Introdução: A odontologia no Brasil se destaca pelo expressivo número de escolas e profissionais, entretanto, se configura numa prática elitista, de restrito acesso, centrada na doença. As mobilizações que reivindicavam o direito pleno à saúde, vislumbrou com a criação do Sistema Único de Saúde, a concretização dos princípios da universalidade, integralidade e equidade. A Estratégia Saúde da Família (ESF) propôs a reorientação do modelo de atenção e a odontologia foi inserida, adotando as mesmas diretrizes. Objetivo: Este estudo se propôs a analisar o modelo de atenção à saúde bucal adotado em um município do norte do Paraná, a partir da implantação da odontologia na ESF, analisando a série histórica da produção ambulatorial do SUS, no período de 2008 a 2022.. Metodologia: Trata-se de um estudo histórico, descritivo, quantitativo e transversal. Os dados coletados no DataSUS/Tabnet e e-Gestor entre os meses de maio/junho de 2023 e submetidos à análise estatística descritiva simples. Resultados e Discussão: O município do Norte do Paraná estudado O município apresenta 100% de cobertura da ESF, entretanto apenas 63,31% de cobertura de equipes de saúde bucal da ESF. No período estudado, no componente "procedimento ambulatorial odontológico na atenção primária em saúde", foram analisadas as ações preventivas, primeira consulta odontológica programática (PCOP); procedimentos restauradores, procedimentos cirúrgicos e procedimentos periodontais. Verificou-se que a produção odontológica total sofreu decréscimos expressivos de 298.690 (2009 a 2012) a 49.404 (2017 a 2020), uma redução de 83,45% no número de procedimentos executados e informados, o que é um contrasenso diante do fato de que no mesmo período houve aumento de 56% no números de equipes de SB. Houve predomínio de ações curativas (86%) e uma queda de 84,74% nas ações preventivas. Essa significativa redução na produção de procedimentos odontológicos evidenciou uma lacuna na atenção primária à saúde bucal. Apesar do aumento de equipes de saúde bucal, a queda expressiva nos procedimentos, especialmente nas ações preventivas, levanta questionamentos sobre possíveis falhas na gestão e no registro de dados. Conclusão: Conclui-se que, de 2008 a 2022, houve predominância de um modelo odontológico de caráter assistencial curativo, em detrimento da adoção de um modelo de atenção com foco nas ações preventivas e de promoção da saúde bucal. No período estudado, destacou-se a redução na oferta de serviços odontológicos (redução de 97,21%) de forma inversa ao aumento no número de equipes (aumento de 72% de ESB), mostrando que as ESB, inseridas na ESF, não garantiram aumento no acesso e mudança no modelo de atenção à saúde bucal. Os dados revelaram que os serviços odontológicos apresentam fragilidade nos sistemas de informação e na gestão dos serviços de saúde bucal, bem como fornecem subsídios importantes para o planejamento das ações e sinaliza a necessidade de adotar novas diretrizes para o setor odontológico do município que venham a contemplar os princípios do SUS e atender às reais necessidades da população.