dos efeitos deletérios ao organismo humano depende de fatores como: sua forma química, quando foi o início da exposição e a duração da mesma. O metilmercúrio é considerado a forma química do mercúrio mais perigosa à saúde, devido sua rápida absorção e distribuição no organismo humano e posterior, lenta eliminação. Além disso, esta forma química ocorre através da metilação do mercúrio inorgânico em organismos vivos e tem a capacidade de ser bioacumulado e biomagnificado através de cadeias alimentares. Na região amazônica, o consumo do pescado é uma das principais de fontes de proteínas da população. Sabendo que o metilmercurio é liberado no ambiente aquático e tem a capacidade de contaminar a biota ali presente, esse hábito alimentar pode representar uma notável via de exposição ao mercúrio. Uma vez exposto, são inúmeros os danos que podem ser provocados ao organismo humano, com destaque ao Sistema Nervoso Central (SNC), e requer uma atenção maior quando falamos em crianças, mulheres em idade fértil e gestantes, pois estes grupos apresentam maiores vulnerabilidades aos danos que o mercúrio pode causar a saúde. Objetivo: Relatar a experiência de aluna da Graduação em Farmácia e de aluna de Pós- Graduação Stricto Sensu em Enfermagem no desenvolvimento de um Projeto de Pesquisa de Campo com o público-alvo gestantes em um município no Oeste do Pará. Métodos: Trata-se de um relato de experiência acerca do desenvolvimento do projeto de pesquisa sobre Exposição mercurial de gestantes e recém-nascidos de zona urbana e ribeirinha da Região Oeste do Pará, com um público estimado de 500 gestantes. A execução do projeto iniciou somente após a aprovação deste no CEP e com a anuência da secretaria municipal de saúde do município. A equipe do projeto levou as autorizações às enfermeiras das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e acordaram sobre as estratégias de desenvolvimento do projeto nas comunidades, sendo solicitado que os Agentes Comunitários de Saúde ACS e Enfermeiros convidassem as gestantes para participarem conosco. Foi repassado o cronograma das atividades e os exames que seriam realizadas pelo projeto. No dia da pesquisa, foi realizada a explicação individualmente do projeto e TCLE e posterior assinatura deste, assim sucedendo-se com a aplicação do questionário, triagem com aferição PA e Glicemia capilar, mensuração da altura e peso, coleta de sangue e cabelo. Após a coleta de sangue, a participante era encaminhada para um lanche ofertado pela equipe da pesquisa e é explicado que os resultados dos exames saem no período de 10 a 15 dias e que será entregue na unidade de saúde para a enfermeira repassar as voluntárias. Dos resultados de exposição são realizadas as notificações junto à secretaria de saúde, e dos resultados das análises de dados desenvolvem-se artigos e dissertações, devido a pesquisa abranger diversas variáveis importantes sobre a temática. Resultados e discussão: A realização da pesquisa de campo junto às comunidades deste município nos traz desafios e conhecimento acerca das iniquidades sociais existentes acerca da saúde das gestantes, e as dificuldades que algumas das participantes com doenças infecciosas não transmissíveis têm para realizar o tratamento corretamente, mas não conseguem ter acesso a todas as medicações devido esta não conseguirem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Outra problemática que se observa são as dislipidemias em algumas participantes, e a recusa de muitas dessas que não seguem corretamente o Pré-natal, conforme relatas as enfermeiras das UBS. Durante as atividades de educação em saúde, observou-se que a maioria das participantes desconhecem a vulnerabilidade e os riscos que a exposição ao mercúrio pode ocasionar para a saúde da mãe e do feto. Ademais, algumas gestantes não aceitaram participar da pesquisa devido acreditarem que isso não vai mudar nada em seu dia a dia ou que ela só vai se preocupar mais com problemas e não vai conseguir resolver, caso descubra que está exposta ao mercúrio. Foi possível conhecer a realidade existente nos bairros, principalmente no que tange a saúde, sendo que ao observar alguns dos problemas dos participantes, são relacionados com problemas emocionais como tristezas permanente, sonolência diárias, cansaço e não gostam ou não podem realizar algum tipo de atividade física ou atividades que possam contribuir na melhora da autoestima. Sabe-se que a interação social pode influenciar no bem-estar físico em metal, bem como o enfrentamento das alterações hormonais que ocorrem durante o período gestacional. Observa-se que muitas estão contentes com a gestação outras nem tanto, mas que fazem o possível para passar pelo período gestacional bem, algumas relatam não ter apoio do pai de seu filho, ou até mesmo alguns conflitos familiares dentro de casa, em contrapartida têm aquelas que estão sentindo-se realizadas com a gestação e fazem de tudo para terem uma gestação saudável e procuram alimentar-se corretamente evitando o consumo de alimentos industrializados ou com alto teor de sal, muitas consomem peixe por conhecerem os benefícios que este proporciona a saúde, e outras consomem devido alguém do seu núcleo e familiar ser pescador e trazer o pescado para casa. Em algumas UBS encontramos dificuldades na adesão ao projeto, devido esse desinteresse e desconhecimento de algumas gestantes sobre a temática e sua gravidade, principalmente nos bairros das regiões periféricas da cidade, mesmo conversando com os ACS e os enfermeiros das unidades de saúde para eles a convidarem, o número de participantes foi “tímido”. Conclusão: O desenvolvimento de pesquisas no âmbito da saúde são fundamentais para a identificação de problemas na saúde pública que na maioria das vezes perduram na sociedade, sendo que pode ser evitado se os poderes públicos investigassem e dessem maior suporte aos pesquisadores. Observa-se que há ainda muitos receios no que tange pesquisas no âmbito da saúde materno-infantil. Esses estudos necessitam de maior abrangência para que minimizem problemas psicossociais, motores e neurológicos principalmente nos bebês que estão preste a nascer. Ressaltamos ainda a importância de informações acerca da exposição ao mercúrio que devem ter maiores destaques principalmente às gestantes que vivem em regiões que temos muitas extrações de ouro e queimadas.