O cirurgião-dentista (CD) possui um importante papel na identificação e interpretação de uma série de aspectos capazes de influenciar sistemicamente os indivíduos. Nesse sentido, os procedimentos cirúrgicos odontológicos podem ser uma fonte potencial de temor para os pacientes, especialmente pelo ato anestésico. Assim sendo, variáveis psicológicas somam-se às biológicas e de saúde geral dos indivíduos como fatores a serem analisados nas decisões de conduta. Nesse cenário, a escolha do anestésico e a utilização ou não de vasoconstritor são dinâmicas que, comumente, geram dúvidas para o CD, visto que há um temor no sentido de gerar alterações sistêmicas a partir de um procedimento local, mesmo que os vasoconstritores beneficiem esse ato operatório por possibilitarem o uso de doses menores de anestésico, por aumentarem a eficácia e duração da anestesia e diminuírem a toxicidade do sal anestésico. Por conseguinte, o presente estudo visa avaliar as variações da pressão arterial (PA) em diferentes momentos de um procedimento de exodontia ou outro procedimento cirúrgico de pequeno porte e, além disso, identificar se fatores como o medo e a ansiedade estão relacionados às variações hemodinâmicas, sob a hipótese de que essas alterações não se devem somente ao uso de anestésicos e de seus vasoconstritores, permitindo sua utilização e efeitos benéficos ao ato operatório. Para tanto, foram realizadas três aferições da PA: a primeira antes da injeção de mepivacaína 2% com adrenalina 1:100.000, a segunda depois da anestesia e a terceira após o término da cirurgia. A medida da PA ocorreu sempre no mesmo braço, com esfigmomanômetro e estetoscópio da marca “P.A. Med”, pelo mesmo examinador. A amostra obtida foi de 90 pacientes, com idade entre 18 e 70 anos, que foram submetidos a exodontias simples na Clínica de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e que aceitaram participar do estudo. A maior parte da amostra foi constituída por homens (53,33%). 81,11% declararam-se brancos, com idade entre 36 e 50 anos (40%). Destes, um total de 96,67% já havia realizado algum procedimento anestésico, 88,89% realizado alguma extração dentária e a PA de mais da metade da amostra nunca havia sido verificada durante os procedimentos odontológicos. Um total de 4,4% relatou complicações com anestesia. Observou-se que comparando a PA sistólica antes da anestesia e depois da anestesia houve diferença significativa (p=0, 0177) e que as variações dos valores da PA sistólica antes da anestesia e após a cirurgia mostraram que não houve diferença significativa (p=0,0606). Na comparação da PA após a anestesia e após a cirurgia não houve diferença significativa (p=0,6775). Logo, as variações da PA podem ser atribuídas ao medo e à tensão gerados pela realização da cirurgia e pelas experiências ruins prévias, e não propriamente ao vasoconstritor contido no tubete de anestésico local. Dessa forma, é importante que o CD avalie o paciente de forma integral, de modo a evitar que um foco único na cavidade bucal o impeça de enxergar no paciente aspectos sistêmicos ou psicológicos importantes à saúde.