Apresentação
É cada vez mais evidente a relevância da colaboração entre diferentes profissionais no cuidado em saúde ofertado nas Unidades Básicas de Saúde. Essa cooperação e a visão conjunta de diferentes saberes profissionais pode impactar positivamente nos cuidados às diferentes condições de saúde presentes nos territórios da Atenção Primária em Saúde. Esses profissionais podem ser de diversas áreas, como médicos, enfermeiros, dentistas, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, farmacêuticos, entre outros, cada um contribuindo com suas habilidades únicas e complementares, possibilitando uma abordagem completa e personalizada para atender às necessidades dos usuários.
Na atenção primária à saúde, a visita domiciliar desempenha um papel fundamental sendo parte imprescindível do processo de trabalho das equipes de saúde da família. Realizada pelas equipes das Unidades Básicas de Saúde, essa prática tem como objetivo avaliar o ambiente em que o paciente reside, as condições de sua habitação, aspectos socioeconômicos e familiares que possam impactar sua saúde. Além disso, é crucial identificar os potenciais riscos de vulnerabilidade social para facilitar a prestação de cuidados e promover iniciativas de saúde direcionadas a melhorar a qualidade de vida. No entanto, para garantir que cada visita domiciliar seja eficaz e abrangente, é crucial seguir uma série de etapas bem definidas. Isso inclui preparação prévia, execução da visita, documentação cuidadosa das descobertas e acompanhamento contínuo do paciente. Apesar de todo planejamento meticuloso, é comum que detalhes importantes escapem durante o processo.
Essas falhas podem ter consequências sérias para os pacientes, incluindo uma avaliação incompleta de sua condição de saúde e a falta de intervenções oportunas para prevenir complicações. Para evitar esses problemas, os profissionais de saúde devem adotar estratégias para minimizar os esquecimentos durante as visitas domiciliares.
Neste contexto, este trabalho busca relatar e compartilhar a experiência de uma abordagem multiprofissional na realização de visitas domiciliares na atenção primária em saúde, utilizando um formulário de avaliação como ferramenta para garantir uma prestação de cuidados eficaz e completa.
Desenvolvimento do trabalho:
Este relato de experiência é fruto da iniciativa de desenvolver um guia direcionador para acompanhar visitas multiprofissionais. Esse guia nasceu no contexto do programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e foi desenvolvido no segundo semestre de 2023, em um município do Rio Grande do Sul. O guia surgiu como uma ferramenta para orientar as visitas domiciliares realizadas por equipes multidisciplinares, tendo sido elaborado por residentes e preceptores durante uma aula multiprofissional. Posteriormente, o mesmo foi adaptado à realidade de cada Unidade Básica de Saúde onde os residentes estavam envolvidos.
O guia se destaca pela sua estrutura organizada, contendo perguntas abertas e fechadas que abrangem uma ampla gama de tópicos relevantes. Desde informações básicas sobre o paciente e sua família até aspectos mais complexos, como avaliação do ambiente domiciliar, hábitos de saúde, aspectos sociais e tecnológicos, anamnese e saúde mental, exame físico e sinais vitais, uso de equipamentos médicos, avaliação nutricional, restrições motoras e medicamentos. Este guia representa um esforço conjunto para garantir que as visitas domiciliares sejam realizadas de forma eficaz, proporcionando cuidados personalizados e de qualidade a cada paciente atendido.
O conjunto de dados abrange informações cruciais sobre o paciente e sua família, incluindo dados de identificação, motivo da visita domiciliar e quem a solicitou. Essas informações são fundamentais para obter uma compreensão completa do contexto em que o paciente está inserido. Além disso, uma análise do histórico médico do paciente, incluindo resultados de exames anteriores e anotações da equipe de saúde, é essencial para traçar um panorama claro da saúde do paciente e orientar decisões clínicas futuras.
A situação econômica envolve a avaliação da renda familiar, a escolaridade tanto do paciente quanto do cuidador, se aplicável, e o status ocupacional do paciente (trabalhando, aposentado ou recebendo algum auxílio). Além disso, é essencial realizar uma avaliação do ambiente domiciliar para identificar possíveis riscos de queda.
A avaliação dos hábitos de saúde visa coletar informações sobre vícios do paciente e familiares (tabagismo, etilismo e outros), a condição vacinal, a frequência de acesso à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), acompanhamento por outros profissionais de saúde e a presença e sobrecarga do cuidador. Quanto aos aspectos sociais e tecnológicos, busca-se avaliar se o paciente possui acesso e habilidade para utilizar celular e a internet, sua participação em atividades sociais e se possui transporte próprio.
Para a anamnese e avaliação da saúde mental, buscamos entender o estado geral do paciente, suas condições mentais, estado de humor, qualidade do sono, entre outros aspectos relevantes. Além disso, quando necessário, é realizado exame físico e verificação de sinais vitais para complementar a avaliação.
Para encerrar, o guia também leva em conta a possível necessidade de dispositivos como cadeiras de rodas, cadeira de banho e andadores, além do uso de sondas ou outros equipamentos. Adicionalmente, são examinados os padrões alimentares do paciente e a utilização de medicamentos, incluindo sua forma de armazenamento e o conhecimento do paciente sobre os mesmos.
Resultados
A visita domiciliar é um elo vital na rede de cuidados de saúde primários, proporcionando uma oportunidade ímpar para os profissionais de saúde compreenderem integralmente as condições de saúde e doença dos indivíduos em seu ambiente familiar. Contudo, para potencializar essa prática, é essencial que seja conduzida de forma organizada e estruturada, enfatizando o uso de ferramentas que padronizam a assistência.
Após a introdução de um guia específico para visitas domiciliares, foram observadas melhorias significativas em diversos aspectos. Inicialmente, houve uma maior uniformidade nas visitas, assegurando que todos os pacientes recebessem um atendimento consistente. Além disso, a coleta de informações durante as visitas tornou-se mais eficiente, permitindo aos profissionais de saúde obterem dados relevantes de forma ágil e precisa.
Outro ponto crucial foi a gestão mais eficaz do tempo durante as visitas. O guia auxiliou os profissionais na priorização de tarefas e atividades, garantindo que o tempo fosse empregado de maneira produtiva e que todas as necessidades do paciente fossem atendidas de forma adequada.
Além disso, a qualidade das informações obtidas durante as visitas apresentou uma melhoria significativa. Isso resultou em uma compreensão mais abrangente da situação de saúde do paciente, capacitando os profissionais de saúde a oferecerem um cuidado mais personalizado e eficaz.
Por fim, a implementação do guia também promoveu uma melhoria na comunicação entre profissionais de saúde e pacientes, além de contribuir para uma tomada de decisão clínica mais informada. Esses avanços combinados culminaram em um serviço de maior qualidade, centrado no paciente e em sua totalidade como indivíduo.
Considerações finais
A criação de um material orientador se mostrou um facilitador na execução das visitas domiciliares, a fim de evitar que questões importantes de cada profissão fossem esquecidas, contribuindo plenamente na saúde dos indivíduos, bem como, para conhecimento do contexto em que esse usuário está inserido.