IMPLEMENTAÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO CONTEXTO DE UM HOSPITAL PÚBLICO DE ENSINO

  • Author
  • Leonardo Torres Vasconcelos
  • Co-authors
  • Rafeal Calvão Barbuto , Kênia Lara Silva , Aline Alves Roncalli , Ingrid Yamila Julian , Luiza do Carmo Costa , Cibele Rodrigues Lima Corrêa , Leandro Amorim Teixeira , Verônica Barcelos Lima Moreira de Paula
  • Abstract
  • Apresentação

    A Educação Permanente em Saúde, no contexto hospitalar, cumpre uma função relevante na consolidação da consciência crítica do cuidado e no desenvolvimento das competências profissionais. O cuidado humanizado, a partir de um trabalho colaborativo como estratégia da atuação multidisciplinar, é chave para o fortalecimento da integralidade na atenção à saúde. 

    Diante desse cenário, torna-se necessário o desenvolvimento de tecnologias educacionais que possam potencializar e  fortalecer as competências profissionais necessárias para o cuidado integral. Com esse intuito foi realizada uma pesquisa-intervenção com uma metodologia de problematização e reflexão acerca da prática multiprofissional na assistência hospitalar. A intervenção foi denominada Grupo Multiprofissional de Aprendizagem (GMA).

    O GMA é uma tecnologia educativa que possibilita colaboração interdisciplinar, intercâmbio de conhecimento, compreensão ampliada do cuidado, resolução de problemas complexos e melhorias na comunicação. Seus pilares se alinham aos princípios dos ensinamentos de Paulo Freire sobre a intencionalidade da ação pedagógica que enfatiza a importância de uma abordagem educacional consciente, crítica e voltada para a transformação da realidade social.

    Freire enfatizou a importância de uma abordagem educacional que vá além da transmissão de conhecimentos técnicos. No contexto da saúde, essa prática incentiva os profissionais a questionar as estruturas de poder e as desigualdades presentes no sistema e nas relações de saúde, bem como a buscar formas de promover uma assistência mais humanizada, participativa e solidária.

    A metodologia do GMA surgiu a partir de uma demanda do aprimoramento das relações multiprofissionais e, por conseguinte, das repercussões na qualidade da assistência. Tomou-se como finalidade a construção de uma tecnologia de Educação Permanente que permitisse fomentar a reflexão e a transformação sobre os processos de trabalho contribuindo para oferecer cuidado em saúde, com ênfase no trabalho colaborativo e na integralidade. 

     

    Desenvolvimento

    O GMA foi desenvolvido em um hospital público de grande porte de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que atende aproximadamente 1,1 milhão de pessoas apenas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e possui a missão de promover cuidado integral no âmbito da urgência, emergência e materno-infantil aos usuários e contribuir para a formação de pessoas e produção do conhecimento na área da saúde. A instituição conta com uma equipe de, aproximadamente, 2.400 trabalhadores, além de terceirizados, bolsistas, estagiários, residentes e acadêmicos. Seu modelo assistencial é baseado em linhas de cuidado, divididas em cuidado clínico, cirúrgico, intensivo e materno-infantil.

    A aplicação do GMA ocorreu por meio de encontros mensais, num período de 5 meses (agosto a dezembro de 2023), ofertados no horário de trabalho dos profissionais, com duração de 1h e 30 minutos. Os participantes foram profissionais representantes das categorias atuantes na clínica médica e foram divididos em dois grupos com aproximadamente 10 integrantes.

    Essa tecnologia é composta por: um caso traçador, construído a partir das experiências na assistência; seis encontros presenciais; seis vídeos e atividades aplicadas entre-encontros; avaliação da tecnologia no início, três e seis meses após a sua aplicação, cujo objetivo foi avaliar o impacto na atuação multiprofissional. 

    Os encontros foram conduzidos por um moderador e pela equipe de educação permanente em saúde (EPS) do Hospital, os quais tiveram como função a condução das fases da estrutura metodológica, a problematização dos tópicos abordados, a mediação de conflitos e a determinação da atividade a ser realizada até o encontro seguinte. 

    As reuniões foram divididas em três momentos: o aquecimento consistiu nos relatos das reflexões provocadas pelos vídeos encaminhados previamente e as discussões sobre as atividades propostas para realização entre-encontros. A problematização iniciava-se com uma dinâmica específica às temáticas e seu propósito era trazer o conceito principal a ser trabalhado com alusão ao caso traçador. Na conscientização, abria-se espaço para o livre diálogo dos participantes com o moderador e questionamentos, os quais provocaram as reflexões individuais e incentivo ao compartilhamento com o grupo.

    Foram realizados 6 encontros, sendo 1 de abertura, 4 temáticos e 1 de encerramento. Os encontros temáticos tiveram como conteúdo focal: 1) Reconhecimento dos aspectos dificultadores e facilitadores no processo de oferecimento do cuidado; 2) Acolhimento e escuta - fortalecimento do cuidado a partir da comunicação efetiva; 3) Concretização do trabalho colaborativo; 4) Trabalho Colaborativo e Cuidado em Saúde. Além disso, como estratégia para manutenção da reflexão, foram usados vídeos e atividades relacionados aos eixos temáticos. 

    A estrutura foi submetida à validação interna e externa. A validação externa contou com a participação de especialistas em EPS, de outras instituições de saúde, enquanto a validação interna foi realizada pela equipe estruturante do projeto, composta pela diretoria, lideranças de áreas estratégicas e setor de EPS do Hospital, de modo a permitir  ajustes da tecnologia às condições da assistência no contexto do cenário de pesquisa.

     

    Resultados

    Durante os grupos, foram promovidas reflexões sobre a importância do trabalho colaborativo, o que potencializou na prática o cuidado compartilhado e possibilitou a renovação das energias dos trabalhadores, os quais afirmaram que a horizontalização dos saberes durante os grupos foi importante para a construção realizada.

    A aplicação do GMA possibilitou que os trabalhadores tivessem um olhar mais ampliado sobre o paciente, o que promoveu maior interatividade e busca por mudanças que trouxessem melhorias na prática, uma vez que, por meio do fortalecimento da percepção da auto responsabilidade, os trabalhadores compreenderam que são sujeitos ativos dessas mudanças. 

    Após a realização dos encontros, os relato das equipes indicam uma mudança inicial que trouxe impactos positivos para o trabalho multiprofissional. Os participantes revelaram que possuem expectativas positivas com a reverberação dessa ação no cotidiano do setor após a finalização dos encontros.

    Os resultados revelaram desafios significativos enfrentados pelos profissionais da assistência, destacando persistente dificuldade no reconhecimento mútuo do exercício realizado, interferindo na concretização do trabalho colaborativo. Este obstáculo se manifesta em diferentes perspectivas sobre as construções individuais e coletivas da atuação profissional e a sua relação com o cuidado.

    Evidencia-se ainda a escassez de espaços e estratégias de comunicação. A alta demanda enfrentada pela instituição e discussões com maior foco no aspecto gerencial distanciam os profissionais da humanização do cuidado, tornando o fazer automatizado e baseado no cumprimento de ordens.

    Foi possível perceber durante a realização dos encontros uma mobilização do grupo para a criação de novos espaços de troca e manutenção daqueles já existentes. Entretanto, ainda é latente a necessidade de consolidação e fortalecimento desses ambientes a fim de promover a interação interprofissional, troca e participação equivalente para todos os profissionais como forma de estimular o trabalho colaborativo.

     

    Considerações Finais

    Em síntese, os resultados permitiram identificar insights valiosos sobre os desafios e oportunidades da EPS no ambiente hospitalar. Temas como o reconhecimento mútuo, comunicação eficaz e trabalho colaborativo centrado no paciente são possíveis de serem trabalhados com problematização e reflexão ativa.

     Reforça-se a necessidade de ressignificação e consolidação de espaços já existentes que promovam a interação interprofissional, troca e participação equivalente para todos os profissionais como forma de fortalecer e estimular o trabalho colaborativo. 

     

    Os resultados alcançados com a implementação da estratégia de EPS indicam um caminho promissor para aprimorar a qualidade da assistência à saúde, reconhecer e valorizar as contribuições de cada membro da equipe para o cuidado humanizado e centrado no paciente.

  • Keywords
  • Educação permanente em saúde, Grupo Multprofissional de Aprendizagem, trabalho colaborativo
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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