A cárie dentária é uma doença multifatorial evitável, principalmente caso sejam utilizadas estratégias adequadas de prevenção. Para tanto, é fundamental que os cirurgiões-dentistas estejam preparados para essa dinâmica, sendo portadores do conhecimento e vetores de ações adequadas para possibilitar mudanças no atual cenário de significativa ocorrência de cárie dentária, principalmente durante a infância. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo é investigar o uso de ferramentas de Avaliação de Risco de Cárie (ARC) entre odontopediatras brasileiros e classificar a autopercepção desses clínicos sobre a importância de preditores associados ao prognóstico e ao tratamento da cárie. A metodologia utilizada foi a realização de um estudo transversal baseado em um questionário de perguntas fechadas autoaplicável de abrangência nacional a odontopediatras brasileiros, sobre o perfil demográfico e profissional dos participantes, uso de ARC e autopercepção sobre a importância dos preditores associados à cárie. A população base desse estudo foi de 7.718 odontopediatras cadastrados nacionalmente. Os profissionais que integraram a pesquisa foram convidados por e-mail e por meio de redes sociais, como o Instagram, Facebook e WhatsApp. Foram selecionados para o estudo odontopediatras cadastrados no Conselho Federal de Odontologia, que concordassem em participar da pesquisa, independentemente da região de atuação ou ano de graduação. Para o cálculo de tamanho de amostra foi considerado um erro padrão de 5%, nível de confiança de 95% e avaliação do risco de cárie por dentistas de 26%. O tamanho da amostra foi estimado em 285 dentistas e adicionou-se 20% para possíveis recusas, sendo 342 odontopediatras o tamanho mínimo da amostra. Os questionários foram coletados entre os meses de outubro de 2020 e julho de 2022 por meio do Google Formulários, com amostra de 344 indivíduos. Além disso, foram realizadas análises descritivas e análise múltipla de Regressão Logística com resultados em Odds Ration (OR) e intervalo de confiança (IC) de 95%. Os resultados apontaram que 70% dos entrevistados não usaram ARC em sua prática de rotina; os dentistas com especialidade concluída (OR 0,44; IC 95%; 0,35-0,55) ou em andamento (OR 0,20; IC 95%; 0,10-0,39) eram mais propensos a não usar modelos padronizados do que aqueles com doutorado. Dentistas que usavam ARC formalmente avaliaram a importância da idade, experiência anterior de cárie, restaurações extensas, uso de flúor e uso de serviços odontológicos como importantes para o prognóstico da doença. Logo, verifica-se a escassa utilização da ARC formal, sendo necessário priorizar estratégias de prevenção. Adicionalmente, a autopercepção dos profissionais que usam a ARC mostrou-se em grande concordância com as evidências científicas sobre os fatores associados à cárie dentária e com maior peso em fatores de fácil avaliação na atenção primária à saúde. Diante disso, evidencia-se a importância do maior comprometimento dos gestores e profissionais para integrar essa prática cotidianamente nos atendimentos odontológicos.