O câncer de boca é um dos mais prevalentes tipos de câncer no Brasil e no mundo. O sítio anatômico de predileção é a língua, mas outros locais também podem ser afetados, como a gengiva, o palato duro e o assoalho da boca. Além disso, ocorre mais em homens tabagistas a partir da quarta década de vida. É uma doença agressiva e potencialmente mortal, a qual pode comprometer a vida diária dos pacientes de forma muito severa. Da mesma maneira, é comum a ocorrência de sequelas significativas, especialmente em casos mais avançados, o que pode dificultar muito a obtenção de uma qualidade de vida satisfatória após a realização do tratamento, o qual pode envolver, por exemplo, procedimentos cirúrgicos ou radioterapia - ou, até mesmo, associações entre eles. Nesse cenário, o Projeto Maio Vermelho é uma iniciativa que estimula a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de boca, mobilizando profissionais de saúde e disseminando informações baseadas em evidência científica para a sociedade. Nesse intuito, tanto a atualização dos cirurgiões-dentistas sobre a temática quanto a realização de atividades capazes de integrar essa discussão com a sociedade - e torná-la cada vez mais abordada de forma multidisciplinar - são enfoques importantes dessa campanha. Dessa forma, a Liga Acadêmica de Patologia Oral e Maxilofacial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) promoveu o evento "Webnário Interligas Maio Vermelho" em parceria com a Liga Acadêmica de Cirurgia Bucomaxilofacial e Estomatologia da Universidade Franciscana (UFN) e a Liga Acadêmica de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da UFSM, sob o âmbito de oferecer palestras online, gratuitas e com emissão de certificados, de modo a buscar uma adesão ampla e um engajamento expressivo na luta contra o câncer de boca. Foram realizadas 3 palestras, sendo elas distribuídas nos dias 16, 23 e 28 de maio de 2024. As temáticas abordadas foram, respectivamente: “Lesões potencialmente malignas e fatores de risco associados ao câncer de boca”, “Diagnóstico de câncer de boca e técnica de biópsia” e “Procedimentos cirúrgicos relacionados ao câncer de boca”. As duas primeiras aulas foram conduzidas por cirurgiãs-dentistas que atuam diretamente com ações do Projeto Maio Vermelho e a última foi ministrada por um médico que atua como cirurgião de cabeça e pescoço no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Assim, este trabalho objetiva analisar o perfil dos participantes do Webnário, verificando o interesse multiprofissional na temática, dada a necessidade de interação multidisciplinar desde as etapas de prevenção - principalmente no que tange à esquematização de estratégias integralizadas e eficazes na distribuição de informações sobre essa doença - até os aspectos relacionados ao diagnóstico, tratamento e reabilitação. A análise utilizou informações obtidas por meio das respostas do formulário de inscrição no evento, permitindo avaliar o engajamento e como os inscritos souberam das palestras. Dos 211 inscritos, verificou-se participação alta de alunos da UFSM (56,9%) e da UFN (26,1%), o que pode ser explicado pelo número elevado de estudantes dessas instituições e por elas abrigarem as ligas idealizadoras do evento. Todavia, houve também uma representativa parcela de participantes da Faculdade SOBRESP de Santa Maria (7,1%), além de vários indivíduos de outros polos de ensino superior, como a Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA) Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Universidade Federal Fluminense (UFF), Centro Univesitário Fametro (FAMETRO), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Unidade Central de Educação Faem Faculdade (UCEFF). Por conseguinte, o evento teve abrangência nacional, com audiência advinda de pessoas vinculadas a centros de ensino localizados de forma significativamente distante territorialmente de Santa Maria-RS, como no caso do Rio de Janeiro-RJ. No que tange ao curso dos inscritos, a grande maioria é vinculada à odontologia (95,3%), provavelmente pelo papel do cirurgião-dentista no diagnóstico do câncer de boca e, adicionalmente, por duas das ligas acadêmicas organizadoras terem um enfoque nessa área, sendo compostas por acadêmicos e professores dos cursos de odontologia da UFSM e da UFN. No entanto, vários profissionais precisam conhecer essa temática por estarem envolvidos com o tratamento específico da doença - como no caso da medicina -, com as questões psicológicas - como a psicologia - e, principalmente, com as ações de prevenção dessa e de outras mazelas que podem atingir os indivíduos - como os próprios agentes comunitários de saúde, que podem levar informação às pessoas por terem um contato mais direto com elas mediante a realização de visitas às casas. Apenas quatro profissionais formados se inscreveram nas palestras, indicando a necessidade de ampliar o alcance desses eventos para profissionais já atuantes. É crucial que esses conhecimentos sejam adquiridos na graduação para evitar desconhecimento e erros relacionados ao câncer de boca; contudo, simultaneamente, é preciso que os profissionais se atualizem sobre esse tema, a fim de aplicar os conhecimentos mais adequados nas práticas clínicas, denotando que não basta aprender apenas uma vez sobre essas questões, sendo indispensável a rotina de estudos e de valorização de evidências científicas hodiernas. Estudantes de diversos semestres participaram, de forma bem distribuída, o que indica que o interesse pelo estudo do câncer de boca é algo contínuo durante a jornada universitária. As principais ferramentas de divulgação foram Instagram (89%), WhatsApp (5,7%) e comunicação com amigos (3,3%). Dessa forma, as redes sociais podem fornecer um espaço valioso para o compartilhamento de conhecimentos e a divulgação de eventos que também atuem nesse sentido, sendo necessário que as ligas acadêmicas valorizem a construção de um setor de mídias bastante presente e atuante, capaz de contribuir com a disseminação de informações de qualidade na internet e no combate às fake news. Logo, o evento superou as expectativas de abrangência territorial, validando a modalidade online como uma boa opção. Porém, a adesão praticamente exclusiva de estudantes de odontologia dificultou as interações multidisciplinares e os frutos positivos dessa dinâmica, especialmente em relação à prevenção conjunta do câncer de boca pela luta contra os fatores de risco. Somado a isso, é necessário que essas iniciativas alcancem além dos muros da universidade, a fim de que profissionais já formados continuem adquirindo informações de qualidade e atualizadas. Assim, as redes sociais podem servir como um mecanismo efetivo, dado o sucesso verificado por esse processo de divulgação.