Gestão do Trabalho e Educação na Saúde: reflexões das Residências em Saúde sobre a formação no, com e para o SUS

  • Author
  • ADRIANA PRESTES DO NASCIMENTO PALÚ
  • Co-authors
  • DAIENE APARECIDA ALVES MAZZA TITERICZ
  • Abstract
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    Introdução: A gestão do trabalho e a educação na saúde são elementos fundamentais para o desenvolvimento das ações no campo da saúde pública e configuram elementos estratégicos para a consolidação do SUS. Diante disso, foram temas eleitos para compor rol de encontros integrativos dos Programas de Residência em Saúde do município de Apucarana/PR. O objetivo dessa ação foi promover reflexões e debates sobre esse tema, como ação preparatória para as Conferências de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde. Metodologia: Os encontros integrativos agregam residentes dos programas de Atenção Básica/Saúde da Família, Saúde Mental e Enfermagem Obstétrica, de Apucarana/PR, em momentos de reflexão e debate sobre assuntos transversais às áreas de atuação. São previstos no Projeto Político Pedagógico dos nossos programas e são realizados com periodicidade bimestral, com temas eleitos durante as semanas pedagógicas anuais. O primeiro encontro integrativo de 2024 pautou a gestão do trabalho e educação na saúde em virtude da relação intrínseca com a atividade cotidiana dos profissionais residentes e da importância do tema nesse processo formativo. Para tanto, foram convidadas duas expoentes na temática, uma representando o controle social (Conselheira Estadual de Saúde do Paraná) e a outra vinculada à instituição de ensino superior (ENSP/Fiocruz), foi adotada a roda de conversa à luz dos princípios da Educação Popular em Saúde, no intuito de estabelecer o diálogo e a troca de saberes, contando com a mediação da tutora-docente dos programas de residência. A primeira convidada explanou sobre o tema: “Democracia, controle social e o desafio da equidade na gestão participativa do trabalho e da educação em saúde”, destacando a importância da participação social na identificação das necessidades e na construção compartilhada de projetos de ação em saúde, promovendo a integração ensino-serviço-comunidade. Problematizou o papel dos sujeitos, especialmente dos residentes, em formação profissional entendida como padrão-ouro no, para e com o SUS. Em seguida, a outra convidada trouxe à reflexão o tema: “Trabalho digno, decente, seguro, humanizado, equânime e democrático no SUS: uma agenda estratégica para o futuro do Brasil”, impulsionando a análise histórica e os contextos atuais dos processos de trabalho no SUS, problematizou aspectos relacionados à distribuição, quantificação e qualificação da força de trabalho e sinalizou a necessidade de revisitar e reformular o arcabouço legal, com a participação do controle social, resgatando os direitos dos trabalhadores, defendendo condições adequadas para o exercício profissional seguro, valorizado, com vínculos estáveis, humanizado, equânime e democrático. Na sequência os residentes foram divididos em sete grupos para leitura de textos de apoio e para dialogarem sobre algumas perguntas ativadoras do debate, foram orientados a formularem propostas de solução para os problemas levantados no grupo e registrarem suas sínteses em cartaz, para posterior exposição. Na próxima etapa os grupos se reuniram na plenária e cada um apresentou pontos relevantes, contextos e propostas de ação para superarem os desafios apresentados. A atividade se completou no diálogo e compartilhamento de experiências, com a contribuição das convidadas e da mediadora, finalizando com a avaliação perceptiva dos presentes sobre o encontro. Resultados: Os profissionais residentes trouxeram à tona diversos aspectos da realidade onde se inserem e do cotidiano laboral, identificaram muitos desafios, tais como: a sobrecarga de trabalho, o adoecimento dos trabalhadores, os vínculos precarizados, a situação deficiente das estruturas físicas, a ausência de processos de educação permanente, o desconhecimento sobre as políticas de trabalho e educação na saúde, a apatia da população em relação à participação e mobilização popular, as ingerências políticas, a fragilidade nas relações e vínculos de trabalho, a fragmentação do cuidado, às fragilidades no trabalho em rede e a falta de valorização de questões relacionadas à equidade. Ao mesmo tempo reconheceram a potência que existe no SUS, o quanto a força de trabalho pode ser estratégica e a educação na saúde pode contribuir para qualificação do cuidado, respondendo às reais demandas dos territórios. O compartilhamento de experiências de mobilização da comunidade revelou a construção de vínculos e compromissos com a equipe de trabalhadores, numa relação apoiada que favorece a vigilância em saúde. A maioria reconheceu a pós graduação, modalidade Residência, como um processo transformador, tanto para os serviços e territórios, quanto para os trabalhadores e os próprios residentes. Um ponto importante foi a manifestação dos residentes quanto aos fatores que desencadearam a situação em que os serviços públicos de saúde se encontram, compreendendo que o SUS foi uma conquista resultante de muitas lutas e que ainda sofre constantes ataques, pois assume uma posição contra hegemônica no contexto do capitalismo. Diante disso, perceberam que é fundamental a união de pessoas comprometidas com um projeto de sociedade democrático e ético, que paute o bem viver e o desenvolvimento sustentável. A avaliação do encontro consistiu em manifestações orais sobre pontos positivos (que bom), negativos (que pena) e sugestões (que tal), a maioria enfatizou a importância do tema e revelaram que o debate impulsionou o interesse dos residentes em participarem das conferências de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, de repensarem seus papéis nos serviços e na sociedade, e de desenvolverem ações propositivas nos serviços que atuam, mobilizando os demais trabalhadores. Como aspecto negativo apontaram as limitações do espaço e dificuldades de trabalhar com as equipes, sugerindo que essa reflexão também fosse oferecida aos trabalhadores, em maior número de encontros. Conclusão: O tema do trabalho e da educação na saúde foi reconhecido como de relevância pública, que fragilidades na gestão do trabalho e carência de educação na saúde resultam em serviços deficitários e na dificuldade em cumprir os princípios do SUS: universalidade, integralidade e equidade. Conclui-se que as necessidades no SUS devem ser parâmetro para a formação de profissionais de saúde e para a qualificação dos trabalhadores, que a materialização dos referenciais legais e teóricos se darão à medida que for investido esforços na estruturação e ampliação do debate sobre políticas do campo do trabalho e da educação na saúde. Essa força de trabalho que deve ser reconhecida como quem “faz o SUS acontecer” e que precisa de políticas públicas construídas de forma participativa e democrática, de modo que assegurem o trabalho digno, humanizado, seguro e qualificado, como forma concreta de oferecer a melhor atenção à saúde da população brasileira.

     

  • Keywords
  • Educação na saúde, Gestão do trabalho, Residências em saúde.
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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